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[Archport] Sobre o texto: Como descolonizar a arqueologia portuguesa?

To :   archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Sobre o texto: Como descolonizar a arqueologia portuguesa?
From :   Ricardo Gaidão <gaidao@hotmail.com>
Date :   Fri, 3 Sep 2021 21:29:37 +0000

Após a leitura do texto “Como descolonizar a arqueologia portuguesa?” fiquei com a ideia que a competição, pelas verbas para projectos de investigação, entre os defensores da Critical Race Theory está cada vez mais difícil. Pelos vistos já não basta usar palavras/expressões mágicas para obter aprovações (ex. “Privilégio branco”, “LGBT”, “Escravatura”, etc.), agora parece que ganha quem as usar mais vezes num único texto!


A palavra "colonial" e seus derivados é citada 80 vezes! Pelo menos 50 destas ocorrências em contextos que nada têm – academicamente falando – que ver, em rigor, com o fenómeno colonial.


Para quem queira conhecer melhor as ideias que norteiam a Critical Race Theory sugiro um site recomendado recentemente na Archport por Alexandre Monteiro:


HISTORY RECLAIMED

https://historyreclaimed.co.uk/why-we-are-reclaiming-history/


«History has become one of the major battlegrounds in the culture wars that are causing anger and alarm across the democratic world. They are particularly virulent in North America, Australasia and Britain (…) Activists sometimes assert that ‘facing up’ to a past they present as overwhelmingly and permanently shameful is the path to a better and more ‘inclusive’ future.  But the real effect—perhaps the true aim—of their actions is nihilistic destruction.  Tendentious and even blatantly false readings of history are creating divisions, resentments, and even violence.  This is damaging to democracy and to a free society. »


em especial os textos:


Critical Race Theory

https://historyreclaimed.co.uk/critical-race-theory/


«We have a new elite that uses not racism but anti-racism to invent differences between people which it exploits for its own ends. These radicals do not want to end racism but for it to continue indefinitely. They must not be allowed to get away with this.»


Why Is the Society for American Archaeology promoting indigenous creationism?

https://historyreclaimed.co.uk/why-is-the-society-for-american-archaeology-promoting-indigenous-creationism/


«Human remains, whether single individuals or large collections, never lose their usefulness, but data collected on the remains many years ago may become less useful over time when methods improve (…). By repatriating human remains, the science of the past is deterred, and the result is a negative impact on our ability to understand our humanity.»


Cultural institutions are applying double standards to create a narrative of grievance.

https://historyreclaimed.co.uk/cultural-institutions-are-applying-double-standards-to-create-a-narrative-grievance/


«If cultural institutions are sincere about educating the public about history, I would applaud. But they would have to tell the whole story honestly and accurately. Instead, the truth is often bent to appease aggressive lobbies.»


Decolonising the curriculum

https://historyreclaimed.co.uk/decolonising-the-curriculum/


«Decolonisation may be welcome as part of a free debate, but it must not be enforced. Political endorsement by University leaders is a failure of leadership and crosses a line. The key values of evidence, reason and academic freedom are under threat.(...) First, the decolonising the curriculum movement derives its moral impetus by alleging that UK universities are endemically racist. Fortunately, the evidence paints a much brighter picture. Among UK higher education staff, the difference in proportions between white professors (11.2%) and BAME professors (9.7%) is small, at 1.5 percentage points. »


e um artigo de Luís Raposo, em que questões assumidamente complexas, são abordadas de forma bastante imparcial:


Devolver património, sim, não, talvez… Mas devolver o quê e a quem?

https://www.publico.pt/2020/01/29/culturaipsilon/opiniao/devolver-patrimonio-sim-nao-devolver-1902190



O fenómeno histórico do colonialismo é demasiado complexo e importante, para ser utilizado como sinónimo (com significados muito pessoais) de um conjunto de valores do passado, com o qual alguém não se identifica.


O seu estudo sério, e urgente, é absolutamente necessário para compreender o mundo actual, assim como novos cenários num futuro muito próximo.


Ninguém se iluda, os europeus não inventaram o colonialismo, e o fim do colonialismo europeu não ditou a sua extinção.


Curiosamente no presente, a maioria das antigas colónias europeias, são geralmenteinflexíveis em reconhecer a auto-determinação de povos dentro do seu território.

Irónico que nações forjadas no anti-colonialismo, sejam ainda incapazes de relegar o maior legado colonial de todos, as suas próprias fronteiras. Afinal os seus antepassados derramaram sangue e lágrimas por aquela terra indivisível, dizem os seus lideres! Salazar tinha um discurso muito semelhante.


É muito fácil criar um discurso que agrade aos lideres destes países (e reitores de universidades dos EUA!), culpabilizando os europeus por todos os males do mundo, acrescentando humildes pedidos de desculpa pelo sofrimento causado (não por nós, mas por alguém que viveu há 100 ou 500 anos!), reencaminhando acriticamente espólios de museus europeus para África (até para países sob o domínio de cleptocratas ou de fanáticos iconoclastas e incluindo objectos que foram comprados legalmente ou oferecidos por via diplomática), etc.


O difícil é usar os mesmos critérios e pedir a oligarcas africanos ajuda para criar museus ou doar colecções (o milionário Sindika Dokolo era considerado o maior coleccionador mundial de arte africana), ou exigir ao actual presidente de Angola que reconheça, por exemplo, a independência de Cabinda.


Não sei qual seria a reacção exacta do Sr. Presidente, mas seguramente que o sonho de um qualquer “Museu da Escravidão e Colonialismo” em Luanda, feito para legitimar uma nova mitologia nacional e devidamente arquitectado por “brancos bons” iria imediatamente por água abaixo.



P.S.

Caro prof. Rui Coelho, relativamente ao seu texto, apenas uma pequena correcção. Quando refere o estudo de caracterização da comunidade de trabalhadores de arqueologia em Portugal, refere que:


“Nesta amostra, os trabalhadores de arqueologia estrangeiros correspondem a 5.3% da comunidade, um número que está muito perto da percentagem de estrangeiros em Portugal (4.7%)8. Porém, a diversidade étnico-racial é extraordinariamente baixa, com apenas um afro-descendente (0.5%) e seis pessoas a identificarem-se como de “origem mista” (3.6%). “


Penso que se enganou.


Admitindo que os trabalhadores no sector são todos “homo sapiens”, penso que a percentagem correcta é mesmo de 100% afro-descendentes.






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