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[Archport] TÚMULO DE D. FERNANDO I

To :   <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] TÚMULO DE D. FERNANDO I
From :   "F. E. Rodrigues Ferreira" <rodriguesferreira@sapo.pt>
Date :   Wed, 3 Jul 2013 01:00:00 +0100

Boa noite Dr. Pedro Silva. Presumo, porque trata a assembleia do Archport por colegas, que seja arqueólogo.

Apesar de não se referir à minha pessoa, designando o nome ao santo, penso que será à minha notícia de duas linhas que se estará a referir, razão pela qual acho que lhe devo uma explicação e, na medida do possível, alguns esclarecimentos que são do meu conhecimento, por ter privado de perto com o assunto.

Nos primórdios do século XX, o túmulo de D. Fernando I foi literalmente pincelado com goma laca, afim de serem feitos moldes em gesso, que estão depositados no Convento de Mafra.

Há cerca de uma dúzia de anos, quando foi refeito o Museu da Associação dos Arqueólogos, a respectiva Direcção mandou retirar, a laser, aquela feia cobertura, voltando o túmulo a apresentar o aspecto e a dignidade primitivos e que lhe eram devidos; é uma notável peça escultórica do período medieval, com alguns temas inéditos.

Sendo de pedra de Ançã, por natureza bastante porosa, terá embebido todos os líquidos resultantes da decomposição do corpo de D. Fernando.  Impregnada de sais resultantes da decomposição de um corpo e de outros que eventualmente já possuísse, a pedra tornou-se muito higroscópica, absorvendo, durante o Inverno, uma razoável quantidade de água, que dissolvendo os sais existentes no seu interior, migram, por porosidade, para o lado mais exposto: o exterior do túmulo, acção que é naturalmente mais intensa desde que a goma laca foi retirada; aumentou a exposição ao ar.  A deliquescência dos sais, ocorrendo muito próximo da superfície da pedra, vai lenta e inexoravelmente desfazendo o túmulo, de fora para dentro.

Já escrevi duas cartas abertas à Direcção da Associação dos Arqueólogos, e tive ocasião de publicamente, durante uma Assembleia Geral daquela Instituição, referir esta situação, considerando que uma obra de arte é de todos e a todos compete zelar pela sua segurança e passagem para os vindouros; é o nosso testemunho.  Sei que vivemos tempos conturbados, mas se nós que somos arqueólogos não dermos o exemplo, quem o fará ?

Penso que a melhor celebração dos 150 anos da Associação dos Arqueólogos seria a determinação das patologias do túmulo de D. Fernando e o seu posterior tratamento. Não há “jantar de honra” que possa valer esta acção e, para comemoração, bastaria ! 

Como arqueólogo e cidadão agradeço-lhe, prezado colega, o seu cuidado; ganhou o Céu !  Eu ainda não consegui…

F.E.Rodrigues Ferreira





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