A morte de Victor Gonçalves não é apenas mais uma triste notícia para a Arqueologia em Portugal. Por muitas e variadas razões o seu desaparecimento, no ano em que passam os cinquenta anos do 25 de Abril, prenuncia o fim de uma época fantástica em que, graças à democracia e à liberdade, os arqueólogos portugueses, ultrapassando dificuldades, erros e dissensões, foram capazes de ir construindo os fundamentos de uma actividade científica, hoje consolidada e com crescente impacto social. E nesse processo, com todas as idiossincrasias próprias, o Victor Gonçalves tem um lugar cativo e de especial destaque. Há cerca de 30 anos, num colóquio internacional sobre “inventários”, em que representando o IPPAR, fui apresentar os primeiros rudimentos do projecto na origem do “ENDOVÉLICO”, cruzei-me em Oxford com o Victor Gonçalves que, atrasado e algo ansioso, procurava o secretariado para se registar. Ao ver-me, reagiu com espanto mas com o seu habitual humor, por vezes algo sarcástico: “Viva António Carlos, nunca pensei ficar tão feliz por te encontrar...” (não serão as palavras exactas mas era esse o significado do bizarro cumprimento, compreensível no contexto das mútuas dificuldades de relacionamento, ainda que sempre “cordial”, nos tempos em que eu dirigira o Departamento de Arqueologia do IPPC e o Serviço Regional de Arqueologia do Sul). Se tal fosse possível, gostaria de hoje lhe retribuir o cumprimento: “Olá Vítor, nunca pensei ficar tão triste e emocionado com a notícia da tua morte...”. À família e em especial à Ana, a minha solidariedade neste momento difícil.
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