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[Archport] Voluntariado q.b.

To :   <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Voluntariado q.b.
From :   João Silva <ijoaosilva@hotmail.com>
Date :   Mon, 28 May 2012 21:32:52 +0100

Boa tarde a todos.

Relativamente ao voluntariado pedagógico, quando devidamente enquadrado, não encontro nenhum problema à sua promoção. Pedagógico porque só deveriam admitir alunos do ultimo ano de arqueologia ou dos cursos técnicos da área, como forma de os prepararem para a actividade profissional. A Tutela deveria impedir tacitamente qualquer intervenção realizada com voluntários que não se enquadrassem nesta realidade. Mais, para cada 2 voluntários, deveria existir um arqueólogo devidamente identificado e com experiência mínima de dois anos  comprovado. 

Assim, tal como são publicitados o voluntariado, parece que a arqueologia é só tirar terra e fazer uns desenhos de vez em quando....mas não foi assim que eu aprendi, e a responsabilidade de destruir um sitio pela escavação, parece-me agora uma grande mentira académica.

Penso que muitos dos jovens que agarram essas oportunidades, fazem-no, porque os seus cursos não os preparam suficientemente para a realidade da área profissional.
Na verdade, poucos serão os jovens formados (ou quase) que compreendem verdadeiramente as implicações de seguir "carreira"(?) em  Arqueologia.

A arqueologia não é verdadeiramente uma actividade profissional (pelo menos para 90% dos que trabalham actualmente).

Afirmo-o, porque, caso fosse uma profissão, e considerando que não existem intervenções sistemáticas que garantam estabilidade financeira, profissional e familiar (sim, porque os profissionais de arqueologia tem o direito constitucional à família), os seus intervenientes teriam, obrigatoriamente, que receber um bom salário mensal (ou diário), de forma a que cada um pudesse trabalhar uma série de meses, na sua área de residência (digamos, até 100km) e, na eventualidade de não existirem intervenções, poderem zelar pelo seu bem estar e quiçá, descansar um pouco e talvez, na desportiva, publicar algo...porque trabalhar na área é duro e nenhum estatuto revela o desgaste da nossa "profissão". Não se escava quando, como e onde queremos.

Voltando aos voluntários, "essas amáveis criaturas de um planeta qualquer".

O grande problema do voluntariado, a meu ver, centra-se na questão fundamental de que, uma vez que os profissionais de arqueologia tentam, insistentemente, fazer uma vida, tendo por base os sacrifícios do labor da terra, viajando de norte a sul de portugal com a mochila às costas (ou na mala de uma carrinha toda velha) e, considerando que existem diversas universidades e escolas técnicas que promovem a "profissão", essas 20 ou 30 almas caridosas estão, de facto, a "roubar" postos de trabalho, que deveriam ser pagos (e como disse, bem pagos!), permitindo apaziguar a precariedade.

É que depois de pagares as propinas todas e terminares a formação, acabou-se o encanto com os alunos....a não ser que te queiras voluntariar;)

Por outro lado, quando esses voluntários tentarem e entrarem no mundo profissional, apercebem-se que os serviços que lhes são solicitados mediante o tal recibo verde, não correspondem, nem às expectativas criadas ao longo das suas formações, nem ao ritmo e metodologia suavemente apreendidas durante a formação e/ou no tal famoso voluntariado.

Vais tirar terra de picareta e receber "uma côdea a que chamam salário"...lá para o fim, mete-se a máquina (naqueles contextos que andas-te a escavar ao sol e à chuva, mais mais ao lado...) e registam-se os cortes! Boa, mais uma intervenção (quase) bem sucedida.

Assisto apreensivo ao presente da actividade arqueológica em Portugal.

As ditas empresas existem porque a tutela não soube proteger os profissionais de arqueologia e, consequentemente, o Património, que tão eloquentemente surge protegido em convenções internacionais e Decretos Lei meticulosamente publicados, mas vazios na prática.

Não me lembra de nenhuma referência a empresas no PATA (a não ser no local provisório de depósito do espólio).

Esta "guerra" empresarial capitalista, onde o preço mais baixo é que conta, vai levar à ruína o património, em primeiro lugar e, em segundo, os próprios profissionais da área que se forem minimamente espertos, abrem igualmente uma empresa. 

É que fazendo as contas, se eu e um amigo fizermos uma empresa, concorrer-mos a uma obra de 4 ou 5 meses e ganhar-mos o concurso, no final das contas, ganhamos mais dinheiro nesses 4 ou 5 meses do que em 12 meses a trabalhar para terceiros... "e esta hein?"


Cordiais comprimentos,

I. João Silva















   

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