Re: [Archport] Assembleia da República - Contributo sobre o Acordo
Gostaria de expressar a minha total concordância com a mensagem de JDE.
E quase total concordância com a mensagem de RCA, com uma excepção - considero o chamado Acordo Ortográfico empobrecedor desnecessário, e inoportuno.
Mas realço a preocupação de RCA com os outros aspectos de defesa da língua, que refere no ponto 3, e que são até mais importantes do que a ortografia. Lembro por exemplo que a paridade da nossa língua na EU tem sido esquecida e desrespeitada, e é difícil nos sites da EU encontrar páginas em Português e poder navegar até à informação pretendida sempre na nossa língua. Basta procurar por carreiras europeias ( http://europa.eu/epso/apply/how_apply/index_pt.htm ) intérpretes ou linguística ( http://blogs.ec.europa.eu/eu-careers.info/tag/interpreters/) para rapidamente nos desiludirmos...
A existência de variantes do português é enriquecedora para a evolução da língua, mas que desrespeitar a língua original destrói a base de referência e é criadora de enorme confusão.
Desejo sinceramente que a comissão parlamentar agora criada desenvolva tranquilamente os seus trabalhos e venha a concluir pela revisão do actual "acordo", actualizando o que deve ser actualizado, harmonizando o que pode ser harmonizado, mas respeitando o uso comum e as variantes regionais e os princípios gramaticais sem cedências a oportunismos políticos e económicos conjunturais. Acho contudo o prazo demasiado curto para que a discussão seja aberta, participada, fundamentada e amadurecida.
Cumprimentos,
VMB
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-----Mensagem original-----
De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de Ricardo Charters d'Azevedo
Enviada: domingo, 10 de Fevereiro de 2013 00:24
Para: archport@ci.uc.pt; histport@ml.ci.uc.pt
Cc: museum@ci.uc.pt
Assunto: Re: [Archport] Assembleia da República - Contributo sobre o Acordo
Importância: Alta
No Público de Hoje um artigo do Jorge Miranda:
1. A par das liberdades culturais (arts. 37.°, 38.°, 42.° e 43.°) e dos direitos de acesso aos bens de cultura (arts. 73.° e segs.), pode falar-se, na nossa Constituição, de direitos à identidade cultural, desdobrados em três categorias:
- o direito à identidade cultural como componente ou expressão ■ do direito à identidade pessoal ou, mesmo, do direito ao desenvolvimento da personalidade (art. 26°, n.° 1), pois a pertença a um povo com uma identidade cultural comum [art. 78°, n.° 2, alínea c)] faz parte também da individualidade de cada pessoa; -o direito de uso da língua, sabendo-se como a língua materna, por seu turno, é o primeiro ou um dos primeiros elementos distintivos da identidade cultural; -o direito de defender, mesmo em tribunal, o património cultural [art. 52.°, n.° 3, alínea d)].
2 .0 relevo particularíssimo da língua resulta não só de o português ser declarado língua oficial (art. 11.°, n.° 3), mas também de constituir uma das "tarefas fundamentais" do Estado "assegurar o ensino e a valorização permanentes, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa [art. 9°, alínea./)].
3. Serão, porém, cumpridas as obrigações constitucionais e respeitado o direito à identidade linguística dos cidadãos portugueses? A pergunta, infelizmente, justifica-se porque:
- Se tem admitido o registo de nascimento com nomes próprios não portugueses;
- Se espalham denominações de sociedades e cartazes publicitários em língua estrangeira;
- Se admitem primeiras denominações de escolas universitárias em língua estrangeira (até contra o disposto no art. 10.°, n.° 1 do Regime Geral das Instituições de Ensino Superior);
- Se impõe outra língua a alunos portugueses, em violação do seu direito fundamental à língua, em aulas ministradas por professores portugueses em escolas universitárias portuguesas (coisa diferente, claro está, será o caso de aulas dadas por professores estrangeiros);
- Muitas vezes, não se incentivam os
alunos do programa Erasmus a aprender português, quando este programa, pelo contrário, visa a interculturalidade e não a uniformização linguística;
- Se observa o uso em público de línguas estrangeiras por titulares de órgãos de soberania nessa qualidade;
- Os sucessivos memorandos de entendimento com o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu não têm tradução oficial e não têm sido publicados no Diário da República;
- Se verifica a degradação do português como língua de trabalho na União Europeia.
Apenas um provincianismo antipatriótico e uma prática de subserviência pode explicar estes e outros factos, esquecendo-se que a língua é quase o único domínio de independência que hoje nos resta, que é língua oficial de mais sete Estados e que é falada por mais de 200 milhões de pessoas em todos os continentes.
4, O Acordo Ortográfico tem sido fortemente criticado por muitos especialistas e não especialistas da língua como atentatório do português.
Não vou discutir o assunto, até porque não sou especialista, embora não esconda a minha preferência por ele na medida em que possa contribuir para a afirmação internacional da língua portuguesa (que é uma só, apesar das variantes portuguesa, brasileira, africanas e asiáticas - não estamos numa situação semelhante à do latim aquando das invasões bárbaras).
Mas gostaria que aqueles que estão tão preocupados com a nova ortografia oficial, boa ou má, se manifestassem ainda mais inquietos com os problemas que acabo de lembrar.
Cumprimentos
RCA
Message:
Date: Sat, 9 Feb 2013 00:00:47 -0000
From: José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>
Subject: [Archport] Assembleia da República - Contributo sobre o Acordo Ortográfico
Sou contra o Acordo Ortográfico, nomeadamente porque não vejo nenhuma vantagem nele; se no meu computador, quando quero escolher o idioma alemão tenho de escolher o da Alemanha, ou o da Áustria, da Suíça, do Luxemburgo ou do Liechtenstein… por que razão o nosso Português (que por enquanto só aparece o de Portugal e o do Brasil) há-de ser menos que os outros (pois com o Francês e o Inglês também aparece uma catrefada de opções!...)?
A criação deste grupo de trabalho no seio da Assembleia da República (a ser verdade…) constitui boa oportunidade de nos manifestarmos.
Vamos a isso!
J. d’E.
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Exmo. (a) Senhor (a)
Of. nº 84/8ª-CECC/2013
07.fevereiro.2013
A Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura, na sequência da aprovação de um requerimento do PCP, deliberou por unanimidade constituir um <http://www.parlamento.pt/sites/COM/XIILEG/8CECC/GTAAAO/Paginas/Composicao.a
spx> Grupo de Trabalho para Acompanhamento da Aplicação do Acordo
Ortográfico, de que fazem parte deputados dos vários Grupos Parlamentares, o qual está a ouvir várias entidades sobre esta matéria e a receber contributos escritos em relação à mesma.
Nesta sequência, tendo em vista recolher variadas posições para reflexão, solicita-se que, caso entenda adequado, remeta um contributo sobre a mesma, até ao final do dia 28 de fevereiro.
Para uniformização da estrutura dos contributos e maior eficácia na sua apreciação, solicita-se que, se possível, seja utilizada a sequência constante abaixo:
1. Enquadramento da matéria
2. Objetivos do Acordo Ortográfico
3. Vantagens decorrentes da aplicação do Acordo Ortográfico
4. Inconvenientes e problemas resultantes da aplicação do Acordo Ortográfico
5. Proposta que apresenta
6. Outras questões
Aproveito para informar que no site oficial da Assembleia da República foi aberto <http://app.parlamento.pt/forum/pub/IntervencoesDebate.aspx?ID=69>
um fórum de debate sobre a temática em apreço.
Com a expressão dos meus melhores cumprimentos, O Presidente da Comissão (José Ribeiro e Castro)
Ana Maria Souza Barriga
Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura Telef 21.391.94.72
<mailto:ana.barriga@ar.parlamento.pt>
ana.barriga@ar.parlamento.pt
Visite o site da Comissão de Educação, Ciência e Cultura <http://www.parlamento.pt/sites/com/XIILeg/8CECC/Paginas/default.aspx> na Internet