De:
Vítor Oliveira Jorge [mailto:vitor.oliveirajorge@gmail.com]
Enviada em: sexta-feira, 24 de
Outubro de 2014 08:43
Para: José d'Encarnação
Assunto: Caro amigo, podes por
favor publicar isto nas listas que geres? Muito grato! Grande abraço!
A começar já no dia 1 de Novembro de 2014... Num sítio
“encantado”, em Loures... Um pequeno convento arrábido...
Organização da Câmara Municipal de Loures - Departamento de Cultura, Desporto e
Juventude - Divisão de Cultura - Área de Museus e Galerias
Museu Municipal da
Quinta do Conventinho
Novembro e Dezembro de 2014
Tempos
de Crepúsculo... Quando a Coruja de Minerva Finalmente Levanta Voo
Na introdução da sua obra sobre a filosofia do direito, o grande pensador
alemão Hegel referiu-se à antiga associação
da coruja - ave noturna, que levanta voo pelo crepúsculo, e à noite vê mais que
todas as outras – à deusa Minerva (a grega Atena), e portanto ao saber, à
filosofia... Essa sua frase ilustra a ideia de que o fim (ou a fase de
amadurecimento de um processo, e em geral do devir no seu conjunto, que é
aberto e contingente), cria retroativamente as condições para a compreensão dos
factos passados, fazendo-nos ver as coisas mais claras e como que (de certo
modo, ilusoriamente) pré-determinadas pelos seus antecedentes.
Por outras palavras, há aqui uma causalidade
retroativa, que tem tudo a ver com a maneira como encaramos o tempo
e a temporalidade: um ato propriamente dito - e, nomeadamente, aquilo que
podemos considerar excepcional, um evento (algo
totalmente inesperado) – cria as suas próprias condições de
possibilidade.
O futuro é imprevisível “a priori”: apenas retroativamente podemos
compreender a “lógica da história”... o que só aumenta a
importância do estudo crítico do “passado”, para fugirmos à tendência
de ver o tempo como uma realidade
contínua – passado, presente, futuro – isto é, como uma linha recta
que vai do início ao fim, e que é de origem cristã (opõe-se ao modo como os
gregos, por exemplo, conceberam o tempo). Era nessa ideologia que se baseava e
baseia a ideia de planeamento como
“colonização do futuro”, na frase de A. Giddens, sociólogo inglês
que foi conselheiro de Blair. Ora é interessante lembrar como a Sra Thatcher,
campeã do neoliberalismo, considerou que o maior êxito da sua ação foi...a
“terceira via” de Blair...
Foi aquela maneira cristã de pensar o tempo (entre a Criação e o Juízo Final)
que permitiu desde há séculos o desenvolvimento do capitalismo, com a sua aceleração (sobretudo a partir do
século XIX), a sua “fuga em frente” em direção ao futuro, sempre
alimentando-se de “crises”. Mas também, paradoxalmente, foi essa
lógica temporal que pode ter bloqueado tentativas que se fizeram de criar
futuros alternativos, numa linha ideológica oposta à do lucro e afirmação
individuais, a lógica do mercado e do empreendedorismo, que hoje aparece
triunfante, e mesmo imbatível. Como se, absurdamente, a história tivesse
chegado ao seu fim...W. Benjamin tinha bem razão ao falar do capitalismo como
uma religião... que às vezes impregna inconscientemente mesmo aqueles que dela
dizem descrer...
Esta questão tem obviamente a máxima premência nos tempos que correm, pois há
sinais de que a situação neoliberal que se propagou a todo o mundo pode
descambar em novas (e perigosas) modalidades de (sofisticado e tecnológico)
autoritarismo, minando o que parecia serem as bases de uma sociedade mais
redistributiva, e mostrando os limites da própria democracia tal como
formalmente é praticada.
Pretende-se aqui simplesmente criar um pequeno espaço de reflexão onde se
aborde a questão da história, da memória, enfim, do tempo, não apenas para nos
entretermos com conversas eruditas, mas para tentarmos “ver um pouco mais
claro” no meio do nevoeiro das opiniões e do ruído dos média, a
contrapelo do que se ouve no ambiente em que se vive – um espaço público
insuficiente, depressivo e deteriorado.
Assim, propomos um primeiro ciclo de encontros/debates com o Professor Vítor
Oliveira Jorge, docente aposentado da Universidade do Porto, o qual, em tardes
de sábado, abordará os seus pontos de vista, expondo-os como
“motes” para um debate com quem deseje participar, entre as 15 e as
18 horas, numa sala do Museu Municipal da Quinta do Conventinho, em Loures.
Esses primeiros quatro encontros – e dizemos primeiros porque poderão
seguir-se-lhes outros, caso estes despertem o interesse dos participantes; ora,
o êxito da iniciativa dependerá também muito desses participantes... –
decorrerão dos dias 1, 8 e 29 de Novembro e 6 de Dezembro de 2014; a
participação nas sessões é inteiramente gratuita, pedindo-se apenas uma
inscrição prévia. Os temas a abordar serão, sucessivamente:
HISTÓRIA – 1 DE NOVEMBRO de 2014
A história linear que nos ensinaram e ensinam não
corresponde aos nossos anseios, havendo que desenvolver outras formas de pensar
a temporalidade e a causalidade.
MEMÓRIA – 8 DE NOVEMBRO
Memória individual e memória colectiva... constituição da
subjetividade e da participação cidadã... mas isso implica pensar novas formas
de viver em comunidade.
Moderadores: Luísa Tiago de Oliveira; Filipe Pereirinha
ARQUIVO – 29 DE NOVEMBRO
O arquivo, a obsessão de conservar, é a outra face da obsessão de
produzir. Mas para quem, e para quê? O arquivo está ligado ao poder, desde os
Arcontes (magistrados) gregos... quem detém o que se arquiva e o que se
descarta ou oculta? Quem controla o arquivo?
MUSEU – 6 DE DEZEMBRO
Museu, lugar da canonização, local de culto laico do passado. Museu,
a outra face da moeda do consumo. Pensar o que significa contemplar na era do
turismo.
Moderadora: Florbela Estêvão
Esta lista de moderadores é por ora
provisória e (muito) incompleta. Aceitamos aliás sugestões quanto a outros
moderadores, com muito agrado.
Aos participantes inscritos contamos enviar antes de cada sessão, por mail, um
texto (ou um link para um texto disponível na net) que seja útil ler antes da
referida sessão. Estes encontros decorrerão em ambiente informal, pedindo-se
apenas às pessoas a possível pontualidade. A meio da tarde haverá naturalmente
um intervalo para restauração, podendo os participantes aproveitar a
cafetaria/esplanada que existe no Museu.
Local de realização:
EN 8 km 4,3 - Quinta do Conventinho, 2660-346
Santo António dos Cavaleiros – Loures
Telefone:
21 115 0660
https://www.google.pt/maps/place/Museu+Municipal+de+Loures/@38.819743,-9.161558,17z/data="">
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