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Re: [Archport] Aluno preocupado.

To :   "Manuel Castro Nunes" <arteminvenite@gmail.com>, <archport@ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Archport] Aluno preocupado.
From :   "Paulo Monteiro" <pmonteiro@ntasa.pt>
Date :   Tue, 15 May 2012 22:14:02 +0100

Caro Manuel Nunes.

 

Numa opinião muito pessoal, um dos problemas, aqui, na FCSH, radica na não separação da Arqueologia da História (há um Departamento de História que reúne a História e a Arqueologia) o que nos leva a outro problema, muito bem identificado pelo VOJ no artigo que referi anteriormente:

 

“É evidente que o peso político de um saber se disputa dia a dia, em concorrência com outros saberes (...)  Os saberes são realidades históricas, resultam de compartimentações herdadas, sem nada de necessário ou ´natural’, e eternizam-se a maior parte das vezes como tais em resultado dos interesses dos seus detentores.

São carreiras, empregos e outras formas de organização da comunidade científica que estão em causa, implantadas no terreno, cada uma com as suas clientelas e com seu maior ou menor impacto social. São ´corredores´ por onde se pode ascender numa certa hierarquia, com as suas regras próprias.

Por isso, se declarmos que a Arqueologia não é, ou não deve ser, um domínio secundário ou marginal, mas uma forma própria de fazer história e de perspectivar a realidade humana, estamos a tomar uma importante posição no jogo político dos saberes, no âmbito das ciências sociais.

Estamos a admitir que ela é uma actividade aberta, porosa em relação a outras ´disciplinas´, e capaz de lhes disputar um papel de relevo no conjunto da cultura contemporânea”.

 

Um outro problema que entronca neste outro das clientelas (no verdadeiro sentido medieval do termo) académicas é o de estas serem chauvinistas e defenderem a todo o custo o seu território e  as suas capelinhas (reais, imaginadas, desejadas ou apercebidas), basicamente coarctando todo e qualquer outro projecto que decorra extra-muros. É, infelizmente, o efeito-eucalipto no seu pior.

 

Mas, agora que falo em clientelas,  eis uma ideia que me ocorre para um projecto a subsidiar pela FCT e que ofereço de graça antes que se apropriem dela sem dizer “água vai” como tem sido costume neste último ano e meio:  e que tal virar o microscópio e aplicar as técnicas prosopográficas da História na análise do nosso meio académico, esse ecosssistema onde sobrevivem os mais variados seres, ligados pelas mais variadas formas de comensalismo, sinfilia, simbiose, mutualismo e parasitismo? Saber quem lidera o quê, quem é aluno e mestre de quem, quem participa em que júris de doutoramento e de mestrado, quem concede bolsas de iniciação à investigação e a quem e sob que pressupostos, quem faz parte de quais juris de atribuição de prémios e de bolsas e a quem são eles atribuídos, quem participa e interparticipa em quantos projectos de quantas instituições, quem publica o quê e onde e porquê, quem convida quem para que cargos e com que autoridade e liberdade, e por aí fora. Os resultados seriam, no mínimo, interessantes.

 

 

Finalmente, tenho pena que  o decoro e a falta de familiariade com esta lista me impeçam de repetir uma frase que o nosso confrade  archportiano André Mano me disse - a bordo de um barco que seguia para as Berlengas, a caminho de um Workshop de Arqueologia Subaquática - e que resume excelentemente a arqueologia académica. Fica para um almoço bem regado. J

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

From: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] On Behalf Of Manuel Castro Nunes
Sent: 15 May 2012 18:24
To: archport@ci.uc.pt
Subject: [Archport] Aluno preocupado.

 

Ora, Alexandre Monteiro. Geralmente até estou de acordo consigo.

Mas deixe-me dizer-lhe que é sim, de fazer Gordon Childe revolver-se na tumba. Não estamos aqui a versar um tema que muito nos interessa e continua a andar por aí aos trambolhões, o da interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, ou que lhe quisermos chamar.

Estamos a falar em juris de provas académicas na área de Arqueologia, onde até seria interessante incluir um matemático ou um físico, como bem sabemos. Mas rerere-se a predominância, parece claro.

Seja, em trinta anos a Arqueologia não deu um passo em direcção à sua maioridade? Bem, eu, que sou geralmente referido como historiador, muito gostaria de questionar a Arqueologia a partir da sede da História. Assim não posso. A Arqueologia ainda não é Arqueologia.

É óbvio que a Arqueologia tem que ''dominar'' as matérias da epistemologia da história, da antropologia cultural, da sociologia, enfim... Mas do ponto de vista da Arqueologia, que é próprio.

Transferir reflexões de Anaz para Caifaz não dá. Sempre queria ver como os historiadores da modernidade aceitariam que para um juri de provas na sua área fossem nomeados predominantemente arqueólogos.

Mas a Arqueologia aceita tudo, porque é menor.

Um Abraço.

Manuel

 

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Manuel de Castro Nunes

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