Bom dia a todos.
Há muitos anos que sigo esta fantástica mailing list que tanto tem contribuído para a arqueologia portuguesa. Contudo, acho que não se tem abordado devidamente a temática da precariedade laboral na Arqueologia.
Depois da Licenciatura e do Mestrado comecei a trabalhar há cerca de 5 anos numa empresa como "falsos trabalhador independente". Acrescento que sempre trabalhei desde muito jovem de forma a garantir sustento para as minhas despesas pessoais e nunca assisti a nada igual.
Gostaria de saber a opinião de boa parte dos utilizadores desta plataforma em relação à precariedade no sector da arqueologia empresarial / arqueologia em contexto de obra.
Sei que é uma problemática que já dura há anos mas penso que é necessário fazer alguma coisa. Ao longo dos anos tenho vindo a assistir a um vai e vem de arqueólogos que acabam por desistir da profissão pela qual se dedicaram anos a estudar. Acho que estamos todos um bocado fartos disto.
A precariedade laboral que se pratica no mundo da arqueologia tem-se revelado um enorme flagelo. Os recibos verdes não dão qualquer tipo de proteção social. Somos licenciados e mestres sem direito a férias, a subsidio de alimentação, a subsidio de natal, subsidio de desemprego, baixa médica, seguro de acidentes de trabalho, medicina no trabalho. Trabalhamos 8 horas por dia em ambientes perigosos e sem qualquer tipo de salubridade. E no final disto tudo, se tivermos sorte de trabalhar 21 dias por mês, porque toda a gente sabe como é que isto funciona " epá, agora esperas uma semaninha ou duas em casa e depois nós logo te chamamos", temos a felicidade de levar para casa um vencimento abaixo do ordenado mínimo nacional.
Eu pergunto: NÃO CHEGA JÁ??
Não haverá nada que se possa fazer? Os profissionais de arqueologia encontram-se completamente desgastados. E no final de tudo quem paga é o património.
Penso que os donos das empresas tem a obrigação de se sentar à mesa e discutirem esta matéria. É inadmissível continuarmos nestas condições. Tal como uma obra não se faz sem Engenheiros, também não se faz sem arqueólogos (quando necessário). Se esta obrigação está prevista na lei então como é que se explica tal disparidade salarial??
Eu não sei se já se aperceberam, mas nós temos a faca e o queijo na mão ou pelo menos podíamos ter.
Eu não sei se isto vai para a frente que Ordens, Greves ou Sindicatos. Sei que este assunto merece a atenção de todos. É inaceitável continuarmos a tapar o sol com a peneira e continuar a assobiar para o lado.
Francisco Franzola