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Re: [Archport] Sobre as datas redondas

To :   Archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Archport] Sobre as datas redondas
From :   Luís Raposo <3raposos@sapo.pt>
Date :   Fri, 18 Dec 2020 11:06:35 +0000

Datas redondas… e rotundos viciosos personagens


Esta coisa das evocações tem muito que se diga: nem um raposito ou raposo, mesmo quando raposão, alguma vez será lobo, por lhe faltar a astuta malícia… nem um coelhito, coelho, ou coelhão será alguma vez lebre, neste caso por ser manco. Muito menos será coelhone, por manifestamente não meter medo a ninguém.


Falta-lhe tudo. E faz lembrar mais uma data redonda: a da publicação há exactamente 130 anos do “Lisboa em Camisa”, onde Antunes não sabia a que secção da Associação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses deveria pertencer…

“V. EX.ª tem a bondade diz-me, a que secção quer pertencer ? à dos arqueólogos ou à dos arquitectos ?.

“Dos arquitectos. Era mais distinto, mais fino, mais chic... e ao mesmo tempo dava uma bofetada sem mão na arqueologia.”


... Tendo os tijolos que recolheu, para melhor se nobilitar, acabado por constituir argamassa na escada de serviço.


Se aquilo que Lobato magicou fosse verdade, aposto que ainda lá estariam, porque os antunensis e coelhones, se outra coisa não fazem, pelo menos reproduzem-se. Dizem que promiscuamente.


Luís Raposo



----- Mensagem de Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com> ---------
Data: Thu, 17 Dec 2020 22:51:21 +0000
De: Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>
Assunto: Re: [Archport] Sobre as datas redondas
Para: Rui Gomes Coelho <ruigomescoelho@gmail.com>

Esta citação do Eça traz-me à memória outra citação, do mesmo Eça:

"Estou tagarelando muito. Acontece-me isto sempre que estou
consideravelmente estúpido."


Em qui., 17 de dez. de 2020 às 21:35, Rui Gomes Coelho
Caros colegas,

Já que estamos numa de refletir sobre números redondos, lembro que acabam de passar 175 anos sobre o nascimento e 120 sobre a morte de Eça de Queirós. Consta que o parlamento se prepara para votar a trasladação do escritor para o panteão nacional, ideia que certamente teria divertido o próprio. São razões mais do que suficientes para lembrar que foi Eça quem melhor identificou os grandes arquétipos da vida moderna em Portugal, seus rituais e agentes. E fê-lo de forma tão sofisticada que os seus textos ainda hoje ressoam quando nos deparamos com tantos panteonizáveis. Deixo-vos com um excerto d’A Relíquia (1887) e um abraço,

Rui Gomes Coelho

***

Era decerto em mim o deleite de rever, sob aquele céu de janeiro tão azul e tão fino, a minha Lisboa, com as suas quietas ruas cor de caliça suja, e aqui e além as tabuinhas verdes descidas nas janelas, como pálpebras pesadas de langor e de sono. Mas era, sobretudo, a certeza da gloriosa mudança que se fizera na minha fortuna doméstica e na minha influência social. Até aí, que fora eu em casa da senhora D. Patrocínio? O menino Teodorico que, apesar da sua carta de doutor e das suas barbas de Raposão, não podia mandar selar a égua para ir espontar o cabelo à Baixa, sem implorar licença à Titi... E agora? O nosso Dr. Teodorico, que ganhara, no contato santo com os lugares do Evangelho, uma autoridade quase pontifical! Que fora eu até aí, no Chiado, entre os meus concidadãos? O Raposito, que tinha um cavalo. E agora? O grande Raposo, que peregrinara poeticamente na Terra Santa, como Chateaubriand, e que, pelas remotas estalagens em que pousara, pelas roliças circassianas que beijocara, podia parolar com superioridade na Sociedade de Geografia ou em casa da Benta Bexigosa…





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----- Fim da mensagem de Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com> -----





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