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Re: [Archport] Uma chamada de atenção, em tempo útil para suscitar uma correcção.

To :   Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Uma chamada de atenção, em tempo útil para suscitar uma correcção.
From :   Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>
Date :   Sun, 19 May 2013 23:26:43 +0100

Caro Alexandre Monteiro.
 
Mal andará uma comunidade em que direitos tão elementares como o direito ao respeito, para não dizer reconhecimento, por uma vida inteira de trabalho e empenho tivessem que estar contemplados na lei para não serem atropelados.
 
Obrigado.
 
Manuel.


No dia 19 de Maio de 2013 às 22:23, Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com> escreveu:
Mas há algum código ético relativo à autoria e à prioridade científica
sobre matéria arqueológico?

Aqui há uns anos, investiguei em arquivo uma determinada área marítima.

Pelos resultados a que cheguei, determinei que naquela área se teria
perdido quase uma centena de navios.

Quando soube que se planeava dragar e enrocar aquela área, não
descansei enquanto não consegui sensibilizar a tutela para a
importância de lá se fazer uma prospecção prévia. Lá se conseguiu -
até porque o dono da obra achava que não encontraríamos nada. 4

Entretanto, seis meses depois, eu e mais dois colegas, encontrámos 3
naufrágios exactamente na zona a ser impactada. Os naufrágios - dois
deles muito relevantes, e um deles até único a nível mundial, quer em
termos de integridade estrutural quer em termos de cronologia e
filiação cultural - foram por mim, e pela equipa da qual eu era
co-coordenador, integralmente escavados, desmantelados, movidos e
armazenados os artefactos recolhidos. E foram publicados por mim, na
Revista Portuguesa de Arqueologia e até em um ou dois congressos
internacionais.

Aqui há cerca de um ano, no âmbito de um projecto internacional em que
me envolvi, em que pessoas de todos os quadrantes do mundo irão
enviar-nos materiais para fins de síntese e de investigação comum,
pedi autorização à tutela para ter acesso aos materiais por mim
exumados nesses naufrágios - questão de os fotografar, desenhar, ver
as pastas, etc. O normal, enfim.

A tutela referiu então que havia uma instituição a trabalhá-los. E
reencaminhou a nossa carta à tal instituição. Que nos respondeu que,
por motivos que se prendiam com a FCT, não abriria mão deles e que nos
nos cederia acesso. Aos materiais que eu escavei.

(Por vezes, de quando em vez, penso porque raio me hei-de eu chatear e
andar a gastar tempo e dinheiro e a ganhar cabelos brancos com a
defesa do património e a pugnação pelas boas práticas arqueológicas).









Em 19 de maio de 2013 21:53, Manuel Castro Nunes
<arteminvenite@gmail.com> escreveu:
>
> No passado dia nove de Maio, o Vice Reitor da Universidade de Coimbra Amílcar Falcão celebrou com a Câmara Municipal de Arganil um protocolo para, entre outras medidas não descritas de valorização do património arqueológico e artístico do Concelho, pôr a descoberto o resultado de anteriores intervenções arqueológicas na Lomba do Canho e proceder à instalação do museu que acolherá, pressupostamente, o espólio aí recolhido durante décadas, bom como em muitos outros locais do centro do país a que a actividade do Professor Doutor João de Castro Nunes se estendeu.
>
> Penso que a maioria dos subscritores desta ‘’mailinglist’’ saberá do que se está a falar.
>
> Para implementar a execução desta intenção, o Senhor Vice Reitor e a Câmara Municipal de Arganil contarão com a diligência da Professora Doutora Conceição Lopes, do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto.
>
> O tema da autoria e prioridade científica sobre matéria arqueológica parece-me ser uma das mais premente preocupações consecutivamente aqui levantada. Todavia, para lá das questões formais de direito ou costume, há questões de elegância e de bem estar que pessoalmente lamento terem-se perdido.
>
> Compete-me pois chamar a atenção para o facto de que o Professor Doutor João de Castro Nunes, com noventa e dois anos de idade, é vivo e se encontra no exercício das suas faculdades.
>
> Soube que o Professor Doutor João de Castro Nunes interpelou o Vice Reitor Amílcar Falcão, que lhe responde não o conhecer nem ter jamais ouvido falar no seu nome, propondo mesmo que o Professor Doutor João de Castro Nunes se desloque ao seu gabinete se quiser esclarecer o assunto.
>
> Não sei ainda qual será a disposição da Professora Doutora Conceição Lopes, mas talvez queira também que o Professor Doutor João de Castro Nunes suba à Porta Férrea.
>
> Parece-me óbvio que a matéria do protocolo celebrado, das as circunstâncias dramáticas em que nos encontramos, não virá a ser implementada, não se tratando de mais do que uma parangona eleitora.
>
> Do mal o menos.
>
> Mas gostaria, pessoalmente, de ler aqui uma explicação por parte da Professora Doutora Conceição Lopes.
>
> Devo desde já declarar que, pessoalmente, não tenho qualquer intenção de desenvolver qualquer actividade, arqueológica ou não, nem em Arganil nem na Lomba do Canho.
>
>
>
> Saudações.
>
>
>
> Manuel.
>
>
>
>
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> --
> Manuel de Castro Nunes
>
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> Archport@ci.uc.pt
> http://ml.ci.uc.pt/mailman/listinfo/archport
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Manuel de Castro Nunes

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