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Re: [Archport] In the discipline of archaeology, harassment is occurring at ‘epidemic rates,’ says Stanford scholar (Rui Oliveira)

Subject :   Re: [Archport] In the discipline of archaeology, harassment is occurring at ‘epidemic rates,’ says Stanford scholar (Rui Oliveira)
From :   Rui Oliveira <oliveira.rui.mg@gmail.com>
Date :   Fri, 2 Apr 2021 16:10:28 +0100

Então mas quando falamos em desigualdade social, não estamos necessariamente a falar de discriminação e, portanto, de diferenças? Ou deverei entender que essas diferenças são explicáveis somente pela acção do indivíduo e não de todo o seu contexto (e ainda alguma sorte)?

Afinal o Alexandre acha que, relativamente a estas questões, há problemas estruturais em Portugal, ou não? Confesso que nunca vi ninguém a tentar argumentar que "TODAS as experiências" são violentas ou abusivas; de qualquer modo, não me parece que para um problema ser estrutural, todas as experiências tenham que ser assim.

A lista que enunciou é uma lista de excepções que confirmam a regra (sendo a regra aqui entendida como o sistema/estrutura/modelo institucional, como queiram) ou está a usá-las para mostrar uma verdadeira tendência contrária ao tal discurso da "extrema esquerda"? Não estará a cometer o próprio erro de que Bloom fala?

Se é verdade que há uma "sempiterna luta pelo poder", não é igualmente verdade que foram os "brancos bons" a manipulá-lo durante centenas de anos para os seus interesses? Vamos negar a influência das políticas ocidentais na construção do mundo moderno e nos problemas actuais porque de vez em quando lá há um negro ou uma mulher que se safam bem na vida? Ou negamos as estatísticas dos estudos que apontam para estas desigualdades e medimos tudo a partir da nossa janela, como estava a fazer o Ricardo Gaidão (e semelhante tentativa vejo na lista que o Alexandre compôs)? É que assim para a falta de situações de discriminação que ele mencionou, eu posso facilmente descrever uma mentalidade machista que predomina em Portugal, seja na arqueologia ou noutra área qualquer. E apostaria sem grandes problemas que qualquer estudo estatístico nesse sentido iria suportar a minha opinião. Outro ponto interessante é que, na minha experiência, as atitudes mais "negacionistas" vêm quase sempre de homens brancos e raramente das próprias potenciais vítimas.

E se há um nicho que certamente se está a aproveitar politicamente destes tópicos para ganhar votos ou lucros ou só para lavar um pouco a cara, então isso é razão para levar os problemas menos a sério? Por pouco honrados que sejam, não foi graças a este tipo de fenómenos que ganhámos os direitos que temos hoje? Ou chegámos ali a 1789 e alguém lá se lembrou que a Monarquia estava demodé e que chegara a altura da democracia? Ou será que de repente algum homem no poder lá se lembrou que não devia haver escravos ou que as mulheres deviam votar?

Quem partilhou o estudo da Barbara Voss não fez qualquer comentário sequer sobre a situação em Portugal, apenas mencionou um estudo feito sobre realidades noutros países...e citou algo que eu mais vejo que sirva como "food for thought" mas o Ricardo assumiu logo que isso equivalia a transpôr esses "problemas epidémicos" para Portugal e usou os seus 20 anos de experiência para desmentir cabalmente qualquer problema estrutural...não deveríamos então primeiro tentar perceber se efectivamente há um problema de bullying e discriminação na arqueologia portuguesa? (se é que não foi ainda feito, confesso que não sei)

Tenho mesmo dificuldade em perceber como é que pessoas que trabalham em ciências sociais, que estão habituadas a ler sobre como a força, a opressão, a discriminação, e até a educação têm sido constantemente usadas ao longo dos tempos para perpetuar estruturas de poder tão facilmente rejeitam a existência de problemas estruturais na nossa sociedade.

Cumprimentos

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