Re: [Archport] Seminário "Comunicação e Arqueologia" - esclarecimento
Caro Dr. Francisco Faure
Agradeço a sua resposta para este forum,
em nome da APA, à crítica que aqui tinha deixado. E. se me permite, gostaria
de o continuar a questionar, agora de um modo mais sereno, depois dos momentos
de impaciência de que, por questões de personalidade, por vezes padeço.
O seu esclarecimento é dirigido apenas
à questão do local da reunião. Refere a articulação com o Município de
Oliveira de Azeméis como uma mais valia. Não posso estar mais de
acordo. Trabalhei durante 20 anos com um pequeno município de que muita
gente nunca ouviu falar, tendo tido sempre o seu apoio para o desenvolvimento
de investigação que a ambos beneficiou. Sei bem a importância de uma ligação
local do trabalho arqueológico e seus resultados. Aliás, já critiquei
a "arqueologia empresarial" por, precisamente, não atender à
necessidade de acarinhar essas relações. Mas diria que o último parágrafo
da sua resposta é pouco feliz, pois parece colocar a APA ao serviço de
um município em concreto. Nada me move contra esse município, apenas me
parece que outros poderão perguntar, e com razão, "porque não nós?",
para além do facto de continuar a pensar que essa centralidade, que poderá
levar mais arqueólogos a conhecer Oliveira de Azeméis, conduzirá menos
arqueólogos às realizações da APA se elas previlegiarem essa localização.
Em suma, deveria existir um esforço para promover as várias iniciativas
por outros pontos do país, com critério e estratégia (para a afirmação
da associação e do seu programa de desenvolvimento da arqueologia e não
simplesmente ao sabor de certas circunstâncias). Mas, conceda-se, a APA
está a enraizar a arqueologia em Oliveira de Azeméis.
Porém, esta nota não era, seguramente,
aquela a que maior importância atribuia na minha crítica. Na realidade,
aquilo que mais me preocupa na actuação da associação era expresso na pergunta
se não haveria nada mais importante para fazer no momento do que promover
este seminário (dado que não conheço outras iniciativas anunciadas em passado
ou futuro recentes).
Referi, no meu comentário, que o assunto
escolhido me merecia a minha melhor concordância, pois o considero essencial
para a sobrevivência da actividade arqueológica e do ensino e profissão
associados. Como já sublinhei repetidas vezes, a Arqueologia, como qualquer
actividade, está totalmente dependente da sua valorização social e esta
está ligada à capacidade da Arqueologia saber comunicar e construir
o seu reconhecimento e relevância social.
Mas repito. Face ao evoluir da situação
profissional da Arqueologia nos últimos anos, a actuação da APA tem sido
caracterizada, no mínimo, por uma sistemática ausência de voz e actuação,
ausência que se torna ensurdecedora quando comparada com o historial da
associação, por um lado, e com o tipo de iniciativas que toma, por outro.
É que por mais meritório e importante que o tema proposto seja, o seu contraste
com os problemas (profissionais) permentes é gritante, soretudo porque
não há outras iniciativas que estejam a lidar com eles. Ou seja, não é
o seminario que irá ser realizado que está mal, é o que não está a ser
feito que faz parecer mal esta iniciativa.
E o que é que deveria estar a ser feito?
Bom, imagino que muitas opiniões poderiam ser aqui ouvidas e muitas orientações
sugeridas. Aqui ficam algumas que me ocorrem no momento:
- Estabelecer contactos com as associações
e estudantes universitários de arqueologia para os esclarecer sobre as
saídas e problemas profissionais que vão enfrentar. Estimular o seu relacionamento
com quem está nomercado de trabalho numa fase preparatório que facilite
a sua integração posterior, contribuindo para evitar percepções desajustadas
das realidades existentes.
- Aprofundar o censo da actividade arqueológica
que direções anteriores APA iniciaram, mas que nunca chegou a ser cabalmente
concretizado por razões várias. Quantos profissionais há, onde trabalham,
que problemas têm, são diagnósticos necessários para poder pensar as medidas
a adoptar para resolver problemas. Estamos há anos a pensar com base em
palpites, percepções pessoais. Não há dados concretos, fiáveis que fundamentem
estratégias adequadas de intervenção.
- Procurar aproximar a actividade profissional
do sector da formação. As iniciativas já promovidas tiveram pouco sucesso,
o que a qualquer desprevenido poderá parecer incompreensível. Mas esse
é um campo onde a Associação poderia desenvolver um trabalho de mediação
importante para resolver e remover entraves que não beneficiam a actividade
profissional e a disciplina, assumindo uma postura de independência e procurando
estabelecer relações em pé de igualdade.
- Procurar conhecer os problemas que
existem, ouvindo os diversos intervenientes, nos procedimentos administrativos
da actividade arqueológica.
- Promover um observatório das boas
práticas na actividade arqueológica de na salvaguarda e valorização do
património arqueológico.
- Pensar as áreas de intercepção disciplinar
e os problemas que se geram aí ao nível das responsabilidades profissionais.
- Questionar a qualidade e profundidade
dos trabalhos de avaliação de impacte e respectiva minimição, ao nível
metodológico, de financiamento, de exigência e controlo da tutela, do cumprimento
de objectivos estabelecidos pela normativo vigente.
- Questionar as condições de trabalho,
tanto ao nível da segurança, como dos recursos para executar convenientemente
as tarefas requeridas pelas boas práticas disciplinares.
- Promover acções de formação, não de
forma isolada, mas em parceria com os demais agentes (académicos, empresariais,
profissionais,, etc.)
- Promover a a presença regular da actividade
arqueológica nos media.
Enfim, não me vou alongar, pois muitas
mais iniciativas poderiam ser aqui sugeridas.
Poderão dizer-me, mas fazer isso tudo
é praticamente impossível num regime de voluntariado, que é o da associação.
Pois bem, a última sugestão é a de que
a direcção deveria trabalhar afincadamente no sentido de criar condições
de alguma profissionalização na associação. Só com gente profissional
e dedicada a tempo inteiro poderão muitas destas questões, centrais para
o desenvolvimento da Arqueologia Portuguesa, se abordadas. Mas para isso
a APA tem que crescer em sócios. motivados para colaborar e contribuir
(coisa que, como já referi, eu não me tenho sentido). Mas isto só acontecerá
se os profissionais sentirem que vale a pena aderirem. É pois um problema
circular, mas cuja resolução só pode surgir de uma direção empenhada, criativa,
altamente dedicada (nesta fase quase que diria absolutamente "vidrada")
e com uma capacidade de sedussão que consiga congregar os muitos profissionais
angustiados, desmotivados, cansados, frustrados e que lutam pela sobrevivência
(seja nas universidades, autarquias ou nas empresas) . É uma APA destas
que a arqueologia portuguesa neste momento precisa. Não daquela que actualmente
temos.
Mas esta é apenas a minha opinião.
PS - Acuso a gentileza de terem omitido
na vossa resposta o facto de eu ter quotas em atraso. Eu, porém, não me
esqueço dele. Causa-me desconforto. Pois se sei que não cumprindo deveres
me diminuo nos direitos, também me custa contribuir para aquilo que não
concordo. Poderia optar por um papel mais activo no interior da associação,
mas a isso não me sinto motivado. Nisto perco autoridade na crítica. Mas
também sei que não é perciso ser sócio de uma associação para poder sobre
ela ter opinião.
Cordiais saudações,
António Carlos Valera
Direcção do Núcleo de Investigação Arqueológica - NIA
ERA Arqueologia SA.
Cç. de Santa Catarina, 9C,
1495-705 Cruz Quebrada - Dafundo
antoniovalera@era-arqueologia.pt
www.era-arqueologia.pt
APA - Vice-presidente <vice-presidente@aparqueologos.org>
Sent by: archport-bounces@ci.uc.pt
21-11-2012 21:43
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| archport@ci.uc.pt
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cc
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Subject
| [Archport] Seminário "Comunicação
e Arqueologia" - esclarecimento |
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Não sendo hábito da Direcção da Associação Profissional
de Arqueólogos responder a determinado tipo de reptos, pois considera-se
que é em sede própria que eles devem ser discutidos, um comentário recente
do Sr. Doutor António Carlos Valera aqui no Archport, semelhante a outros
noutros forums, merece a nossa especial atenção e obriga a alguns esclarecimentos.
Desde 2008 que a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis tem levado a cabo,
em conjunto com a APA, encontros sobre arqueologia. Dá-se, actualmente,
a coincidência de o técnico daquela autarquia responsável pela realização
desses encontros ser, também, o Presidente da Direcção da APA. Porque não
oneram em nada a Associação, porque são temáticas, como bem refere o Sr.
Doutor António Valera, do interesse dos arqueólogos e porque interessa
à APA manter essa proximidade com as autarquias, não vê a presente direcção
qualquer interesse em deixar de colaborar com a Câmara Municipal de Oliveira
de Azeméis. Trata-se, portanto, de uma colaboração que já vem da anterior
direcção e à qual, esperamos, se deverá dar continuidade com direcções
futuras caso se mantenha o comum interesse das duas partes na conjugação
de esforços para a realização destes encontros.
A APA não tem centralizado, por seu turno, as suas acções em nenhum lugar.
A título de exemplo, para o corrente ano e como é do conhecimento geral,
a APA promoveu um curso sobre Numismática em Conímbriga e um curso dedicado
a Sistemas de Informação Geográfica no Porto. Não realizou, contudo, algumas
acções programadas para Lisboa, nomeadamente as enquadradas na parceria
estabelecida com a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, já que
se aceitou a sugestão dada pelos formadores da Faculdade de Letras de fazer
transitar essas acções para o próximo ano.
O facto de os encontros de Oliveira de Azeméis serem falados, ainda que
de forma crítica, só pode encher de regozijo a Direcção da APA. Até 2008,
poucos arqueólogos tinham motivos para falar de Oliveira de Azeméis. De
então para cá, anualmente, várias dezenas de arqueólogos se deslocam um
ou dois dias a Oliveira de Azeméis para discutir temas prementes da arqueologia
portuguesa. Trata-se, do nosso ponto de vista, de uma forma de apoiar o
desenvolvimento local através da arqueologia. Se a arqueologia deve ser,
também, motor de desenvolvimento, só pode a Direcção da APA ficar contente
com o sucesso que estes encontros, organizados em conjunto com a Autarquia,
têm tido.
Pela Direcção, o Vice-Presidente
Francisco Faure
--
Francisco G. C. Líbano Monteiro Faure
Vice-Presidente
Associação Profissional de Arqueólogos
Rua do Comércio do Porto 36-38
4050-209 Porto
Portugal
Telef: 919008504
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