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[Archport] O Museu da Comunidade Concelhia da Batalha, a formação da sua colecção e o "Portugal Romano"

To :   "archport" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] O Museu da Comunidade Concelhia da Batalha, a formação da sua colecção e o "Portugal Romano"
From :   José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>
Date :   Mon, 7 Jan 2013 01:00:16 -0000

A revista online “Portugal Romano” publicou ontem em http://www.portugalromano.com/2013/01/a-nova-peca-do-acervo-do-museu-da-comunidade-concelhia-da-batalha / um texto de António José de Menezes Teixeira acerca de uma peça muito interessante, um larnax de calcário que mostra numa das faces menores um personagem segurando uma tocha (virada para baixo).

Da peça diz-se ser proveniente do Ribatejo, feita em calcário da Serra de Aires e Candeeiros, e poder datar-se do séc. I d.C.

As considerações que passo a tecer baseiam-se no meu conhecimento da peça em questão e do Museu da Batalha em geral, na minha qualidade de Director do Museu de Conimbriga, que estabeleceu com a Câmara Municipal da Batalha um protocolo para o restauro de algumas peças do acervo e que prestou, já depois do período de vigência deste, serviços de conservação e restauro à Câmara, nomeadamente desta peça.

Quanto à cronologia não tenho nada a dizer - não sei, nem sei como se sabe.

Quanto à iconografia, julgo saber que Cautes e Cautopates são os portadores de tochas que assistem à tauroctonia de Mitra, um com a tocha virada para cima, outro com a tocha virada para baixo, significando a vida e a morte, respectivamente. Um personagem segurando uma tocha virada para baixo foi por isso naturalmente como uma representação da morte (como no sarcófago do Valado).

Este morto, tanto quanto se pode perceber, não é um romano vestindo uma toga, é um grego vestindo um himation (como na estatueta do Rio Douro).

O que me traz à questão essencial da proveniência da peça e do material de que ela é feito. Que dados de análises geológicas tem o autor do texto para afirmar que o calcário provém das Serras de Aires e Candeeiros?

Eu só conheço os calcários portugueses de olhar para eles, mas arrisco-me a dizer: i) a pedra da urna não é calcário, é arenito; ii) não há pedra desta na Serra de Aires, nem – tanto quanto sei - no território português (talvez no Algarve!?).

Estas questões não se me poriam com tanta acuidade se eu não tivesse tido a oportunidade de ver no Museu da Comunidade Concelhia da Batalha, expostas como sendo provenientes de Ourique (sic), urnas funerárias que são com toda a probabilidade provenientes da área celtibérica, com outras peças que podem ser elementos de mobiliário funerário associado. E foi-me dito que estas peças proviriam do mercado de antiguidades.

De onde pergunto, creio que com alguma legitimidade: Quais são os dados que indicam que esta peça provém do Ribatejo?

Pergunto mais, com o respeito devido ao autor do texto e ao Museu, e com a perfeita consciência da dificuldade de dar uma resposta, porque também já, como arqueólogo, estudei peças de colecções particulares: Esta peça não vem do Mediterrâneo Oriental, através do mercado de antiguidades? (Peter Watson e Cecilia Todeschini: “A conspiração Medici”; Lisboa, Quidnovi, 2006).

E pergunto, como cidadão: porque não se pôs o mesmo empenho que se pôs à volta desta peça, em garantir que o depósito, no Museu da Comunidade Concelhia da Batalha, da cabeça de Minerva proveniente de Collipo (Corpus Signorum Imperii Romani, Portugal, nº 133), que foi tratada em Conimbriga ao abrigo do protocolo que antes mencionei, fosse feito a título definitivo e não meramente temporário?

E uma última observação, de carácter geral, não especificamente a propósito desta questão: O “Portugal Romano” tem de ter mais cuidado com o que publica.

Virgílio Hipólito Correia

(Museu Monográfico de Conimbriga)

 


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