Sinopse:
Martins Sarmento é uma das figuras proeminentes da vida cultural e científica da segunda metade do século XIX. Nascido em Guimarães no seio de uma família abastada, após estudos de Direito em Coimbra, enveredou pelo estudo da Etnografia e da Arqueologia. Imensamente culto, fez da busca das origens do povo português a razão de ser da sua vida. A sua fortuna pessoal permitiu-lhe adquirir diversos montes na região de Entre Douro e Minho onde encontrou vestígios da cultura castreja. Ganhou reputação internacional com as suas escavações na Citânia de Briteiros, as quais documentou abundantemente através da Fotografia. Com ele, Guimarães, o berço da nacionalidade, passou a ser também o centro da pré e proto - História de Portugal. O seu legado vive no presente e projeta-se no futuro.
Filmar o que existe e o que não existe
A minha relação com o documentário é problemática. Ao cabo de tantos anos a trabalhar sobre este cinema do real continuo sem ter respostas fechadas sobre o que quer que seja. De ciência certa sei apenas que cada filme é um filme, o que, evidentemente, é uma banalidade e, portanto, também não é ciência alguma. Logo, nada sei. O que quer dizer que fui acumulando experiência de muito fazer tentando compreender as razões pelas quais faço o que faço na antecipada certeza – a única – de que novos desafios se perfilam em cada novo projecto e, nesse contexto, que outros, porventura, inesperados caminhos me serão sugeridos pelo rumo dos meus passos num percurso de tentativa e erro. Foi também o que aconteceu com este Martins Sarmento, cuja descoberta me reconciliou momentaneamente com a contingência de ser português em tempos de crise, quem sabe se na ante câmara de tempos de cólera, esperemos que não.
Filmar Martins Sarmento é filmar o que existe e o que não existe ou existe apenas como tempo e memória. Passado, presente e futuro. As ruínas e os seus mistérios persistem, do seu arqueólogo sobram o legado, os testemunhos dos seus contemporâneos, a lenda e respectivas narrativas em torno de uma personagem cujo mito a transcende. O exemplo de escavar ruínas em busca do tempo perdido das origens de um povo sem outro proveito que não o saber, o conhecimento e um acutilante sentido prospectivo do passado é algo cuja modernidade serve exemplarmente os tempos conturbados que vivemos. E o mesmo se poderia dizer do exemplo de absoluto desprendimento do protagonista desta história.
Por tentativa e erro – há quem lhe chame método, mas não quero ir por aí – tanto usei dispositivos deliberadamente teatrais quanto artifícios recorrentes na entrevista e no jornalismo, tanto explorei o contraste musical quanto as virtualidades da imagem fixa em contraponto à imagem em movimento, tanto efabulei por conta própria quanto me servi de citações e colagens de textos. Gosto de trabalhar em cinema num quadro de referências transversal. Foi isso o que tentei fazer. E só pude fazê-lo com o indispensável talento e dedicação de quantos comigo colaboraram. Agora, que cada um faça do filme o uso e juízo que bem entender.
Jorge Campos
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=0fKEGOJyHZE
Teaser: http://www.youtube.com/watch?v=tDO3jqS_6Yc
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