Esta afirmação apareceu hoje na Archport, a propósito de alguns despropósitos sobre arqueologia nos Açores.
“A ciência não é uma democracia porque não se vale do número de vontades. Vale-se de factos, das hipóteses formuladas a partir deles e das conclusões. Tudo o resto é admissível em “conversas de café”. Não em congressos ou em revistas científicas."
Pois se estou completamente de acordo com a denúncia do que se afigura como um conjunto de fantasias e até posturas eticamente reprováveis, já não apecio a redacção no que respeita à noção de ciência que transmite. Porque o cohecimento científico também é (deve desesperadamente ser) democracia, ainda que restrita (à moda Grega clássica, onde só alguns se podem pronunciar sobre as formulações das suas verdades - já na aplicação destas o quadro alarga-se drasticamete).
A ciência constrói factos, levanta hipóteses e concluiu. Mas depois da conclusão há a fase do debate e da validação. E essa é feia por pares e de forma democrática, e não é infrequente as posições dividirem-se e a verdade ser “múltipla” e ver essa multiplicidade publicada e esgrimida em congressos e revistas científicas. Essa é, aliás, umas das virtudes do conhecimento científico face ao ortodoxo, que não admite desafio.
Em suma, que se denuncie o carácter acientífico e se desmontem os propósitos não muito claros das fábulas açorianas (recusando-as como indemonstradas, cientificamente pouco plausíveis e eventualmente maipuladaras e até pouco honestas relativamete ao que deve ser uma postura científica). Mas que com isso não se transmita uma visão ortodoxa de ciência, pois a sua mais valia reside, não apenas no método de investigação e anáise, mas também na dimensão de debate, questionamento e discordância que permite. E de onde retira grande parte da sua capacidade de progressão.
António Valera