Também
eu quero participar neste debate. Com o devido respeito (mesmo), discordo
da ressurreição da Informação Arqueológica, considerando esta proposta
?fora de moda? e muito pouco interessante.
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A edição on line não é gratuita,
nem tão pouco é barata. Como é sabido, parte considerável dos custos de
edição decorrem da sua maquetagem ou composição gráfica. Se pensarmos que
anualmente possam ocorrer 1500 intervenções (o valor rondou os 2000 em
2009), os respectivos ?artigos? com 250 palavras (dimensão indicada no
RTA) e 1 imagem alcançariam uma dimensão considerável para uma edição
anual. O valor que a DGPC despenderia num investimento desta natureza,
poderia, por exemplo inviabilizar de vez a subsistência da RTA, que a tão
duras penas tem resistido? E, repito é inviável. Só quem não conhece os
constrangimentos e funcionamento de um organismo público nos dias de hoje
(e amanhã) pode crer que tal seria possível. Não há dinheiro, nem
dinâmica.
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Por outro lado uma edição desta
natureza (estática e tão sintética) pouco ou nada acrescentaria em termos
de informação científica disponível, e teria a desvantagem de contar como
?publicação?.
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Porque, o actual quadro jurídico
obriga à publicação e impõe prazos para a mesma. Para mim continua a ser
um imperativo do exercício da nossa profissão, mais que legal, ético, a
publicações científica, atempada, dos resultados da actividade
arqueológica.
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A divulgação rápida e sintética
dos resultados dos trabalhos arqueológicos deve concretizar-se através da
inserção dos mesmos no Endovélico ? formulário Trabalho Arqueológico. Aqui
cabe perfeitamente a inclusão de um texto da dimensão referida ou até um
pouco maior, e de inteira responsabilidade dos responsáveis, podendo ainda
ser possível disponibilizar imagens facultadas igualmente por
estes.
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Esta solução não tem custos, pois
apenas num acto, o sistema de informação é actualizado (com todas as
numerosas relações ? arqueólogo, projecto, instituição, sítio
arqueológico, etc) e a ?edição? está feita.
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É também uma solução funcional,
pois atendendo ao volume da informação em causa e às funcionalidades
próprias de um sistema de informação, permite pesquisas fáceis e
correlacionar de forma mais abrangente a informação.
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Aliás, esta solução está em
implementação há largos anos: para isso serve a ?Ficha de Sítio/Trabalho
Arqueológico?. Se a informação sobre o Sítio (sintética, analítica e
mutável em função da investigação) é da responsabilidade de quem gere o
sistema (DGPC), a ficha do Trabalho Arqueológico é fixa, corresponde a um
momento e não a um processo (não carece de actualização) e é da
responsabilidade do responsável (seu ?autor?).
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Quanto à disponibilização on line
e imediata dos Relatórios, eu sou a favor. Tenho dificuldade em aceitar a
existência de restrições contratuais? não me parece muito legal. Admito
que haja questões relacionadas com a reserva científica dos dados aí
contidos. Também é certo que este tipo de disponibilização facilita em
muito a utilização, por outrem que não o seu autor, daqueles dados, quer
em moldes legítimos, quer de forma fraudulenta (a consulta arquivística
não é bem a mesma coisa). Mas essa é uma condição e um condicionalismo do
nosso tempo. E como para mim, esquematicamente, admito, o que o relatório
deve conter é a informação mínima necessária para a compreensão da
informação obtida num trabalho arqueológico (arqueografia), essa
informação tem autor mas é eminentemente pública e como tal deve
publicitada. Este é aliás o fundamento teórico da obrigatoriedade de
entregar relatórios ao Estado, que representa o interesse
público.
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Ainda assim, se os pruridos forem
muitos, que a disponibilização on line ocorra apenas após o prazo legal
para publicação dos resultados. Mas, repito, por mim ocorria imediatamente
após a aprovação do relatório.
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O armazenamento dos relatórios
digitais deve também ocorrer na estrutura do Endovélico. Assim, uma
primeira pesquisa daria acesso a um resumo dos resultados (Informação
Arqueológica); quem quiser ?saber mais? acederia ao relatório; com o
decorrer do tempo seriam igualmente fornecidas as referências
bibliográficas, eventualmente os próprios pdf´s, à medida que estes sejam
também de domínio público.
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A reunião de toda a informação a
partir do sistema Endovélico e o investimento permanente na implementação
deste sistema deveria ser um ?pacto de regime? arqueológico. A criação de
sistemas paralelos que duplicam informação e procedimentos de carregamento
de dados (como por exemplo o recente e bem sucedido Portal do Arqueólogo,
ou o projectado Repositório de Relatórios) não é a opção mais correcta. O
mais correcto do ponto de vista da gestão da informação e da boa
racionalização de recursos sempre escassos, é investir num sistema
integrado, cujo funcionamento se bem implementado, representa uma poupança
efectiva, só por existir e funcionar.
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É claro que esta visão ainda está
distante da realidade, pois o desinvestimento e desinteresse no Endovélico
na última década são absolutamente evidentes. Em vez de se desperdiçar
recursos em investimentos muitas vezes estéreis (como na minha opinião
ocorreria com este revivalismo da Informação Arqueológica) deveriam ser
concentrados esforços, não apenas financeiros, no aperfeiçoamento
permanente do Endovélico e SIG associado, na desmaterialização,
digitalização e abertura ao público do Arquivo da Arqueologia Portuguesa
e, caros colegas, e na linha editorial arqueológica pública: Revista
Portuguesa de Arqueologia e Trabalhos de Arqueologia.
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Porque para publicar, entre muitas
outras coisas, é preciso haver onde e como.
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É realmente assim: a gestão da
actividade arqueológica (autorizar, fiscalizar, aprovar relatórios), o
Endovélico, o SIG, o Arquivo, a publicação, a salvaguarda e a
investigação, etc, são realmente faces de um mesmo objecto. E é por isso
que a gestão púbica deveria ser assegurada por uma entidade de Tutela
única, especializada, nacional e desconcentrada, que garantisse que o
sistema funcione, em todas estas frentes, com boa gestão dos
recursos públicos sempre escassos.
Saudações
arqueológicas
Jacinta
Bugalhão