Muitas vezes digo que se a democracia não funciona no nosso país não é por falta de meios mas por falta de interesse dos cidadãos. Este processo de consulta pública é uma excelente oportunidade para fazer a democracia funcionar. Não se iludam, a democracia constrói-se muito mais na cidadania ativa do que através de atos panfletários. O registo do património arqueológico em Portugal nasceu torto mas não é uma fatalidade que tarde ou nunca se endireite. Todos os profissionais de arqueologia conhecem erros grosseiros na identificação, localização e caracterização de sítios arqueológicos que estão na base de dados Endovelico. Quantos deles já informaram a entidade da tutela sobre o facto e forneceram dados para a corrigir? Muitos certamente. Eu fui uma delas, em mais do que uma ocasião. Mas onde entra a parte da cidadania ativa não é na informação, é em não desistir e exigir a qualidade nesse registo. Ainda hoje estou à espera da correção dos dados que enviei à tutela mas não é isso que me faz desistir de exigir: - uma estratégia e uma política de dados para o registo da informação arqueológica em Portugal; - um investimento estruturado nos recursos, sobretudo os humanos, que suportam os sistemas de informação dos bens culturais em Portugal; - a adoção de práticas de gestão de informação baseadas nos princípios FAIR. Faço-o enquanto cidadã consciente das implicações que um registo incorreto de informação arqueológica tem no uso e no ordenamento do território. Sobre o megalitismo alentejano não tenho informação nenhuma. Mas muitos de vocês têm. Consultem o despacho de classificação, exijam acesso a cartografia em suporte e resolução que vos permita verificar o que está a ser proposto classificar. Reclamem do que vos parecer desadequado e injustificado. Não se esqueçam também, e não só no âmbito deste processo de consulta, de falar com os vossos clientes e de alerta-los para este problema. Clientes de empresas de arqueologia mas também (cedendo a uma terminologia neo-liberal que me desagrada) clientes dos serviços públicos que prestem: o munícipe, o investidor, o público de museus e sítios visitáveis. Eles são os principais prejudicados com uma má gestão de informação sobre o património arqueológico. Expliquem-lhes isso. Tragam-nos para o vosso lado. Se querem que as coisas mudem para melhor invistam algum esforço para que isto não seja "uma coisa de arqueólogos". E lá voltamos à promoção da cidadania ativa... Participem! Maria José Almeida arqueóloga não praticante
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