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[Archport] As pessoas mudam, os governos mudam. Os museus, esses, mantêm-se

To :   "MUSEUM" <museum@ci.uc.pt>, "ARCHPORT" <Archport@ci.uc.pt>, "HISTPORT" <histport@ml.ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] As pessoas mudam, os governos mudam. Os museus, esses, mantêm-se
From :   "ICOM Portugal" <info@icom-portugal.org>
Date :   Sat, 6 Apr 2013 08:24:02 +0100

As pessoas mudam, os governos mudam. Os museus, esses, mantêm-se

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Dezenas de profissionais dos museus de todo o mundo debatem em Lisboa os efeitos que a crise tem. Hoje apresentam a Declaração de Lisboa, um apelo aos governos para não haver mais cortes no sector

Se os museus e o património cultural têm perdido visitas, de quem é a culpa? A resposta mais rápida e simples já todos sabemos qual é: da crise. Mas por trás dos números estão várias explicações. O sector enfrenta cada vez mais e novos desafios e é por isso urgente percebê-los. O Estado não se pode retirar das suas obrigações mas nem a sociedade civil nem os profissionais do sector podem ser desresponsabilizados. Para que esta equação funcione em pleno é preciso criar condições. É pelo menos isso que o ICOM (Conselho Internacional dos Museus) defende no apelo lançado hoje, em Lisboa, alertando a comunidade internacional para a importância que o sector tem no desenvolvimento de qualquer país.

"Só pedimos que se leve em conta a cultura. Os museus e o património cultural são essenciais para a nossa sociedade, já não são apenas espaços onde os bens culturais são expostos e preservados, como são centros promocionais com diversas actividades que têm impacto na comunidade local e que são importantes também para a economia", diz ao PÚBLICO Alberto Garlandini, presidente do ICOM Itália e director-geral da Cultura da Lombardia, exemplificando que se estes espaços não existissem, o turismo seria obviamente menor. "O que é preciso é que exista uma mudança de mentalidades porque a crise assim o exige", continua o responsável italiano, para quem os políticos têm de ser cada vez mais corajosos.

"Eu sei que os políticos têm grandes responsabilidades em tempo de crise e são obrigados a dar respostas negativas aos vários pedidos de apoio, no entanto é nestas alturas que também têm de saber dizer sim", diz Garlandini, explicando que é preciso estabelecer prioridades e fazer escolhas. "Têm de saber distinguir entre dinheiro para iniciativas efémeras que não contribuem em grande escala para a comunidade e iniciativas que são um investimento para o futuro", acrescenta, admitindo aqui a importância de todos os profissionais do sector. "Temos de nos saber fazer ouvir. Exigimos grandes decisões dos políticos mas nós também temos de saber tomar decisões. Temos de ser mais abertos à necessidade das comunidades e juntos descobrir novas formas de sobreviver à crise."

Foi por isso que o ICOM, uma organização não-governamental integrada na Unesco, representando os museus e profissionais de museus em todo o mundo, aproveitou a conferência internacional Políticas Públicas para os Museus em Tempos de Crise, que hoje termina no Museu Nacional de Etnologia, para não apenas questionar o estado do sector ou criticar os "cortes cegos" que têm sido aplicados em muitos casos, como também sugerir medidas alternativas para ultrapassar a crise.

No documento, Support Culture and Museums to Face the Global Crisis and Build the Future, que vão fazer chegar ao Parlamento Europeu e à Comissão Europeia, assim como a todos os governos e parlamentos nacionais, o ICOM pede para que, ao contrário do que tem acontecido, não se apliquem mais cortes nos museus. Pelo contrário, a organização, composta por 137 países, sugere que se aumentem os recursos financeiros e humanos e que se criem condições, através de benefícios fiscais, para que a iniciativa privada possa crescer.

"Em tempos de crise, os museus e o património cultural são vistos muitas vezes como um luxo que a sociedade não pode pagar, mas, na realidade, são activos para o desenvolvimento sustentado de um país", defendem no documento os responsáveis do ICOM, sublinhando que "mesmo nos países que enfrentam sérios problemas económicos, os museus e o património devem ser financiados para que possam contribuir para a coesão e o desenvolvimento social". "Não geram apenas conhecimento e educação, mas também receitas e emprego", continua o apelo, que garante que este investimento é a melhor forma de "melhorar a qualidade do turismo cultural".

Para o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que inaugurou ontem a conferência, os governos estão cientes desta importância, defendendo ele mesmo que é preciso trabalhar no sentido de se criarem condições para que o sector privado ou qualquer cidadão se sinta com vontade de apoiar financeiramente os museus e o património. "Os períodos de crise são, para o bem e para o mal, épocas de desafios e mudanças", disse Barreto Xavier, que defende que os museus têm de trabalhar cada vez mais em rede, apostando nas comunidades a que pertencem, destacando o trabalho da Rede Portuguesa de Museus, que considerou ser uma plataforma de apoio técnico e profissional às instituições. E garantiu: "Não é preciso pânico". "O público, as actividades e os serviços oferecidos pelos museus têm crescido em todo o mundo."

Também por isso, Garlandini acredita que os museus daqui a 20 anos vão ser ainda melhores. "Há 40 anos não tínhamos tantos. Tão bonitos e com actividades fantásticas. Claro que a crise existe e vai continuar mas também acabará, depende das escolhas que fizermos agora", defende, para quem "não se pode esperar no museu que as pessoas venham, é preciso sair e ir ter com elas". "A verdade é que os museus fazem parte da nossa história. As pessoas mudam, os governos mudam, os profissionais mudam, mas os museus mantêm-se no tempo."

 





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