Só
agora acedi à informação que me fora enviada, a 2 deste mês, da parte da Associação Portuguesa de Antropologia, a
comemorar o falecimento, ao fim
da tarde desse dia, de Benjamim Enes Pereira. Apesar do atraso, não posso deixar de
registar nas listas essa notícia, não só no voto de que descanse em paz mas também
porque se trata de uma personalidade a que Portugal muito deve. Nasceu a 25 de Dezembro de 1928, na casa da Bouroa, no lugar de Montedor,
Carreço, Viana do Castelo. Foi musicólogo, compositor, escritor, intérprete e
encenador — no fundo, um vulto grande da Antropologia em Portugal, ligado
como ficou àquele grupo que esteve na origem do Museu de Etnologia: Jorge Dias
(e sua mulher Margot Dias), Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano,
personalidades inesquecíveis no seu labor ímpar pela preservação do património (que
hoje chamamos de imaterial) português. Vemo-los a percorrer o país para
registarem costumes ancestrais, músicas e lengalengas, os moinhos, os lagares, alfaias,
tudo! Permita-se-me que partilhe algumas das notas que respiguei,
um pouco sem fio condutor, ainda na súbita e inesperada emoção de ter perdido
uma das minhas referências culturais e científicas, que sempre me cativou, nos
vários contactos que com ele tive, mormente no âmbito da Museologia, pela sua
serenidade, modéstia (própria de quem tem um grande saber)… Recordo-me de
uma visita em que me abriu gavetas das reservas do Museu e me mostrou dezenas de
máscaras indígenas africanas, ali mui cuidadosamente guardadas e preservadas. Por
sinal, cruzei-me à saída com Maria do Céu Guerra; perguntei-lhe ao que vinha, era
precisamente pelas máscaras para uma peça teatral em que andava a pensar e eu disse-lhe
«O Benjamim acabou de mas mostrar. Pede-lhe!». Fazia questão, por exemplo, em que não o tratassem por dr., que o não
era. Constituía, aliás, uma prova evidente de que não é necessário ter uma licenciatura
universitária para se especializar num domínio científico, basta ter
tenacidade, dedicação, entusiasmo! E essas qualidades Benjamim Enes Pereira
tinha-as na perfeição- Que descanse em paz! José d’Encarnação Recorto: ·
Foi aprovado pela Fundação Calouste Gulbenkian o Projecto
‘Organização e digitalização do arquivo fotográfico do etnólogo Benjamim
Pereira: a(s) aldeia(s) da Luz’, apresentado pelo Museu da Luz no âmbito
do Concurso ´Projectos de Recuperação, Tratamento e Organização de Acervos
Documentais', promovido pelo seu Serviço de Bolsas e Educação. Este conjunto foi doado por Benjamim Pereira ao Museu da Luz no final
do ano passado (2018, se não erro) e consta de cerca de 1300 fotografias (slides) com importante valor documental:
são retratos do antigo lugar, das paisagens, das gentes e dos animais, do rio,
das casas, das festas, dos ofícios, das ruas e dos largos, das práticas e dos
gestos. Dos lugares desaparecidos e em substituição. Da água que chega, da
demolição do edificado, da procissão do adeus, das práticas no novo lugar. ·
Nota
do Instituto de História Contemporânea (FCSH – UNL): A linha temática “Usos do Passado, Memória e Património Cultural”, que
congrega grande parte dos antropólogos e antropólogas do IHC, vem expressar o
seu profundo pesar pela morte de Benjamim Enes Pereira (1928-2020), que foi um
dos fundadores da moderna antropologia portuguesa e uma figura decisiva nos
estudos da cultura material, da museologia e do património. Benjamim
Pereira, que desde cedo integrou a equipa que recolheu por todo o país muitos
dos objectos que constituem a base do acervo do Museu Nacional de Etnologia, de
que seria um dos fundadores, teve um papel de destaque na renovação da
antropologia sobre Portugal. Os investigadores desta linha do Instituto de
História Contemporânea salientam a importância do seu legado, que é decisivo
para os caminhos que hoje enveredam. ·
Idanha-a-Nova: Nota de pesar pelo falecimento de
Benjamin Enes Pereira
Reconquista - 16/01/2020 - 9:27
“Estimado por todos aqueles que o conheceram e com ele
trabalharam, Benjamim Enes Pereira foi um observador atento da realidade
cultural da nossa região ao longo de várias décadas, com um reconhecido contributo
para o conhecimento e divulgação da sua música tradicional, nomeadamente, de
dois dos seus expoentes maiores, Catarina Chitas e Manuel Moreira, de Penha
Garcia, com quem privou de perto”, destaca a autarquia raiana. Benjamim
Enes Pereira foi “um interveniente chave no processo de criação do Centro
Cultural Raiano, em estreita ligação com o Museu Nacional de Etnologia, e na
salvaguarda e valorização do património oleícola de Idanha-a-Nova, num trabalho
de referência incontornável que envolveu a recuperação do Lagar de Varas da
Aldeia Histórica de Idanha-a-Velha, o complexo do Núcleo do Azeite em
Proença-a-Velha e a edição dessa obra ímpar que é a Tecnologia Tradicional do
Azeite em Portugal”, refere ainda a mesma nota. |
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