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Re: [Archport] precariedade em arqueologia

To :   jose sampaio <j.a.sampaio.75@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] precariedade em arqueologia
From :   Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>
Date :   Mon, 23 Aug 2021 18:35:49 +0100

A margem de lucro nos orçamentos é irrisória porque as empresas competem entre si para ver quem apresenta o orçamento mais baixo.

Infelizmente, o sistema foi desenhado para privilegiar os donos de obra ao invés da salvaguarda do património. 

Por outro lado, há por vezes exigências aos promotores que são desnecessárias -e onerosas - para o fim em vista: impedir a destruição de património público para benefício de actividades privadas.

Na verdade, o que deveria haver era uma listagem tabelada  de preços de trabalhos arqueólogicos por unidade de terreno/meio/potencial arqueólogico/tipo de intervenção. Tipo: uma prospeção de um terreno agrícola em Serpa, com 2 hectares, são 7000 euros. Um EIA no to Sado são 10 euros por metro quadrado até aos 15 metros e etc.

Esse valor deveria ser cobrado à cabeça ao promotor pela tutela. 

Os trabalhos arqueológicos deveriam então ser adjudicados pela tutela (por sorteio? à vez?) entre todas as empresas de arqueologia que detivessem o alvará apropriado para essa intervenção, alvará esse que só seria outorgado mediante a satisfaçao de determinadas condições e que seria também o aval das suas capacidades técnicas (urbana, subaquática, pre-história, etc).

Assim, evitavam-se as pressões dos donos das obras e o esmagamento dos orçamentos. E dignificava-se a profissão. E os profissionais.

Em segunda-feira, 23 de agosto de 2021, jose sampaio <j.a.sampaio.75@gmail.com> escreveu:

Caros colegas,

 

Alguém disse nesta discussão que a resolução passa por denunciar cada vez mais ao sindicato. Mas realmente para que?

O que tem conseguido o sindicato nestes anos pelos arqueólogos que trabalham a recibos verdes em arqueologia preventiva?

Até ao momento não vi grandes alterações desde que sai da faculdade nos anos 90. Já nessa altura se falava em sindicatos, greves e ordens profissionais.

 

No meu entender, o sindicado tem aqui uma oportunidade única de finalmente fazer a diferença. Em vez de trabalhar contra as empresas de arqueologia, deveria antes trabalhar juntamente com elas, de forma a criar condições reais e duradouras de mudança e estabilidade para os profissionais de arqueologia.

 

Porquê o STARQ ainda não promoveu uma concertação social entre as empresas tutela e sindicato? Não seria talvez essa a única forma de as empresas conseguirem em conjunto criar acordos para melhorar as condições salariais?

 

As empresas de arqueologia, assim como os arqueólogos não são ricas. Trabalham mensalmente para conseguir fechar o mês. A margem de lucro nos orçamentos é irrisória e os impostos estrangulam a quase totalidade de dinheiro de tesouraria. 

 

Uma empresa que tente executar o caderno reivindicativo elaborado pelo STARQ teria de aumentar os seus orçamentos para mais de 5.000,00€ mês de acompanhamento arqueológico e mais de 500,00€ do m3 de escavação arqueológica. Uma vez que além de cumprir com o caderno reivindicativo do STARQ, tem ainda de pagar impostos, despesas de escritório, seguros, relatórios, estudo de materiais, publicações, outros funcionários administrativos, deslocações, alojamentos, alimentação. 

 

Nenhuma empresa, por mais boa vontade que possa ter, pode sozinha, aumentar os orçamentos para valores que realmente lhes possibilita dar condições dignas aos seus funcionários e colaboradores externos a recibos verdes. À semelhança dos profissionais de arqueologia, as empresas não dialogam entre si de forma a criar uma associação, ou reais alterações.

 

A única solução passará por uma tentativa do STARQ promover uma concertação social que defina um acordo base entre empresas, sindicato e tutela.

 

José Sampaio

 


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