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Re: [Archport] Fwd: Escavações arqueológicas revelam o passado escravagista de Portugal

To :   Alexandre Monteiro <alexandre.monteiro@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Fwd: Escavações arqueológicas revelam o passado escravagista de Portugal
From :   Luís Raposo <3raposos@sapo.pt>
Date :   Mon, 25 Sep 2023 13:19:16 +0100

Nem mais!
LR


----- Mensagem de Alexandre Monteiro <alexandre.monteiro@gmail.com> ---------
Data: Mon, 25 Sep 2023 11:02:55 +0100
De: Alexandre Monteiro <alexandre.monteiro@gmail.com>
Assunto: Re: [Archport] Fwd: Escavações arqueológicas revelam o passado escravagista de Portugal
Para: Isabel Luna <misabel.luna@gmail.com>
Cc: Archport <archport@ci.uc.pt>

Na verdade, não se trata de arqueologia. A arqueologia trata de materialidades. Pelas declarações dadas ao Público:

1) "por este monte terá passado"

2) "não se identificou qualquer documentação que faça referência a trabalhadores de origem africana"

3) encontraram-se apenas "materiais (...) como moedas (...) porcelana chinesa (...) faiança (...)" sem qualquer ligação a escravos

4) "a chegada do arroz a este território é ainda um mistério"

5) "é muito provável que esta propriedade tivesse escravizados"

6) "de [Cacheu] saíram muitos que vieram para Portugal, talvez alguns para o Sado..."

se verifica pelas reticências dadas ao Público pelo Investigador Principal, que deste monte veio uma mão cheia de nada e outra cheia de ativismo. 

Materialidades? Aparentemente, zero. O que faz sentido - não estamos no Brasil nem nos EUA. Todos os escravos - romanos, eslavos, mouros, subsaarianos - que entraram no que hoje é território português foram há muito fenotipicamente absorvidos pelo resto da população, não podendo nós estabelecer um nexo causal direto entre as comunidades africanas racializadas estabelecidas hoje em Portugal - que resultam esmagadoramente de emigrações do século XX, fugas à independência das ex-colónias africanas e emigração laboral dos anos 90 - e a escravatura da Idade Moderna e Contemporânea.

Quiçá por isso mesmo, por não haver materialidades, o Observador se tenha visto obrigado a ilustrar a notícia da Lusa que surgiu no seu site com as imagens de uma múmia pré-inca, encontrada no Peru....




Na minha opinião, todas estas notícias em jornais são um mau serviço à arqueologia e à História, nada mais que um péssimo contributo científico, bom apenas para obter cliques nos jornais, construído sobre os velhos clichês de que há um tabu sobre a escravatura em Portugal - não há, tenho aqui em casa três estantes cheias de livros sobre o assunto - e assente na ignorância de quem lê Foucault e Frantz Fanon, não lendo fontes primárias e desprezando quem realmente sabe destes assunto - investigadores a sério, pessoas como Isabel Castro Henriques, Arlindo Caldeira, João Pedro Marques e Valentim Alexandre.

Do meu ponto de vista, ao contrário do que afirma o IP, para se resolverem "as desigualdades sociais que continuam a marcar a sociedade portuguesa, do ponto de vista étnico-racial, étnico económico e social” é preciso agir com o nosso voto e a nossa agência cidadã, não instrumentalizando a arqueologia e a História, como fizeram Hitler e Estaline, aqui há umas décadas atrás. Até porque os fachos também gostam de mentir às cavalitas da arqueologia...



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Em dom., 24 de set. de 2023 às 18:12, Isabel Luna <misabel.luna@gmail.com> escreveu:

"Cada vez mais pesquisadores revelam que houve escravidão africana também na metrópole."

Alguém andou a faltar às aulas de História de Portugal ou, então, nunca consultou, sequer, coisas tão simples como registos paroquiais.
Quando a Arqueologia precisa de notícias bombásticas para revelar ignorância e verdades de La Palice, é a própria disciplina que cai em descrédito.


---------- Forwarded message ---------
De: Rui Gomes Coelho <ruigomescoelho@gmail.com>
Date: domingo, 24/09/2023 à(s) 09:47
Subject: [Archport] Escavações arqueológicas revelam o passado escravagista de Portugal
To: Archport <archport@ci.uc.pt>



Escavações arqueológicas revelam o passado escravagista de Portugal

As imagens que mais vêm à tona quando se pensa em africanos escravizados é a do Brasil colonial, especialmente com as imensas plantações de cana e os engenhos. Faz sentido: estudos recentes estimam que foram trazidos da África para a colônia estabelecida por Portugal no Novo Mundo pelo menos 5,8 milhões de indivíduos escravizados entre os século 16 e 19 — quase a metade do total de toda a América.

Mas o passado escravagista português não se resume ao emprego de mão-de-obra forçada nas colônias. Cada vez mais pesquisadores revelam que houve escravidão africana também na metrópole — ou seja, em Portugal — no mesmo período.

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Alexandre Monteiro
Instituto de Arqueologia e Paleociências (UNL)
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Portugal

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