E em que é que "trabalhos de divulgação ou de beneficiação do património" feitos de forma gratuita (como aparentemente sugere, pois o tempo gasto nessa marcha não é pago a ninguém) beneficiaria aqueles que são afectados "pelo flagelo da precariedade e da instabilidade laboral", pelo "desemprego no sector"?
Como raio é que trabalhar de forma voluntária a troco de uma mão cheia de nada, iria ajudar "os trabalhadores de Arqueologia, tal como os restantes trabalhadores portugueses, se encontram numa situação cada vez mais insustentável e privada dos mais elementares direitos".
Eu não compreendo como se pode confundir uma coisa com a outra, mas faço-lhe a seguinte sugestão Alexandre:
Possivelmente, conhece alguns funcionários públicos que irão integrar o pacote dos tais milhares a quem não vão renovar o contrato. Possivelmente conhece (se não conhecer eu arranjo-lhe o contacto de uns quantos) alguns ou muitos trabalhadores da arqueologia, entre técnicos, arqueólogos, etc, que atravessam um momento muito complicado, sem trabalho, sem subsidios, sem as minimas condições para prosseguir a sua actividade, mas mais importante que tudo, que estão a viver à custa de pais, irmãos, amigos, trabalhos esporádicos, etc, e não vêm um futuro nada risonho pela frente.
Lanço-lhe um desafio caro Alexandre, eu apelo-lhes a que gastem um dia do seu tempo a manifestarem-se!
Você diz-lhes directamente para que de forma voluntária e gratuitamente gastem uma boa parte do seu tempo "em trabalhos de divulgação ou de beneficiação do Património". Exactamente o mesmo tipo de trabalhos para que eles estão habilitados, para os quais investiram os seus estudos, a partir dos quais tencionavam construir uma vida estável, e para os quais já foram pagos.
Depois colocamos aqui as respostas que obtivemos...
Que tal acha da ideia? Isto pode ser chato e mesmo confragedor.
Fazemos antes assim: imagine que é despedido, tem 25, 30, 35, 40 anos, tem uma renda para pagar, ou vive em casa dos pais. Os pais não são ricos, não podem ajudar, ou mesmo podendo, isso vai contra a sua dignidade. Tem filhos, ou só um cão, um gato, um peixe, o que for. Não tem poupanças nenhumas porque nunca recebeu nada de jeito. Não herdou nenhuma fortuna. Não recebe nenhum subsidio. Anda já há uns meses à procura de trabalho, um em que lhe paguem pelo que faz, não interessa o quê, e não encontra nada. Há uma manifestação para chamar a atenção para a situação em que você, e outros como você se encontra...
Depois aperece um génio, um iluminado, que afinal tem a solução para todos os seus problemas e diz-lhe:
"Vais a uma manifestação? Não tens mais nada que fazer? E que tal se continuasses a fazer o que fazias antes, mesmo que não te paguem para isso?"
Não sei o que o caro Alexandre responderia a essa mente brilhante. Aquilo que eu diria a esse "génio" não o vou reproduzir aqui, por respeito, educação, e sobretudo para não baixar ainda mais o nível a que esta mailinglist muitas vezes chega.
Contudo, acredito que o Alexandre seja capaz de imaginar o conteúdo de tal resposta, e digo-lhe já que não era um discurso nem cordial, nem construtivo... Faça uso da sua imaginação!
PS: não faço nem pretendo fazer parte de qualquer estrutura sindical. Simplesmente revolta-me que alguém sugira que a solução para os problemas com que nos deparamos actualmente, seja a simples resignação. As manifestações não serão sozinhas a solução, é verdade, mas ajudam a que se perceba a dimensão dos problemas, e a que as pessoas se mobilizem. Agora trabalhar de borla, não obrigado. Não tenho pais ricos, e não reconheço a ninguém o direito de dizer que a arqueologia é apenas para quem tem capacidade finaceira para a exercer.
André Freitas
Arqueólogo
Citando Alexandre <no.arame@gmail.com>:
Não teria mais impacto usar-se o tempo gasto nessa marcha em trabalhos de divulgação ou de beneficiação do Património?
Enviado do meu HTC
De: Grupo pró sindicato Arqueologia <gtsindicato@gmail.com>
Enviado: quinta-feira, 4 de Outubro de 2012 18:02
Para: archport@ci.uc.pt
Assunto: [Archport] Comunicado GTPS - Marcha contra o Desemprego
No seguimento da reunião do GTPS no passado dia 2 de Outubro, vimos por este meio divulgar o seguinte comunicado:
"Caros Colegas,
- Considerando que o sector da Arqueologia é fortemente marcado pelo flagelo da precariedade e da instabilidade laboral;
- Considerando que o desemprego no sector é um fenómeno em amplo crescimento, nomeadamente em virtude da paragem de vários projectos e obras nacionais, mas também do sub-financiamento das instituições ligadas à Arqueologia;
- Considerando que os trabalhadores de Arqueologia, tal como os restantes trabalhadores portugueses, se encontram numa situação cada vez mais insustentável e privada dos mais elementares direitos; ... "
O comunicado pode ser lido na integra aqui.
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