Nem eu disse que o Alexandre disse que não havia problemas. Problemas há em todos os empregos como a minha mãe sempre me disse ahah.
Sinceramente, não tenho qualquer problema em que me chamem de racista ou de machista, se for no sentido de ter sido criado num ambiente racista ou machista. Acho é que as pessoas não percebem esta distinção entre o racista que decidiu que os males do mundo são os ciganos ou os pretos...e o racista que não tem esses preconceitos tão acentuados mas continua a indiciar vestígios desses mesmos preconceitos...como quando a minha mãe diz que alguém vai lá para África "ajudar os pretitos" (ora a minha mãe é uma pessoa que ajuda toda a gente que pode, independentemente da sua etnia) ou quando eu digo que o homem X deve ser gay por ser designer de interiores.
Também não acho que por os problemas serem menos graves devam deixar de ser vistos como problemas estruturais. A meu ver "estrutural", "sistémico", "institucional" não tem só a ver com a quantidade de casos ou a severidade do impacto...tem também que ver com a mentalidade que está na raíz de certos comportamentos e atitudes.
Dando um exemplo pessoal, no meu primeiro ou segundo dia de trabalho em arqueologia, quando as mulheres se ausentaram do grupo, perguntaram-me os meus colegas: "então..qual é que vais comer?"
Não mostrei grande interesse pela pergunta, tentei até não responder...ao fim da tarde um colega perguntou-me se eu era homossexual...porque parecia muito tímido.
Agora, considero que os meus colegas são pessoas decentes, acredito que não fossem pessoas capazes de violar uma mulher ou bater-lhe...mas não deixo de considerar o seu pensamento completamente sexista e a pressuposição posterior do meu colega um sintoma do predomínio dessa mentalidade completamente redutora: "ou queres comer gajas ou, se não tens namorada, és gay".
Se não é tão mau como noutras culturas? Certamente que não, mas não deixa de ser machismo, sexismo e discriminação...e está bastante bem distribuído pelo país. E há quem continue a sofrer com isso...e agora? Será que devemos tentar estabelecer um limite objectivo de sofrimento para que a queixa de alguém seja legítima e para ter a certeza de que ela não está só a tentar aproveitar-se de alguma benesse?
Também não quero dizer que o Estado esteja intencionalmente e com má-fé a tentar manter uma estrutura problemático-discriminatório-opressiva seja onde for, mas a verdade é que também não fez grande coisa para eliminar os preconceitos que vieram do seu passado...as políticas de integração social e a educação que recebemos e afins não atingiram o nível que deviam, penso que não negará isto...caso contrário eu não tinha de ouvir estudantes universitários de biologia a negar ou pôr em dúvida que a sexualidade humana vai para além do binómio homem-mulher...é neste sentido que interpreto o que são problemas estruturais, os quais, portanto, são transversais (em maior e menor grau) a todas as áreas da sociedade.
Pelo que volto a perguntar: acha que as pessoas ganham estas ideias por si próprias ou graças ao contexto geral em que cresceram, foram educadas e vivem?
Para dar mais um bocado de realidade à coisa, dou o exemplo do Reino Unido, cujo governo acabou de lançar um relatório afirmando que não existe racismo estrutural no Reino Unido: um país que nos anos 70 deslocou a população natural de uma ilha no oceano índico sem lhes perguntar nada para permitir o usufruto do território pelos EUA...penso que só o ano passado é que essas pessoas tiveram direito a algum tipo de compensação; um país que nos últimos 5 anos tem enviado "naturais" "criminosos" de volta para os seus países (países esses em que muitos nunca na vida puseram os pés); um país que declaradamente abriu um "ambiente hostil" para com imigrantes e tentou deportar milhares de migrantes por falta de documentos, quando foi o próprio governo a controlar e destruir muitos desses documentos....mas parece que não há racismo estrutural, o que há também são só casos pontuais de racismo ou "comunidades afectadas por casos históricos de racismo"...e alguns "pretitos" até se safam tão bem ou melhor na escola do que muitos brancos.