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[Archport] Artigo: "Os Neandertais poderão ter sido os primeiros artistas das cavernas"

Subject :   [Archport] Artigo: "Os Neandertais poderão ter sido os primeiros artistas das cavernas"
From :   marioruisr@sapo.pt
Date :   Thu, 14 Jun 2012 20:14:43 +0100








Arqueólogo português João Zilhão faz parte da equipa
Os Neandertais poderão ter sido os primeiros artistas das cavernas

14.06.2012 - 19:11 Por Ana Gerschenfeld

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Umas destas imagens de mãos tem mais de 37 mil anos e pode ter sido a
de um Neandertal Umas destas imagens de mãos tem mais de 37 mil anos e
pode ter sido a de um Neandertal (Cortesia Pedro Saura)

    Há milhares e milhares de anos, numa gruta em Espanha, há um
homem de cócoras, virado para a parede, muito concentrado no que está
a fazer. Quem se aproxima pode vê-lo de costas, com uma mão apoiada na rocha, imerso numa ténue nuvem de pó vermelho. Está a pintar a sua mão
em negativo, soprando suavemente para cima dela um pigmento. O homem
sente uma presença e vira-se. E agora, aqui vai uma adivinha: é um
Homo sapiens ou um Neandertal?


Este é o enigma que tem agora pela frente uma equipa internacional de
cientistas, da qual faz parte o conhecido arqueólogo português João
Zilhão (actualmente a trabalhar na Universidade de Barcelona), cujos
mais recentes resultados de datação de uma série de pinturas
paleolíticas a publicar esta sexta-feira na revista Science, com
direito às honras da capa da prestigiada publicação É que as novas datações fazem recuar, em cerca de dez mil anos, a idade das mais
antigas pinturas das cavernas até agora conhecidas. E colocam, de
facto, a hipótese de que os artistas destas obras tenham pertencido a
esse outro tipo de humanos que conviveu com os homens modernos (nós)
na Europa até à sua extinção, há cerca de 28 mil anos: os Neandertais.

Os cientistas, liderados por Alistair Pike, da Universidade de
Bristol, no Reino Unido, utilizaram um método até aqui pouco explorado na arquelogia para datar 50 pinturas espalhadas por 11 grutas do Norte
de Espanha, entre as quais a famosa gruta de Altamira e mais duas --
as de El Castillo e Tito Bustillo --, que, tal como Altamira, são
Património Mundial da Humanidade.

Grãozinhos de calcite

Ao contrário da tradicional datação por radiocarbono, a técnica agora
utilizada não exige que as amostras analisadas contenham vestígios
orgânicos. Mede a desintegração radioactiva do urânio contido nas
minúsculas estalactites de calcite (carbonato de cálcio) que se foram
depositando por cima das pinturas ao longo de milénios. "Esta técnica, dita das séries do urânio em desequilíbrio", diz Pike em comunicado, "é muito utilizada nas ciências da Terra e permite contornar os
problemas do radiocarbono".

E como salienta no mesmo comunicado um outro elemento da equipa --
Dirk Hoffmann, da Universidade de Burgos --, "o avanço-chave é que o
nosso método torna possível a datação de amostras de apenas dez
miligramas, mais ou menos do tamanho de um grão de arroz, o que nos
permitiu analisar [os minúsculos] depósitos que cobrem as pinturas".

O que é que a idade da calcite permite dizer? Que a pintura que se
encontra debaixo do depósito é, no mínimo, tão antiga -- se não mais
-- do que esse depósito. Ora, acontece que, entre todas pinturas
analisadas, algumas revelaram ser vários milhares de anos mais antigas
do que qualquer outra pintura das cavernas alguma vez datada por
radiocarbono. Assim, a idade de um disco vermelho pintado na gruta de
El Castillo tem, segundo a nova técnica, 40.800 anos no mínimo, a de
uma marca de mão em negativo na mesma gruta pelo menos 37.300 anos --
e, na gruta de Altamira, no célebre grande painel policromado
representado no tecto (e pintado em grande parte há uns 15 mil anos),
há um símbolo "claviforme" (em forma de maço) que remonta a mais de
35.600 anos.

Duas hipóteses

A antiguidade destas pinturas vem "destronar" as da gruta Chauvet, no
Sul de França, estimada por radiocarbono 30 mil anos e recentemente
confirmada por métodos indirectos (ver "As pinturas da gruta Chauvet
são as mais antigas do mundo" no PÚBLICO de 08/05/2012).

Existem por enquanto dois cenários compatíveis com os resultados a
publicar esta sexta-feira: ou os homens modernos já pintavam quando,
há uns 41.500 anos, terão chegado à Europa (vindos de África) ou... os
Neandertais, que já cá viviam há mais de 300 mil anos, terão sido "os
primeiros artistas das cavernas", como disse Zilhão numa
teleconferência de imprensa organizada pela revista Science.

A se confirmar, este segundo cenário viraria do avesso a história
"oficial" da arte pré-histórica na Europa. "Acho que 42 mil anos é
actualmente o limite absoluto para além do qual não existem indícios significativos que possamos associar à presença de humanos modernos na Europa", salientou João Zilhão. "Não há nada, absolutamente nada,
antes disso. Portanto, se as imagens tiverem mais de 42 mil anos [o
que é possível, uma vez que a datação só fornece uma idade mínima],
isso implicaria neste momento que foram pintadas por Neandertais."


Fonte:
http://publico.pt/Ci%C3%AAncias/os-neandertais-poderao-ter-sido-os-primeiros-artistas-das-cavernas-1550349?all=1




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