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Re: [Archport] Um libelo?

To :   José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>, archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Archport] Um libelo?
From :   Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião <cfabiao@campus.ul.pt>
Date :   Sun, 3 Jan 2021 20:57:09 +0000

O nevoeiro, a nuvem e Juno:

a propósito das tontices deste blogue, que via archport chega ao meu conhecimento, apraz-me propor o que me parece ser a devida decomposição do tema:

o nevoeiro:
o arrazoado de comentários difamatórios do autor, infelizmente, são tema frequente das redes sociais: são todos uns banidos, é uma vergonha, etc., etc... Sem provas concretas e com supostos subentendidos, a fingir que fez e sabe, que disse e não foi ouvido, mas sem nada de credível para apresentar. Infelizmente, como sabemos, esse estilo já tem representação parlamentar (ou para lamentar...)

a nuvem:
Claramente exposta nas imagens que ilustram dois dos textos do blogue um conjunto de "peças" que tresandam a falsificação de baixo nível. Esta é uma realidade que se tem tornado recorrente em Portugal nos últimos anos ("colecção egípcia" do BPN, Museu de Arte e Arqueologia de Abrantes, etc.) e nem sempre as falsificações são de baixo nível.
Como chegam e se disseminam essas falsificações (as mais grosseiras ou as mais sofisticadas) cabe às autoridades competentes investigar. Há anos em um blogue alimentado, depois apagado, por um antiquário de Estremoz, que foi condenado e cumpriu pena de prisão, foram publicadas algumas pistas interessantes sobre o tema. Dizia o antiquário que esse material chegaria aos mercados (mais ou menos clandestinamente) a partir de sectores das autoridades policiais, particularmente das espanholas. Ao contrário do que sucede em Portugal, a Guardia Civil é bastante activa no desmantelamento de quadrilhas de salteadores e falsificadores de materiais arqueológicos (duas actividades que andam normalmentee a par). Quando uma rede é desmantelada, os artefactos autênticos são entregues a museus e as falsificações supostamente destruídas. Seria por aí que as coisas se disseminavam, por não haver real controle dessa destruição.
Como disse, o blogue desapareceu mas, antes disso, imprimi as suas páginas e entreguei-as ao IGESPAR, como sempre faço nestes casos.

Juno:
o verdadeiro problema (e que nada tem a ver, suponho, com os arqueólogos): a pilhagem e tráfico de material arqueológico, que constantemente existe, particularmente por gente equipada com detectores de metais. Esta questão não está de todo na agenda das autoridades e deveria estar.
Pessoalmente, aplaudi a legislação de 1999, que presumivelmente inibiria as práticas ilícitas de detectorismo em sítios arqueológicos. Presentemente, reconheço a sua escassa eficácia e pergunto-me se não deveríamos partir para um esquema como o existente em Inglaterra, através do Portable Antiquities Scheme (PAS):
  
 https://finds.org.uk/
 
Bem sei que os portugueses não são os ingleses (em matéria de comportamento cívico) e que há sérias críticas ao modelo, entre as quais as de David Gill, que particularmente estimo e considero:

https://www.pia-journal.co.uk/articles/10.5334/pia.333/

Para quem se interessa pelo tema do grande tráfico de antiguidades à escala mundial o blogue do David Gill é fonte fundamental:

https://lootingmatters.blogspot.com/

Pessoalmente, sempre que tomo conhecimento destas situações, materiais arqueológicos ou falsificações expostas na web, faço o que me parece a única atitude correcta: comunico às autoridades competentes.

Infelizmente, alguns arqueólogos, por ingenuidade e boa-fé, esquecem alguns preceitos fundamentais, consubstanciados no Código de ética para os museus:

https://icom.museum/en/resources/standards-guidelines/code-of-ethics/

Ou seja, abster-se de participar nestes esquemas e de colocar a sua sabedoria ao serviço da divulgação de materiais de procedência desconhecida, uma vez que essa procedência é frequentemente ilícita. Se Arqueologia é Cultura em Contexto, então o contexto interessa e é mesmo fundamental. Quanto ao mais, aí estão as autoridades policiais para proceder às devidas averiguações, competindo-nos denunciar, sempre que tomamos conhecimento de casos.

Com votos e um bom Ano Novo para tod@s

Carlos Fabião 

<jde@fl.uc.pt> escreveu no dia sábado, 2/01/2021 à(s) 16:07:

                Olá!

                Publicou ontem Cândido Ribeiro um texto que porventura pode merecer a atenção não apenas dos arqueólogos singulares mas também das entidades que à Arqueologia superintendem. (Esta é, claro, a minha opinião a respeito do que li).

                O texto pode ser lido em: https://duaslinhas.pt/2021/01/sem-vacina-a-vista-assim-vai-a-nossa-arqueologia/

 

                                                               J. d’E.

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