Boa noite,
Peço desculpa por os estar a maçar, ultimamente tenho estado com
algumas inquietações no que diz respeito à forma como fazemos ou devemos fazer
Arqueologia… é uma conversa chata, e se calhar ingénua, bem
sei.
Sucede o seguinte: aqui no Chile, onde estou a fazer investigação
sobre cultura material, ando meio estagnado nos conceitos teóricos, neste país
a Arqueologia é mais Antropologia que outra coisa (demasiado Binford para o
meu gosto); por conseguinte o pensamento arqueológico segue um pouco os
modelos anglo-saxões (mais processuais que pós-processuais). Aqui
são muito críticos em relação à História (às vezes mais por temas políticos
que propriamente metodológicos). E de facto, se temos em conta a mais recente
literatura sobre cultura material, estamos cada vez mais distantes. Não quero
com isto dizer que não são compatíveis, apenas que provavelmente tem fins e
métodos diferentes.
Seguindo, mais ou menos, as palavras de Foucault na sua “Arqueologia
do conhecimento”: a História procura a verdade através de documentos escritos, tenta construir uma
narrativa contínua do desenvolvimento dos modos de pensar, por outro lado, a
Arqueologia interessa-se pelo particular e pela ruptura temporal. Não busca
descobrir o que é que as pessoas, deste ou daquele tempo, estariam a pensar ou
a escrever no passado, mas sim os mecanismos que as permitem falar e ser
tomadas em sério. Mais que uma disciplina do passado como é a História (ou
não?), será a Arqueologia uma disciplina mediadora entre o passado e o
presente? E como tal, temos de partir de uma base teórico-filosófica
diferente?
Queria então perguntar aos colegas lusos qual é vossa opinião sobre o
tema, uma vez que em Portugal continuamos a ser formados nas universidades,
como se calhar na maior parte da Europa continental, por uma estratégia de
investigação com base no modelo da História das Ideias – sei que em Espanha o
tema tem sido discutido, tanto pela Almudena Hernando como pelo Alfredo
González-Ruibal, por exemplo.
Desconheço se o tema tem sido discutido no nosso país (sei que o Vítor
Jorge, tem feito observações sobre o tema), mas entre o meu tempo em Espanha e
no Chile, já lá vão seis anos (com passagens curtas por Portugal), e aqui é
mais difícil acompanhar os debates e até mesmo ler alguma literatura nacional,
numa altura em que, segundo me contam, há cada vez menos revista activas que
publiquem textos sobre Arqueologia.
Provavelmente não têm muita paciência para esta temática, tendo em
conta que em Portugal, nesta fase, devido à situação política e financeira, há
pouco tempo para pensar. Não obstante, estou realmente interessado em ler
opiniões sobre o tema, até porque me ajudarão bastante no debate com os
colegas chilenos.
Atento e agradecido dos vossos comentários.
Obrigado.
Um abraço
PS: Não sei se a archport é o espaço para este tipo de debates, como
tal aceito a decisão de publicação ao critério dos seus
responsáveis.
Gonçalo de Carvalho Amaro