Na medida em que boa parte dos membros destes fóruns –
archport, histport, museum – têm uma vida que, directa ou indirectamente,
se prende com a investigação científica (neste caso específico, mais do âmbito
das Ciências Sociais e Humanas, que até constituem, ao que parece, o ‘parente
pobre’ da investigação em Portugal (e na Europa…), permita-se-me que
dê conhecimento desta circular, que acaba de me chegar, uma vez que aborda
temas institucionais que são, afinal, do interesse de todos. – J. d’E.
ANICT/FCT/SEC
– UMA NOVA AGÊNCIA DO GOVERNO PARA
MATAR A CIÊNCIA E
EMPOBRECER OS INVESTIGADORES? Caros colegas
investigadores e docentes, Aparentemente a
Associação Nacional de Investigadores em Ciência e Tecnologia (ANICT)
transformou-se numa espécie de agência oficiosa do governo, funcionando como
“cavalo de Tróia”, para preparar o terreno, dentro do próprio
sistema científico nacional, para os objectivos de “morte
anunciada” de metade da Ciência e Investigação. Parece pretender agora, a
par daquele objectivo negativo, criar condições de real empobrecimento e
precarização dos investigadores. Para isso, a ANICT tornou
público um documento (“Princípios
orientadores para a criação do Estatuto do Trabalhador de Investigação
Científica e restruturação da Carreira de Investigação Científica”),
que pretende levar ao que chama de “discussão pública”, realizando
sessões de propaganda/divulgação, entre 22 de Outubro e 4 de Novembro
em várias universidades, com o apoio da Secretaria de Estado da Ciência, e das
Reitorias dessas Universidades... obviamente sem convidarem as organizações
sindicais (FENPROF e SNESup) ou a ABIC ou a OTC para o debate, para não haver o
“risco” de contraditório, pois se prefere o monólogo ao diálogo e
ao debate democrático. As
“propostas” da ANICT lançadas ao/pelo governo, incluem estes
“benefícios”: 1. O fim da exclusividade dos investigadores desta
“carreira”, perdendo, com isso, um terço do seu vencimento; 2. A prevalência de contratos a prazo para até 20 anos,
ou seja, a elevação da
precariedade ao nível estatutário para a carreira dos investigadores; 3. A desvalorização da carreira de investigação face à
carreira docente, colocando no acesso os investigadores numa categoria abaixo
da dos docentes com as mesmas qualificações académicas – o doutoramento; mais tarde, provavelmente, em nome de uma alegada
“convergência”, seguir-se-ia a tentativa de rebaixamento da
carreira docente para esse nível inferior atribuído aos investigadores! 4. A possibilidade de “recuperação” de até
1/3 do salário perdido com a eliminação da exclusividade, através de
leccionação (se as instituições assim o entenderem... pois anteriormente
leccionavam gratuitamente...), diminuindo, portanto, o seu comprometimento na
investigação, substituída por estas tarefas; 5. A restrição do acesso à categoria de Investigador
Coordenador aos directores dos centros... que são cargos temporários!; 6. A limitação do estatuto de bolseiro aos
“estudantes” que usufruem de bolsas durante os seus estudos de
doutoramento e/ou mestrado – trata-se do único aspecto positivo do documento, que não é original,
uma vez que tanto a Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC)
como os sindicatos (FENPROF, SNESup) há muito que defendem esta posição, quer
nas instâncias nacionais como nas europeias, sustentando ainda que mesmo os
doutorandos deverão dispor de um contrato a prazo de 4 anos, em vez de uma
bolsa. Como já fizera
anteriormente, a direcção da ANICT surgiu repetidamente
“justificando” (com os mesmos argumentos da FCT) a
“excelência” das avaliações dos concursos para contratos de
Investigador FCT ou para bolsas de doutoramento e pós-doc, bem como da
avaliação dos centros de investigação, omitindo ou branqueando a falta de
transparência e as ilegalidades notórias. Fica assim claro que a ANICT se
desligou dos objectivos iniciais de promoção da Ciência, e funciona agora, e
cada vez mais, como “voz oficiosa” da FCT e da SEC. Estranhamos
também a “pressa” de algumas Reitorias – que, na sua maioria,
ficaram tão “silenciosas” quanto à destruição dos seus centros de
investigação! - em apoiarem estes debates sem contraditório. A ANICT até esclarece que
se trata de “conciliar os desejos dos
investigadores (tais como contratos a longo prazo) com as preocupações das
instituições (tais como a dificuldade de despedimentos)”. Não
duvidamos que o governo pretende os despedimentos (e
receamos, assim, que haja reitorias que também o pretendam!), mas a FENPROF e
os seus sindicatos representam investigadores
que não querem contratos a prazo... mesmo disfarçados de
“longos”! Os sindicatos da FENPROF,
em acção convergente com o SNESup e a ABIC, expressam deste modo a total
rejeição das propostas da ANICT e apelam à mobilização conjunta de todos para
que, com a sua intervenção, designadamente participando nos debates que se irão
realizar, se possa travar a propagação de propostas que mais não visam do que a
desvalorização do estatuto socio-profissional dos investigadores e a aprovação
de medidas que conferirão ainda maior instabilidade ao sistema de investigação científica
nacional.
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