Bom dia,
Ora aqui está um escrito lúcido sobre este assunto.
António Tavares
De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de antoniovalera@era-arqueologia.pt
Enviada: terça-feira, 16 de Outubro de 2012 23:15
Para: archport@ci.uc.pt
Assunto: [Archport] Público e Privado
Há hoje, em Portugal (ou anda por cá há muito, mas hoje ganha maior relevo), uma perigosa dicotomia em crescendo: o público vs privado. As virtudes estão num lado ou noutro, segundo a perspectiva, frequentemente interessada (como são, naturalmente, todas as perspectivas). No dia de hoje, o confronto voltou à cultura e ao património.
Confesso-me cansado com este pelejar. Como se não houvesse no público incompetência e abuso (quantos no público não se comportam com o que está à sua guarda como se fosse para uso e benefício privado, seu?); como se no privado não houvesse incompetência e má fé egoísta; como se no público não houvesse dedicação e entrega séria à causa pública; como se no privado não existisse seriedade e contribuição decisiva para o que de bom fazemos em benefício da nossa vida social. Enfim, como se quem entra para a função pública fosse tocado por uma varinha mágica que o transforma num fiel intérprete do bem comum, paladino contra os interesses egoístas dos que não partilham o público privilégio; como se quem se dedica ao serviço do Estado não seja competente e deligente na defesa do difuso bem comum.
Incompetência, má fé, abusos, egoísmos, ética e falta dela, são características de pessoas, não da área (pública ou privada) onde estão presentes.
Será que teremos que continuar eternamente no balancear entre estes pólos que, de um lado e do outro destas barricadas que só servem aos respectivos instalados, se vão guerreando com farpas a que falta o poder de uma argumentação séria (aquela que também assume a autocrítica)?
Como escreveu Rentes de Carvalho, e diria alguém que eu conheço, "Cada critério é fatalmente sujeito a erros. Cada crítica facilmente contraditável."
A situação requere maturidade, empenhamento e uma capacidade crítica para separar o trigo do joio e ambos estão por todo o lado. Centremo-nos pois no trigo e no joio e não tanto no "lado".
António Carlos Valera
Direcção do Núcleo de Investigação Arqueológica - NIA
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