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Re: [Archport] Seminário "Comunicação e Arqueologia" - esclarecimento

Subject :   Re: [Archport] Seminário "Comunicação e Arqueologia" - esclarecimento
Date :   Thu, 22 Nov 2012 00:05:34 +0000

Caro Dr. Francisco Faure

Agradeço a sua resposta para este forum, em nome da APA, à crítica que aqui tinha deixado. E. se me permite, gostaria de o continuar a questionar, agora de um modo mais sereno, depois dos momentos de impaciência de que, por questões de personalidade, por vezes padeço.

O seu esclarecimento é dirigido apenas à questão do local da reunião. Refere a articulação com o Município de Oliveira de Azeméis  como uma mais valia. Não posso estar mais de acordo. Trabalhei durante 20 anos com um pequeno município de que muita gente nunca ouviu falar, tendo tido sempre o seu apoio para o desenvolvimento de investigação que a ambos beneficiou. Sei bem a importância de uma ligação local do trabalho  arqueológico e seus resultados. Aliás, já critiquei a "arqueologia empresarial" por, precisamente, não atender à necessidade de acarinhar essas relações. Mas diria que o último parágrafo da sua resposta é pouco feliz, pois parece colocar a APA ao serviço de um município em concreto. Nada me move contra esse município, apenas me parece que outros poderão perguntar, e com razão, "porque não nós?", para além do facto de continuar a pensar que essa centralidade, que poderá levar mais arqueólogos a conhecer Oliveira de Azeméis, conduzirá menos arqueólogos às realizações da APA se elas previlegiarem essa localização. Em suma, deveria existir um esforço para promover as várias iniciativas por outros pontos do país, com critério e estratégia (para a afirmação da associação e do seu programa de desenvolvimento da arqueologia e não simplesmente ao sabor de certas circunstâncias). Mas, conceda-se, a APA está a enraizar a arqueologia em Oliveira de Azeméis.

Porém, esta nota não era, seguramente, aquela a que maior importância atribuia na minha crítica. Na realidade, aquilo que mais me preocupa na actuação da associação era expresso na pergunta se não haveria nada mais importante para fazer no momento do que promover este seminário (dado que não conheço outras iniciativas anunciadas em passado ou futuro recentes).

Referi, no meu comentário, que o assunto escolhido me merecia a minha melhor concordância, pois o considero essencial para a sobrevivência da actividade arqueológica e do ensino e profissão associados. Como já sublinhei repetidas vezes, a Arqueologia, como qualquer actividade, está totalmente dependente da sua valorização social e esta está ligada à capacidade da Arqueologia  saber comunicar e construir o seu reconhecimento e relevância social.

Mas repito. Face ao evoluir da situação profissional da Arqueologia nos últimos anos, a actuação da APA tem sido caracterizada, no mínimo, por uma sistemática ausência de voz e actuação, ausência que se torna ensurdecedora quando comparada com o historial da associação, por um lado, e com o tipo de iniciativas que toma, por outro. É que por mais meritório e importante que o tema proposto seja, o seu contraste com os problemas (profissionais) permentes é gritante, soretudo porque não há outras iniciativas que estejam a lidar com eles. Ou seja, não é o seminario que irá ser realizado que está mal, é o que não está a ser feito que faz parecer mal esta iniciativa.

E o que é que deveria estar a ser feito? Bom, imagino que muitas opiniões poderiam ser aqui ouvidas e muitas orientações sugeridas. Aqui ficam algumas que me ocorrem no momento:

- Estabelecer contactos com as associações e estudantes universitários de arqueologia para os esclarecer sobre as saídas e problemas profissionais que vão enfrentar. Estimular o seu relacionamento com quem está nomercado de trabalho numa fase preparatório que facilite a sua integração posterior, contribuindo para evitar percepções desajustadas das realidades existentes.

- Aprofundar o censo da actividade arqueológica que direções anteriores APA iniciaram, mas que nunca chegou a ser cabalmente concretizado por razões várias. Quantos profissionais há, onde trabalham, que problemas têm, são diagnósticos necessários para poder pensar as medidas a adoptar para resolver problemas. Estamos há anos a pensar com base em palpites, percepções pessoais. Não há dados concretos, fiáveis que fundamentem estratégias adequadas de intervenção.

- Procurar aproximar a actividade profissional do sector da formação. As iniciativas já promovidas tiveram pouco sucesso, o que a qualquer desprevenido poderá parecer incompreensível. Mas esse é um campo onde a Associação poderia desenvolver um trabalho de mediação importante para resolver e remover entraves que não beneficiam a actividade profissional e a disciplina, assumindo uma postura de independência e procurando estabelecer relações em pé de igualdade.

- Procurar conhecer os problemas que existem, ouvindo os diversos intervenientes, nos procedimentos administrativos da actividade arqueológica.

- Promover um observatório das boas práticas na actividade arqueológica de na salvaguarda e valorização do património arqueológico.

- Pensar as áreas de intercepção disciplinar e os problemas que se geram aí ao nível das responsabilidades profissionais.

- Questionar a qualidade e profundidade dos trabalhos de avaliação de impacte e respectiva minimição, ao nível metodológico, de financiamento, de exigência e controlo da tutela, do cumprimento de objectivos estabelecidos pela normativo vigente.

- Questionar as condições de trabalho, tanto ao nível da segurança, como dos recursos para executar convenientemente as tarefas requeridas pelas boas práticas disciplinares.

- Promover acções de formação, não de forma isolada, mas em parceria com os demais agentes (académicos, empresariais, profissionais,, etc.)

- Promover a a presença regular da actividade arqueológica nos media.

Enfim, não me vou alongar, pois muitas mais iniciativas poderiam ser aqui sugeridas.

Poderão dizer-me, mas fazer isso tudo é praticamente impossível num regime de voluntariado, que é o da associação.
Pois bem, a última sugestão é a de que a direcção deveria trabalhar afincadamente no sentido de criar condições de alguma profissionalização  na associação. Só com gente profissional e dedicada a tempo inteiro poderão muitas destas questões, centrais para o desenvolvimento da Arqueologia Portuguesa, se abordadas. Mas para isso a APA tem que crescer em sócios. motivados para colaborar e contribuir (coisa que, como já referi, eu não me tenho sentido). Mas isto só acontecerá se os profissionais sentirem que vale a pena aderirem. É pois um problema circular, mas cuja resolução só pode surgir de uma direção empenhada, criativa, altamente dedicada (nesta fase quase que diria absolutamente "vidrada") e com uma capacidade de sedussão que consiga congregar os muitos profissionais angustiados, desmotivados, cansados, frustrados e que lutam pela sobrevivência (seja nas universidades, autarquias ou nas empresas) . É uma APA destas que a arqueologia portuguesa neste momento precisa. Não daquela que actualmente temos.

Mas esta é apenas a minha opinião.

PS - Acuso a gentileza de terem omitido na vossa resposta o facto de eu ter quotas em atraso. Eu, porém, não me esqueço dele. Causa-me desconforto. Pois se sei que não cumprindo deveres me diminuo nos direitos, também me custa contribuir para aquilo que não concordo. Poderia optar por um papel mais activo no interior da associação, mas a isso não me sinto motivado. Nisto perco autoridade na crítica. Mas também sei que não é perciso ser sócio de uma associação para poder sobre ela ter opinião.

Cordiais saudações,

António Carlos Valera
Direcção do Núcleo de Investigação Arqueológica - NIA
ERA Arqueologia SA.
Cç. de Santa Catarina, 9C,
1495-705 Cruz Quebrada - Dafundo
antoniovalera@era-arqueologia.pt
www.era-arqueologia.pt


APA - Vice-presidente <vice-presidente@aparqueologos.org>
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21-11-2012 21:43

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[Archport] Seminário "Comunicação e Arqueologia" - esclarecimento





Não sendo hábito da Direcção da Associação Profissional de Arqueólogos responder a determinado tipo de reptos, pois considera-se que é em sede própria que eles devem ser discutidos, um comentário recente do Sr. Doutor António Carlos Valera aqui no Archport, semelhante a outros noutros forums, merece a nossa especial atenção e obriga a alguns esclarecimentos.

Desde 2008 que a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis tem levado a cabo, em conjunto com a APA, encontros sobre arqueologia. Dá-se, actualmente, a coincidência de o técnico daquela autarquia responsável pela realização desses encontros ser, também, o Presidente da Direcção da APA. Porque não oneram em nada a Associação, porque são temáticas, como bem refere o Sr. Doutor António Valera, do interesse dos arqueólogos e porque interessa à APA manter essa proximidade com as autarquias, não vê a presente direcção qualquer interesse em deixar de colaborar com a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis. Trata-se, portanto, de uma colaboração que já vem da anterior direcção e à qual, esperamos, se deverá dar continuidade com direcções futuras caso se mantenha o comum interesse das duas partes na conjugação de esforços para a realização destes encontros.

A APA não tem centralizado, por seu turno, as suas acções em nenhum lugar. A título de exemplo, para o corrente ano e como é do conhecimento geral, a APA promoveu um curso sobre Numismática em Conímbriga e um curso dedicado a Sistemas de Informação Geográfica no Porto. Não realizou, contudo, algumas acções programadas para Lisboa, nomeadamente as enquadradas na parceria estabelecida com a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, já que se aceitou a sugestão dada pelos formadores da Faculdade de Letras de fazer transitar essas acções para o próximo ano.

O facto de os encontros de Oliveira de Azeméis serem falados, ainda que de forma crítica, só pode encher de regozijo a Direcção da APA. Até 2008, poucos arqueólogos tinham motivos para falar de Oliveira de Azeméis. De então para cá, anualmente, várias dezenas de arqueólogos se deslocam um ou dois dias a Oliveira de Azeméis para discutir temas prementes da arqueologia portuguesa. Trata-se, do nosso ponto de vista, de uma forma de apoiar o desenvolvimento local através da arqueologia. Se a arqueologia deve ser, também, motor de desenvolvimento, só pode a Direcção da APA ficar contente com o sucesso que estes encontros, organizados em conjunto com a Autarquia, têm tido.


Pela Direcção, o Vice-Presidente

Francisco Faure

--

Francisco G. C. Líbano Monteiro Faure
Vice-Presidente
Associação Profissional de Arqueólogos
Rua do Comércio do Porto 36-38
4050-209 Porto
Portugal
Telef: 919008504
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