O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, vem a Braga esta quinta-feira, dia 12, assinar o protocolo de colaboração entre a Presidência do Conselho de Ministros e a Universidade do Minho para a reconversão e requalificação do Complexo histórico-monumental do Largo do Paço. Esta infraestrutura alberga a Reitoria e os serviços centrais da academia, bem como o Arquivo Distrital de Braga e a Biblioteca Pública de Braga.
Após uma visita ao complexo, a sessão pública de assinatura do protocolo inicia pelas 16h30, no salão nobre da Reitoria. Vão intervir o diretor do Arquivo Distrital de Braga, António Sousa, o pró-reitor da UMinho para a Infraestrutura, Paulo Ramísio, o reitor António M. Cunha e o secretário de Estado, Francisco José Viegas.
O acordo visa a deslocalização do Arquivo Distrital de Braga para as instalações da UMinho na rua Abade da Loureira, no centro da cidade, a requalificação funcional das instalações da Biblioteca Pública de Braga, a remodelação estrutural do corpo medieval e do corpo moderno (ala nascente) do complexo, para aí albergar um projeto de intervenção cultural no domínio da promoção do livro e da leitura.
O Complexo do Largo do Paço, antiga casa dos arcebispos de Braga, é um edifício de interesse público e um ex-libris da cidade, tendo sido durante muito tempo o seu segundo principal imóvel, após a vizinha Sé Catedral.
A Doutora Mª do Carmo Ribeiro evidenciou que o antigo Paço Arquiepiscopal é um ex-libris de Braga e um testemunho claro do poder e da importância que os arcebispos possuíram na cidade, tendo sido durante muito tempo o segundo principal imóvel da urbe, após a Sé Catedral. Aliás, este imóvel de interesse público ocupa um lugar central, junto à Sé e ao edifício da Câmara Municipal. O livro de Maria do Carmo Ribeiro, com 40 páginas de narrativa clara e apelativa, faz parte da nova colecção “Sítios com História”, editada pela Reitoria da UMinho com o fim de divulgar aos cidadãos os locais históricos de Braga e Guimarães.
Os parcos documentos e vestígios ao dispor não permitiram saber a data de construção do Paço, embora a autora admita poder ter sido próximo do mandato do arcebispo D. Gonçalo Pereira (1326-48), cujo brasão foi achado na porta da torre medieval. “Até ao século XIV a residência do arcebispo e dos clérigos far-se-ia nos edificados anexos à Sé, que todavia deveriam ser bastante exíguos para albergar os Senhores e a sua corte”, refere a historiadora. O Paço Arquiepiscopal nasceu após o alargamento da muralha medieval de Braga para norte e terá sido feito como uma fortaleza, fechado por muros, por edifícios e com fachadas para o interior, como confirma o mapa de Braunio, de 1594.
O complexo foi alvo de sucessivas intervenções, acrescentos e funções. Tem hoje três corpos distintos: o medieval, a norte, voltado para o jardim de Santa Bárbara (século XIV); o moderno, a sul, com a fachada para o Largo do Paço e Rua do Souto (séculos XVI a XVIII); e o barroco, a poente, chamado Paço D. José de Bragança, virado para a Praça do Município (século XVIII). Os corpos medieval e barroco alojam o Arquivo Distrital e a Biblioteca Pública de Braga, unidades culturais da UMinho, enquanto no corpo moderno fica a Reitoria, aberta para o famoso chafariz dos Castelos, mandado edificar por D. Rodrigo de Moura Teles (1704-28).
Curiosamente, após a morte deste arcebispo o Paço ficou vago, devido a desavenças do rei D. João V com Roma. Seria reocupado por D. José de Bragança (1741-56), que protagonizou uma profunda reforma no palácio, ligando as alas, criando vários quartos, salas de comer e de audiência, oratório, vários corredores e escadas. Na ala poente mandou reformular a fachada e erigir na outra extremidade o edifício da Câmara Municipal; adquiriu ainda casas para familiares, tornando o Campo de Touros (hoje a Praça do Município) como “espaço pessoal”, contextualiza Maria do Carmo Ribeiro.
No liberalismo, D. Miguel e a família real fixaram-se no corpo barroco do Paço (1832-33), aproveitando o facto de o arcebispado estar sem sucessor desde 1827. Mais tarde, em 1866, o corpo barroco foi dizimado por um incêndio – só seria revitalizado em 1934, designadamente com acções de restauro e imitação, pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que instalou na maior parte do Paço o Arquivo Distrital e a Biblioteca Pública de Braga. O Museu D. Diogo de Sousa “morou” também em 1917-77 na ala este do espaço moderno. Este passou a pertencer parcialmente à UMinho em 1973, que três anos depois assumiria todo o complexo.
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