E para dar por terminada a minha intervenção quanto a este triste assunto aqui fica o que partilhei no FB:
"Ora aí está.... A fogueira das vaidades e dos falsos amigos e colegas que parasitam as boas ideias dos outros (quando eles próprios as não têm), mas que quando abrem a boca só sai a peçonha e efabulações que em si encerram.
Enquanto lhes damos "dinheirinho" do bom a ganhar com escavações em sítios arqueológicos (dos verdadeiros e não inventados), somos "os maiores" e produzimos um "grande trabalho" pela pseudo-associação.
Mas ai de nós se ousamos trilhar o nosso próprio caminho. Aí já somos uns "traidores", dignos de ameaças com departamentos jurídicos e processos em tribunais...
Quando na realidade são estes srs. que ficaram a dever a imensos que partiram muito de alguma cientificidade que ainda poderiam ter trilhado verdadeiramente.
Ainda bem que cortei todos os laços com tais criaturas em Abril de 2007, quando finalmente me apercebi que as mentiras iriam continuar e que jamais - p.ex. apesar de escrevermos relatórios mensais de imensos locais, iriamos ser propostos como, vá lá, co-responsáveis, como nos faziam prometer e crer - a pseudo-associação iria ser aquilo que poderia vir verdadeiramente a ser em prol da Arqueologia.
Os restantes colegas arqueólogos já os conhecem bem (até quando irão continuar a minar o bom nome da ciência, da Arqueologia)... Interrogo-me...
Imensa tristeza por tudo isto e pelo imenso tempo perdido (por mim e pelas dezenas que por lá passaram, para nunca mais voltar, pois há certas e determinadas coisas que não se compram ou vendem com/por um "prato de lentilhas")..."
Pegando na carta que o nosso colega Alexandre Monteiro enviou à direcção do jornal O Público, como alerta aos mais incautos, e que cito seguidamente:
"
Exma. senhora Directora.
Em primeiro lugar, gostaria de lhe dar os parabéns por, mais uma vez, o
seu jornal se ter distinguido dos restantes pelo tratamento diferenciado
dado ao tema das “pirâmides” da ilha do Pico – uma “teoria” avançada à
LUSA pela Associação Portuguesa para a Investigação Arqueológica e
seguida pelo vosso jornal (artigo da autoria de Lucinda Canelas,
publicado na sua edição em linha, ontem, e na sua versão em papel,
hoje). E parabéns porque, numa época em que os seus pares se mostram
cada vez mais incapazes de distinguir a falsa da verdadeira ciência,
numa altura em que rareiam os jornalistas e os editores especializados
em ciência e em cultura e em que campeia o desconhecimento sobre a
metodologia científica, é reconfortante ver que no Público, do mal o
menos, pelo menos ainda se faz o contraditório e se recusa publicar o
que vem da LUSA de forma completamente acrítica.
Em segundo lugar – e embora reconheça estarmos em Agosto, a proverbial
“estação pateta”, onde se trivializa ainda mais o que já era trivial e
em que o ciclo noticioso tem ainda mais apetência por acontecimentos
ligeiros, mundanos, preferencialmente fechados, e de natureza
bombástica, superlativa, singular ou bizarra – não posso deixar de
trazer à colação alguns dados mais sobre esta problemática.
E começo por lhe dizer que tenho alguma legitimidade nesta matéria:
embora não seja, nem de perto nem de longe, um especialista em cultura
aborígene – seja lá o que isso for – sou arqueólogo, morei nos Açores
durante 11 anos e dei início, naquele arquipélago, ao estudo pelo prisma
da Arqueologia Náutica do património cultural subaquático lá jazente.
Nesse âmbito, organizei de raiz a Carta Arqueológica Subaquática dos
Açores, para o que tive que consultar milhares de documentos históricos,
a maioria deles inéditos, e compulsar todas as descrições primordiais do
arquipélago. Nunca, em qualquer um deles, surge qualquer referência a
uma ocupação humana anterior aos meados do século XV. Mais: nunca até
agora, que se saiba, surgiram materiais arqueológicos que possam ser
datados de antes do descobrimento das ilhas pelos Portugueses de então.
Ora, sendo a Arqueologia uma ciência que estuda as materialidades
deixadas pelos nossos antecessores, que as caracteriza, as elenca, as
data e as classifica de modo a que, a partir delas, se possa construir
uma narrativa sustentada em factos (como dizia um dos grandes
arqueólogos do século XX, Mortimer Wheeler, “o arqueólogo não desenterra
artefactos; desenterra, isso sim, pessoas e as suas histórias”) é de
todo em todo extraordinário que, neste caso, se parta de uma observação
empírica e impressionista e, a partir dela, se subverta todo o discurso
histórico até agora vigente. Dir-me-á que as “provas” terão sido
apresentadas ontem. E eu contrapor-lhe-ei que esta “narrativa” tem uma
história.
E que essa história já dura há uns meses, anos até, sendo o enredo já
um pouco repetitivo: alguns dos associados da APIA vão de férias aos
Açores e, no decorrer de bucólicos passeios pedestres, “descobrem” as
estruturas mais extraordinárias: monumentos funerários “que poderão ter
mais de 2000 anos” e que “têm paralelos com túmulos gregos e
cartagineses” da Antiguidade Clássica; a existência de arte rupestre na
ilha Terceira “com características que fazem remontar à Idade do
Bronze”.
Este ano, calhou à ilha do Pico a benesse de se lhe identificarem
“pirâmides” de “origem aborígene”. O que me leva a outra vertente. Nesta
ciência, a da arqueologia, nem sempre um formado na área é arqueólogo; e
o seu contrário também é verdade. Para se ser arqueólogo, tem que se
ter, no mínimo, dois atributos: experiência e credibilidade.
A experiência advém de um tirocínio prolongado no terreno. É preciso
manipular muitos materiais, aferir muitas cronologias, ler muito,
discutir e aprender com os colegas mais experientes e mais tarimbados e
voltar a fazer tudo isto, uma e outra vez, antes que se possa dizer que
se domina um determinado período ou uma determinada área. Eu, por
exemplo, apesar de ter tido formação diversificada e abundante em
cultura e materialidade do período romano, não sou capaz de distinguir
uma ânfora de outra; simplesmente, não é essa a minha área.
Depois, com a experiência, vem a credibilidade, também chamada
reputação. É preciso ajudar a escavar, dirigir escavações, publicá-las,
escrever outro tanto sobre o período que se estuda, voltar a reescrever
mais ainda, ser submetido à avaliação dos seus mestres e dos seus pares
– tudo isto leva anos, num processo de decantação que leva à
constituição de peritos, de especialistas, que leva, no fundo, à
formação de novos mestres. Ora, no caso da APIA, ao que sei – e sei
algo, porque o meio da Arqueologia Portuguesa, como tantos outros no
país, é pequeno, paroquial, até; afinal, conhecemo-nos quase todos – há
um grande problema de credibilidade. Eu, e todos os outros arqueólogos
que conheço, não lhes reconhecemos qualquer credibilidade. Já o mesmo
não se poderá dizer dos outros dois especialistas que, na peça, surgem a
fazer contraditório.
Mas, pergunta daí, então não existirão sítios arqueológicos notáveis,
únicos, singulares nos Açores? Há, sem dúvida. A esmagadora maioria
deles estão submersos, muitos deles em perigo de virem a ser destruídos
por incúria, ignorância ou negligência. Mas deles, obviamente, ninguém
fala, por eles ninguém se interessa, afinal, nãoo apresentam
"narrativas" estimulantes ou fracturantes. Não são sexy nem se
apresentam com formas piramidais ou "uterinas"...
Concluo, fazendo minhas as palavras do arqueólogo da APIA: nada disto
“faz sentido”. Ou até fará: o Homem, que o arqueólogo estuda desde a sua
Pré-História, foi sempre enformado pelo transcendente, pelo espiritual,
pelo esotérico, pela magia. A crença, por oposição à racionalidade,
sempre existirá. Infelizmente, nesta, como noutras “estações patetas”,
há uma vítima, nada despicienda - a credibilidade que os verdadeiros
arqueólogos alguma vez tiveram junto da comunidade açoriana, e que tanto
lhes custou a construir, volta a ser imolada na fogueira das vaidades de
alguns."
Cordialmente,
--
Alexandre Monteiro
Instituto de Arqueologia e Paleociências
Instituto de História Contemporânea
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa
Av. Berna 26C
1069-061 Lisboa
Portugal
+351 91 669 21 89
almonteiro@fcsh.unl.pt
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http://fcsh-unl.academia.edu/AlexandreMonteiro/Papers"