[Archport] Público e Privado
Há hoje, em Portugal
(ou anda por cá há muito, mas hoje ganha maior relevo), uma perigosa dicotomia
em crescendo: o público vs privado. As virtudes estão num lado ou noutro,
segundo a perspectiva, frequentemente interessada (como são, naturalmente,
todas as perspectivas). No dia de hoje, o confronto voltou à cultura e
ao património.
Confesso-me cansado com este pelejar. Como se não houvesse no público incompetência
e abuso (quantos no público não se comportam com o que está à sua guarda
como se fosse para uso e benefício privado, seu?); como se no privado não
houvesse incompetência e má fé egoísta; como se no público não houvesse
dedicação e entrega séria à causa pública; como se no privado não existisse
seriedade e contribuição decisiva para o que de bom fazemos em benefício
da nossa vida social. Enfim, como se quem entra para a função pública fosse
tocado por uma varinha mágica que o transforma num fiel intérprete do bem
comum, paladino contra os interesses egoístas dos que não partilham o público
privilégio; como se quem se dedica ao serviço do Estado não seja competente
e deligente na defesa do difuso bem comum.
Incompetência, má fé, abusos, egoísmos, ética
e falta dela, são características de pessoas, não da área (pública ou privada)
onde estão presentes.
Será que teremos que continuar eternamente no balancear entre estes pólos
que, de um lado e do outro destas barricadas que só servem aos respectivos
instalados, se vão guerreando com farpas a que falta o poder de uma argumentação
séria (aquela que também assume a autocrítica)?
Como escreveu Rentes de Carvalho, e diria
alguém que eu conheço, "Cada critério é fatalmente sujeito a erros.
Cada crítica facilmente contraditável."
A situação requere maturidade, empenhamento
e uma capacidade crítica para separar o trigo do joio e ambos estão por
todo o lado. Centremo-nos pois no trigo e no joio e não tanto no "lado".
António Carlos Valera
Direcção do Núcleo de Investigação Arqueológica - NIA
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