O estudo das línguas e sistemas de escritas nórdicos é um tema
interessantíssimo e capital para o conhecimento das suas variantes modernas.
Tenho acompanhado um projecto de investigadores canadianos, sobre a evolu ção
dos sistemas de escrita ingleses durante a Idade Média. O caso inglês é
verdadeiramente interessante, não só devido à mescla de diferentes povos,
línguas e cultura no território, como na contribuiçãi que o clero, enquanto
guardião da cultura clássica, teve na evolu ção da língua.
Um dos textos publicados pelo projecto, com o título "Things that
talk" (coisas que falam), aborda algumas questões menos conhecidas
relacionadas com este alfabeto;
http://www.medievalcodes.ca/2014/01/things-that-talk.html
Segundo a autora, fazem parte do sistema de escrita rúnico, características que
conduzem, não raras vezes, a uma ambiguidade interpretativa dos textos. A
palavra "runa", significava originalmente "mistério" e ao
contrário de sistemas como o alfabeto grego ou latino, o objectivo não passava
por transmitir a informa ção da forma mais clara e eficiente possível. Pelo
contrário assumia a sua natureza críptica, sendo cultivada entre aqueles que a
sabiam escrever/ler, através de uma aplica ção recorrente em charadas ou frases
com segundos sentidos (ex. poesia).
No artigo são dados como exemplos uma possível peça de jogo em osso, na qual
foi gravada simplesmente a palavra "veado". Análises laboratoriais a
este artefacto comprovaram que efectivamente se tratava de um osso de veado.
É ainda mencionada uma arqueta em osso, conhecida como "Franks
Casket", decorada com uma rica iconografia e patenteando um misterioso
texto. Trata-se de um enigma, cuja resposta é "osso de baleia",
exactamente o material de que é feita a arca!
Fala-se ainda da "Ruthwell Cross", uma enorme cruz em pedra,
ricamente ornada, em torno do qual foi escrita uma versão de um antigo poema
inglês, no qual, metaforicamente, é descrita a crucifica ção de Cristo, através
do ponto de vista da própria Cruz onde foi pregado.
Em termos epigráficos existe um enorme liga ção entre o texto e o objecto em
que foi gravado, que acabam por formar uma entidade quase indissociável.
As suas características assumidamente crípticas parecem, tal como a autora
defende, afastá-las dos sistemas latinos e gregos.