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[Archport] Público e Privado

To :   "archport" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Público e Privado
From :   José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>
Date :   Thu, 18 Oct 2012 18:40:02 +0100

Title: FW: [Archport] Público e Privado

            Peço desculpa por só agora me ter sido possível dar seguimento a esta solicitação

 

                                                           J. d’E.

 


De: Vítor Oliveira Jorge [mailto:vitor.oliveirajorge@gmail.com]
Enviada em: quarta-feira, 17 de Outubro de 2012 10:27
Para: José d'Encarnação
Assunto: FW: [Archport] Público e Privado

 

Caro Zé
Podes por favor publicar isto na Archport?
Se não puder ir o anexo, corta sff o post scriptum e o dito anexo.
Obrigado.
Um abraço
Vítor

------ Forwarded Message
From: Vítor Oliveira Jorge <vitor.oliveirajorge@gmail.com>
Date: Wed, 17 Oct 2012 09:32:52 +0100
To: <archport@ci.uc.pt>
Cc: <antoniovalera@era-arqueologia.pt>
Subject: Re: [Archport] Público e Privado

Bom dia
Como sabemos, o debate público/privado é tão antigo quanto pelo menos os gregos na nossa cultura ocidental.
O que se passa porém neste momento a nível nacional, europeu, e mundial, é um fenómeno muito peculiar da história, que certamente terá diversas interpretações de acordo com a opção político/ideológica de cada um, expressa ou tácita. É um problema de filosofia política, em última análise, obviamente.
Parece porém ser geral a opinião (a impressão, para não dizer a aflição) de que estamos num momento particularmente inquietante e grave no sentido de que a crise do capitalismo que atravessamos não é exactamente como outras. O sistema capitalista, implantado há séculos no Ocidente, e hoje globalizado, alimenta-se precisamente da inquietude e crise, vivendo sobretudo do lucro no curto prazo. Mas enquanto no chamado Estado social (ou Estado-providência, para que ainda aponta a Constituição), e que era a face optimista/humanitária do sistema (a oposta foram os fascismos) se prometia a redistribuição de uma parcela desse lucro através do Estado, em bens e serviços aos cidadãos, acontece que agora a finança internacional parasitou o sistema e, para superar a crise a favor do lucro (de poucos), está a condenar à pobreza e à miséria a maioria dos cidadãos e dos bens/serviços que lhes foram prometidos. Apresenta-se como credora, ditando as regras do jogo e condicionando os governos como muito bem quer, ainda por cima sob o aspecto de virtuosos adiantamentos de capital a juros por ela mesma determinados. Mas foi tal finança que levou à criação (subjectiva e objectiva) da situação caótica que, se levada ao extremo, a ela própria a médio prazo a ameaça.  Evidentemente que o problema que se põe, de carácter apocalíptico diria, é saber como poderá um tal sistema existir, numa forma altamente sofistiscada e tecnológica de dominação, condenando o ser humano a “homo sacer”, no sentido que lhe dá G. Agamben, inspirado no direito romano (ver o livro “Estado de Excepção”, publicado pelas Ed. 70). Na verdade, quando já não houver senão uns poucos consumidores (nome actual dos cidadãos), nem trabalho/empregos para a maior parte, e o sistema de segurança social colapsar (hoje um jornal diz que será em 2020) mas apenas eventualmente tecnologia altamente sofisticada, gostaria de ver a que tipo de filme de ficção científica os então ainda sobreviventes assistirão.
Nesta situação inédita na história, que nos coube viver, o património cultural e em particular a arqueologia com que sonhámos (qualquer que fosse o lugar/modo como tentámos e tentamos pô-la em prática) são (quase) invisíveis.
Um bom dia na medida do possível!
Vítor Oliveira Jorge
PS - Como faço poucas intervenções aqui, e talvez venha a propósito, junto convite da AAP para a intervenção que vou lá fazer em breve, na secção de Pré-história.
--
Professor catedrático aposentado da Faculdade de Letras da UP





On 12/10/16 23:15, "antoniovalera@era-arqueologia.pt" <antoniovalera@era-arqueologia.pt> wrote:

Há hoje, em Portugal (ou anda por cá há muito, mas hoje ganha maior relevo), uma perigosa dicotomia em crescendo: o público vs privado. As virtudes estão num lado ou noutro, segundo a perspectiva, frequentemente interessada (como são, naturalmente, todas as perspectivas). No dia de hoje, o confronto voltou à cultura e ao património.

Confesso-me cansado com este pelejar. Como se não houvesse no público incompetência e abuso (quantos no público não se comportam com o que está à sua guarda como se fosse para uso e benefício privado, seu?); como se no privado não houvesse incompetência e má fé egoísta; como se no público não houvesse dedicação e entrega séria à causa pública; como se no privado não existisse seriedade e contribuição decisiva para o que de bom fazemos em benefício da nossa vida social. Enfim, como se quem entra para a função pública fosse tocado por uma varinha mágica que o transforma num fiel intérprete do bem comum, paladino contra os interesses egoístas dos que não partilham o público privilégio; como se quem se dedica ao serviço do Estado não seja competente e deligente na defesa do difuso bem comum.

Incompetência, má fé, abusos, egoísmos, ética e falta dela, são características de pessoas, não da área (pública ou privada) onde estão presentes.

Será que teremos que continuar eternamente no balancear entre estes pólos que, de um lado e do outro destas barricadas que só servem aos respectivos instalados, se vão guerreando com farpas a que falta o poder de uma argumentação séria (aquela que também assume a autocrítica)?

Como escreveu Rentes de Carvalho, e diria alguém que eu conheço, "Cada critério é fatalmente sujeito a erros. Cada crítica facilmente contraditável."

A situação requere maturidade, empenhamento e uma capacidade crítica para separar o trigo do joio e ambos estão por todo o lado. Centremo-nos pois no trigo e no joio e não tanto no "lado".


António Carlos Valera
Direcção do Núcleo de Investigação Arqueológica - NIA
ERA Arqueologia SA.
Cç. de Santa Catarina, 9C,
1495-705 Cruz Quebrada - Dafundo
antoniovalera@era-arqueologia.pt
www.era-arqueologia.pt <www.era-arqueologia.pt>


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