Antonio Sartori (1940-2023) Quando, em Março de 1995, participou em Odrinhas, no II Colóquio Internacional de Epigrafia Divindades Indígenas e Interpretatio Romana, Antonio Sartori apresentou uma comunicação em que sublinhou a íntima relação da epígrafe com o meio de que ela saíra e em que se inseria. Este, na verdade, um dos seus grandes contributos para os estudos epigráficos: estudar a fundo a epígrafe, sim, nos seus múltiplos aspectos, mas não esquecer nunca que é fruto de um ambiente que importa explorar e explanar. A epígrafe vista como monumento cultural. Antes, porém, carece de ser rigorosamente estudada e dada a conhecer. Neste aspecto, a actividade de Antonio Sartori foi exemplar, não apenas mediante a apresentação de catálogos de colecções museográficas (mormente de Milão e do seu território), mas publicando pormenorizados estudos de epígrafes, inéditas ou não. Privilegiou o contacto entre os epigrafistas nacionais e estrangeiros mediante a organização de encontros temáticos do maior interesse, designadamente porque os temas por ele escolhidos primaram sempre pela originalidade. Ora veja-se: – Integrou o grupo de investigação FERCAN (Fontes Epigraphici Religionis Celticae Antiquae) e o tema que escolheu para o VIII Workshop, que organizou em Gargnano del Garda (2007) foi “Dedicanti e Cultores”. – Já a sua contribuição para o grupo que se propôs estudar as relações recíprocas entre a Iberia e a Italia, foi a organização, também em Gargnano (2005), do convénio Hiberia-Italia / Italia-Hiberia e, em 2010, o III Convegno Internazionale di Epigrafia e Storia Antica, que subordinou ao título «Identità e autonomie nel Mondo Romano Occidentale». – Seria, porém, na preparação das Giornate di Studi Epigrafici, da Biblioteca Ambrosiana, que a sua originalidade mais se manifestou: o tema das 1ªs (em 2014) foi «Tradizione, trasmissione, traslazione delle epigrafe latine»; o das 2ªs, Maio de 2016, «Spurii lapides: i falsi nell’epigrafia latina»; nas de Setembro de 2018, as 3ªs, tratou-se de ‘L’errore in Epigrafia’; e, em Setembro p. p., os participantes nas 4ªs Jornadas foram convidados a reflectir sobre «La loquacità degli spazi bianchi in Epigrafia». Sartori ainda pôde participar, com uma intervenção intitulada «Spazi bianchi nelle epigrafi: ricercati, provocati / valorizzati, tollerati?». Os estudos epigráficos em Milão ganharam, de facto, novo impulso nesse ano de 2014, na Biblioteca Ambrosiana, graças precisamente ao empenho de Antonio Sartori, também na sua qualidade de académico, que fez ressurgir a Classe di Studi Greci e Latini. Publicou-se o catálogo epigráfico da colecção ambrosiana, Loquentes lapides; deu-se início ao ciclo de lições Intorno a un’epigrafe e fez-se a exposição «La pietra e la carta. Libri epigrafici ed epigrafi dell’Ambrosiana». Em suma, na sua dupla vertente de investigador e docente, sempre pronto a adoptar novos métodos para conseguir as melhores leituras, Antonio Sartori deixa também um enorme legado, como Homem de largos horizontes, sempre disponível para colaborar, para criar plataformas de entendimento. E nesse seu humanismo se hão-de referir a amizade que soube cultivar; o entranhado amor que dedicou à sua família (a morte – que é sempre prematura, sabemo-lo bem – em Março de 2017, de sua Esposa Antonella alquebrou-o muito); e o fervoroso apego ao Catolicismo (chegou a ser ministro da Comunhão). O comentário de Yann Le Bohec à notícia da sua morte foi apenas este: «C’était un homme, un vrai». Estamos de acordo. Que descanse em paz! José d’Encarnação |
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