Caro António
Quando redigi tal statement com o meu colega Henrique Matias, tivemos plena consciência do papel da empresa para a qual trabalha (como tão oportunamente referiu) no âmbito da divulgação dos resultados obtidos com intervenções de emergência. Nunca tive dúvidas a este respeito, e isso ficou bem patente em finais da semana passada, como já vinha sendo afirmado durante um ciclo que conta, neste ano, com o seu 11º episódio (e, curiosamente, enquanto estou escrevendo isto, estou vendo o Alexandre Sarrazola no Portugal em Directo). Com efeito, e sem pudor de o admitir, lembro como há cerca de 10 anos atrás esperava com entusiasmo a edição do número mais recente da revista Era - Arqueologia, que teve como sequência natural a edição online do periódico do NIA.
Obviamente que temos em conta esse facto. No entanto, tem de concordar comigo que a empresa para a qual trabalha é apenas uma gota (ou duas ou três, não interessa) num oceano extenso por vezes insondável. O que quisemos sugerir com a reactivação da Informação Arqueológica foi, precisamente, uma disponibilização imediata de informação para os nossos pares - seja resultados de intervenções de emergência, seja resultado de trabalhos, digamos, académicos...
A disponibilização online de relatórios é, sem dúvida, um objecto de trabalho de mais valia - estando estes, seja como for, sempre disponíveis no arquivo do (penso eu) ex-IGESPAR. O que denfendemos é uma fonte literária mais imediata, na medida em que se informe toda a comunidade científica do que foi feito nesse ano (no caso de uma publicação anual, obviamente), porque (e penso que há-de concordar comigo) muito se perde do que é feito actualmente, em termos de divulgação científica... Não querendo entrar em Arqueologias classicistas, obviamente... Porque, para mim, Arqueologia é sempre Arqueologia - independentemente nos domínios em que seja feita...
Cordialmente
Marco António Andrade
Marco António Andrade
Ph.D Student
UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
Alameda da Universidade, 1600-214 Lisboa
Citando antoniovalera@era-arqueologia.pt:
A questão da não divulgação de trabalho realizados por empresas é, como deveria de ser conhecimento de todos, uma situação não universal, embora esteja em crer que generalizada. O que penso sobre o assunto não preciso de o dizer. Basta olhar ao que, no âmbito da empresa em que trabalho, tenho realizado (eu e outros que nela trabalham): publicação regular, edição de publicações, participação em congressos, organização de congressos, actividades múltiplas de divulgação pública, recurso permanente a redes sociais, fornecimento de materiais e informação para realização de provas académicas de mestrado e doutoramento.
Neste contexto, a re-edição de uma Informação Arqueológica online faz para mim todo o sentido e o seu formato digital não se justifica apenas pela situação económica geral, mas sim pela potencialidade que tem de chegar a mais público e de forma mais rápida. Penso que esta solução é bem melhor e menos problemática que a disponibilização de relatórios, a qual me parece ser eticamente reprovável se não for bem regulamentada.
Explico.
Um relatório, feito por exigência legal e com prazos estabelecidos, não pode ser tratado como uma publicação normal. A informção que está nele contida, e que em muitos casos está a ser trabalhada em âmbito de trabalhos académicos ou de investigação programada, não deverá ser livremente utilizada antes de publicada pelos respectivos autores, sob pena de estes verem a seu trabalho original prejudicado. Será que é legítimo eu utilizar numa publicação minha os dados de datações, ou informação contextual ou outra que obtive na consulta de relatórios, e que estão a ser tratados pelos respectivos autores no âmbito de trabalhos que estão a preparar, sem autorização expressa dos mesmos? Certamente que não. Ir por aqui é abrir caminho a situações de grande conflito, como já ocorreram no passado.
Mas sabemos que muita gente e muita instituição escava/escavou e não publica/publicou: empresas, profissionais liberais, universitários, funcionários da tutela. Para que o justo não pague pelo pecador e para que o pecador não fique sem pagar, a disponibilização de relatórios deveria ser bem regulamentada, com prazos estabelecidos que dessem um tempo aceitável para a efectiva publicação antes da divulgação sem autorização expressa dos autores. Lembro que hoje a publicação original é um factor decisivo na avaliação curricular e que relatórios ainda não dão os pontos que artigos originais em publicações de referência dão. Trata-se de respeitar os direitos de autoria de quem quer, efectivamente, ser autor de algo mais que um relatório.
Os relatórios não são publicação e o próprio Regulamento dos Trabalhos Arqueológicos assim o assume. Por isso o assunto tem que ser tratado com cuidado e espero que o esteja a ser. Digo eu, que sou dos que publica com mais regularidade.
António Carlos Valera
Direcção do Núcleo de Investigação Arqueológica - NIA
ERA Arqueologia SA.
Cç. de Santa Catarina, 9C,
1495-705 Cruz Quebrada - Dafundo
antoniovalera@era-arqueologia.pt
www.era-arqueologia.pt
"Henrique Matias" <henrique_matias@hotmail.com>
Sent by: archport-bounces@ci.uc.pt
22-02-2013 15:16
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To
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<archport@ci.uc.pt> |
cc
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Subject
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[Archport] Informações Arqueológica |
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Ex.mos Senhores
Face ao volume de intervenções arqueológicas verificadas em Portugal ao longo de mais de uma década (nos tempos pós-Alqueva), essencialmente propulsionadas pelas intervenções de salvaguarda a cargo das Empresas de Arqueologia que floresceram após esse projecto de grande envergadura, não olvidando os estudos associados a projectos de investigação académicos suportados por financiamentos públicos, torna-se pertinente uma síntese periódica das mesmas, segundo o espírito das extintas Informações Arqueológicas (publicadas entre 1977 e 1994). Englobam-se estas duas vertentes no mesmo conjunto, porque se entende por Arqueologia não só como a escavação propriamente dita, mas também o conhecimento decorrente dos projectos de investigação, associados ou não a estas intervenções de emergência, e a sua disponibilização à comunidade científica.
Não avançando com um projecto deste tipo, corre-se o risco de que mesmo salvaguardando sítios e contextos arqueológicos da sua destruição efectiva, através do registo (segundo os ditâmes legais), essa informação fique limitada, ou quase inacessível, à comunidade arqueológica. Pretende-se então que, face aos meios informáticos universais que existem hoje em dia, a compilação destas Informações Arqueológicas fossem disponibilizadas em formato digital e acessíveis online, sendo a DGPC a entidade mais competente para a sua publicação.
Sabe-se que se encontra em curso o processo de disponibilização online dos relatórios de escavação, juntamente com a informação disponível na base de dados Endovelico. No entanto, consideramos que uma disponibilização imediata da informação compilada, digamos anualmente, a respeito de todos os trabalhos arqueológicos realizados é complementar com estes veículos de informação.
Queremos com isto dizer que, na óptica de uma legítima vontade de acesso a informação coligida, a reactivação das já mencionadas Informações Arqueológicas se entende como um meio de partilha imediata de informação entre pares, entendendo-a como um meio essencial para o desenvolvimento da Arqueologia enquanto Ciência.
Neste contexto, e tendo em conta o âmbito económico-social em que actualmente nos encontramos, a sua edição online revela-se como a mais apropriada (sendo, pois e como referido, a DGPC o orgão mais capaz para materizalizar este intento), sendo os seus custos naturalmente reduzidos. Aproveitamos então o ensejo para abordar os nossos pares a respeito da pertinência deste projecto, tendo em conta que informação não divulgada é encarada, cientificamente, como informação inexistente.
Cordialmente
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Henrique Matias
Bolseiro de Investigação
UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
Alameda da Universidade, 1600-214 Lisboa
tel: +351 969822673
http://www.uniarq.net/henrique-matias-cv.html
http://lisboa.academia.edu/henriquematias
Marco António Andrade
UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
Alameda da Universidade, 1600-214 Lisboa
tel: +351 969822673
http://www.uniarq.net/marco-andrade-cv.html
http://lisboa.academia.edu/MarcoAntónioAndrade
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