Lista archport

Mensagem

[Archport] Artigo: "Dentes de um australopiteco revelam que roía cascas de árvores"

Subject :   [Archport] Artigo: "Dentes de um australopiteco revelam que roía cascas de árvores"
From :   marioruisr@sapo.pt
Date :   Fri, 29 Jun 2012 11:17:11 +0100







Paleantropologia
Dentes de um australopiteco revelam que roía cascas de árvores

29.06.2012 - 07:14 Por Nicolau Ferreira


O tártaro extraído dos dentes do Austrolopithecus sediba permitou
desvendar a sua dieta O tártaro extraído dos dentes do
Austrolopithecus sediba permitou desvendar a sua dieta (Paul
Sandberg/Universidade do Colorado)

    Afinal, o Austrolopithecus sediba comia casca de árvores e
madeira, uma dieta misteriosa que ainda não tinha sido encontrada em
nenhum outro antepassado do homem estudado até agora, revela um artigo
publicado na última edição da revista Nature.


O Austrolopithecus sediba é o australopiteco que se conhece há menos
tempo. Quando foi notícia em 2010, pela descoberta de dois fósseis
seus, ele ficou posicionado num ponto-chave da árvore da evolução
humana. Agora, a descoberta de que estes hominídeos tinham uma
alimentação semelhante à dos chimpanzés que hoje vivem nas florestas
provoca o espanto.

"O que me fascina é que estes indivíduos são casos estranhos", disse um dos autores do artigo, Matt Sponheimer, do Departamento de
Antropologia da Universidade do Colorado. "Estava bastante convencido
de que de há quatro milhões de anos para cá a família dos nossos
parentes hominídeos tinha uma dieta que diferente da dos grandes
símios [chimpanzés ou gorilas] que estão vivos, mas agora não tenho
tanta certeza."

Os dois fósseis de Austrolopithecus sediba foram encontrados em 2008
em Malapa, num sítio arqueológico a 40 quilómetros de Joanesburgo, na
África do Sul, rico em fósseis. Eram as ossadas de uma fêmea, que
teria entre os 20 e tal e os 30 e poucos anos, e de um jovem que
estaria entre os nove e os 13 anos.

Se eram mãe e filho e como é que caíram numa gruta não se sabe, pelo
menos por agora. O que se conhece é que estes dois indivíduos viveram
há quase dois milhões de anos. Passearam-se pela Terra muito depois de ter aparecido a primeira espécie de australopiteco conhecida, com 4,2
milhões de anos, e de Lucy, uma Austrolopithecus afarensis que viveu
há 3,2 milhões de anos.

A partir dos fósseis dos ossos dos dois indivíduos, os cientistas
analisaram as suas características anatómicas e concluíram que tinham
características de australopitecos, como cérebros e corpos pequenos,
braços longos e mãos fortes. Podiam trepar às árvores, mas tinham as
pernas longas, tal como o género Homo, indicando que seriam bípedes.
Além disso, tinham traços no crânio e nas ancas comuns ao género humano.

Por isso, eram uma espécie de quimera anatómica na evolução humana.
"Estes fósseis são um passo de gigante no conhecimento do nosso
género", disse Eugénia Cunha, antropóloga forense e especialista em
evolução humana da Universidade de Coimbra, ao PÚBLICO em 2010, quando
a descoberta da espécie foi anunciada. "São uma peça no puzzle que
preenche a passagem, muito mal conhecida, entre os australopitecos e
os primeiros Homo", referiu a especialista, que não esteve envolvida
nestas descobertas.

Dentes, para que vos quero

Agora, ficou a saber-se um pouco mais sobre a sua dieta. Utilizando
lasers, a equipa conseguiu analisar o carbono nos dentes e detectar o
tipo de alimentos que estes hominídeos mastigavam. Descobriram que o
Austrolopithecus sediba preferia arbustos e árvores, em vez de
gramíneas ou plantas herbáceas.

Depois, os investigadores estudaram o tártaro dos dentes dos fósseis,
para extrair e analisar os fitólitos - pedaços microscópicos de
sílica, excretados pelas plantas, diferentes para cada espécie e que
se podem acumular nos dentes. A análise dos fitólitos mostrou que
aqueles australopitecos alimentavam-se, além de folhas e frutos, de
madeiras de várias espécies de plantas.

Os cientistas concluíram que aquela região, há dois milhões de anos,
era um bosque e que aqueles hominídeos poderiam ter uma dieta parecida
com a dos chimpanzés de hoje, e diferente de qualquer outra espécie de australopiteco ou de Homo.

"A dieta é um dos aspectos fundamentais de um animal, que condiciona o
comportamento e o nicho ecológico", explica Paul Sandberg, co-autor do
estudo. "A informação dos fitólitos sugere que os indivíduos
Austrolopithecus sediba estavam a evitar as gramíneas que cresciam em
campo aberto", diz.

"A nossa amostra é demasiado pequena para ser conclusiva", defende por
sua vez Matt Sponheimer. Mas o sítio arqueológico de Malapa, ainda
muito pouco escavado, já provou que tem muitos fósseis para dar. "A
frequência com que Malapa está a cuspir fósseis de hominídeos faz com
que esteja razoavelmente certo de que não vamos precisar de mais dois
milhões de anos para aumentar a nossa informação."


Fonte:
http://publico.pt/Ci%C3%AAncias/dentes-de-um-australopiteco-revelam-que-roia-cascas-de-arvores-1552510?all=1






Mensagem anterior por data: [Archport] Newsletter DGPC Nº 3 Próxima mensagem por data: [Archport] BB da BA
Mensagem anterior por assunto: [Archport] ArqueoNews:Museu de Mação inauguraexposição para invisuais eexposição interactiva Próxima mensagem por assunto: [Archport] Artigo: "Os Neandertais poderão ter sido os primeiros artistas das cavernas"