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[Atped] Fw: Ponto e Som - 140 - Janeiro 2009

To :   <atped@ml.ci.uc.pt>
Subject :   [Atped] Fw: Ponto e Som - 140 - Janeiro 2009
From :   luís barata <lbarata@ci.uc.pt>
Date :   Mon, 1 Feb 2010 15:37:10 -0000

Reencaminhamos mais um número da revista ponto e som. Esta publicação é da responsabilidade da ária de leitura especial da biblioteca nacional.
Luís Barata
Universidade de Coimbra ? Administração
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To: ACAPO - DELEGAÇÃO DE BRAGA ; ADFA ; ALTINO SANTOS ; AMERICO LISBOA AZEVEDO ; ANA MARIA MEDEIROS ; ANA PAULA C. PINA ; ANA PAULA SOUSA ; ANDREIA FILIPA BOTEQUILHA ; ÂNGELO MIGUEL ABRANTES ; ANISIO CORREIA ; ANTÓNIO BAIÃO PALMINHA ; ANTÓNIO CARLOS PAMPULIM SANTOS ; ANTÓNIO FOUTO REIS ; ANTÓNIO JOÃO NOBRE RODRIGUES ; ANTÓNIO JOAQUIM LIMA ; ANTÓNIO JULIO FONSECA ; ANTONIO MANUEL BRAS ; ANTÓNIO MANUEL PATRONILHO ; APEDV ; ARMANDO MARTINS ROSA ; AUGUSTO HORTAS ; AURÉLIO SOBRAL ; AVENTINO GONÇALVES ; BIBLIOTECA MUNICIPAL D. DINIS (BMDD) ; BIBLIOTECA MUNICIPAL DE ALBUFEIRA ; BIBLIOTECA PUBLICA DE GAIA ; CARLA MARIA FERREIRA DOS MÁRTIRES ; CARLOS BASTARDO ; CARLOS CORDEIRO ; CARLOS FERREIRA ; CÉLIA MARIA MARCELINO DUARTE ; CELINA FREITAS SOL ; CLÁUDIA PATRÍCIA CARMO ; CLAUDIA TRIGO ; CLAUDINO ARIEIRA PINTO ; DANIEL CARVALHO DUARTE ; DIOGO SALEMA CORDEIRO ; FERNANDO GABRIEL GONÇALVES ; FERNANDO JORGE CORREIA ; FERNANDO SANTOS HENRIQUES ; FILOMENA ALMEIDA SILVA ; FRANCISCO PINTO ; GABINETE DE APOIO AO ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA ; HERMINIA SILVARES ROBALO ; HUGO ERNESTO CANTEIRO ; HUGO LOURENÇO PINTO LOUREIRO ; ISIDRO DA EIRA RODRIGUES ; JOANA BELARMINO DE SOUSA ; JOÃO MANUEL FERNANDES ; JOAQUIM JESUS ; JONIR BECHARA SEQUEIRA ; JORGE FELICIANO ARAÚJO RODRIGUES ; JORGE MANUEL J. M. PINHEIRO ; JORGE PATRICIO ; JOSÉ ADELINO GUERRA ; JOSÉ ADELINO GUERRA ; JOSÉ ANDRÉ LUCAS SIMÃO ; JOSE ANTÓNIO SALGADO BAPTISTA ; JOSÉ ANTÓNIO OLIVEIRA ; JOSÉ ANTÓNIO PATALONA ; JOSÉ ELÍDIO NEVES ; JOSÉ FILIPE AZEVEDO ; JOSÉ FRANCISCO CASEIRO ; JOSE JOAQUIM CALÇÃO LAGARTIXA ; JOSÉ LUIS DE ALMEIDA ; JOSÉ MALHEIRO PEREIRA ; JOSÉ MANUEL DA PONTE SILVA ; JOSÉ MANUEL FERREIRA ; JOSÉ MANUEL G. F. OLIVEIRA ; JOSÉ MÁRIO ALBINO ; JOSÉ MIGUEL JORGE SANTOS ; LEONARDO CUNHA DA SILVA ; LUÍS FILIPE BARATA ; LUÍS MANUEL FERREIRA ; LUIS PINÃO MARTINS ; LUÍSA MARIA ESTEVÃO ; MAFALDA FERREIRA NUNES ; MANUEL DUARTE BALSEIRO ; MANUEL HORTA ; MANUEL JOÃO RODRIGUES ; MARCO AURÉLIO BRANCO ; MARIA ALDEGUNES PATACO MARTINS ; MARIA CIDÁLIA MARQUES PEREIRA ; MARIA DE FATIMA TOMAS ; MARIA FERNANDA PEREIRA ; MARIA LUÍSA ESTEVÃO ; MARIA LUÍSA FÉLIX ; MARIA MANUELA VIDAL ; MARIANA ROCHA ; MIGUEL ÂNGELO VICENTE ; NELSON GONÇALVES ; NUNO MANUEL PAIVA DE OLIVEIRA ; NUNO MIGUEL CRUZ ; NUNO RICARDO BRANCO ; ODELITA FIGUEIREDO SILVA ; OLÍVIA RAIO ; ORLANDO MONTEIRO ; PAULA CRISTINA LEITES ; pfranca@bn.pt ; PAULO PÁSCOA ; PEDRO SALEMA CORDEIRO ; RAUL JOSÉ ALVITO ; RENATO ANTONIO PAVÃO SILVA ; RENATO LUÍS ESPADA ; RICARDO TEODORO ; RITA DE CÁSSIA GONÇALVES DA SILVA ; RITA PEDREIRA ; ROMEU DOS SANTOS LOURENÇO ; RUI MIGUEL SEGURADO DA SILVA ; RUTH TEIXEIRA DE QUEIRÓZ ; SIDÓNIO FARIA ; SUSANA CORDEIRO ; TELMA NANTES DE MATOS ; TIAGO NICOLAU LOUSA ; TIAGO REALINHO ; ULISSES ALVES DA SILVA ; VÍCTOR MANUEL CALHA ; VITOR ALBERTO MARQUES ; VÍTOR BORDALO COELHO ; VITOR CHAVES ; VITOR GRAÇA ; VITOR MANUEL ALMADA ; VITOR NUNES
Sent: Monday, February 01, 2010 3:21 PM
Subject: Ponto e Som - 140 - Janeiro 2009

Ex.mo(a) Sr.(a)

 

Envio em anexo o ficheiro correspondente à revista Ponto e Som Nº 140.

 

Com os melhores cumprimentos,

 

 

Maria Aldegundes M. P. Martins

Biblioteca Nacional de Portugal

Área de Leitura para Deficientes Visuais

Campo Grande, 83, 1749-081 Lisboa

Tel.: +351 217 98 20 99  Fax: +351 217 98 21 38

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Subject :   Biblioteca Nacional de Portugal
From :   <Guardado pelo Windows Internet Explorer 8>
Date :   Mon, 1 Feb 2010 15:10:35 -0000
Title: Biblioteca Nacional de Portugal

 

 

 

 

 

Biblioteca Nacional de Portugal

 

 

 

Área de Leitura para Deficientes Visuais

 

 

 

PONTO E SOM

 

 

 

Cultura e Informação

 

 

 

– Publicação trimestral –

 

 

 

Nº 140

Janeiro 2009

 

 

 

 

Biblioteca Nacional de Portugal

Área de Leitura para Deficientes Visuais

Campo Grande 83

1749-081 Lisboa

Tel. 217982000

Fax: 217982138

Internet: www.bnportugal.pt

E-mail: ale-leitura@bn.pt

 


 

 

 

 

FICHA TÉCNICA

 

Responsabilidade Editorial

Isidro Rodrigues (coordenação)

Cláudia Trigo

Claudino Pinto

 

Edição Sonora

 

Vozes:

Helena Falé

Maria Clara

 

Produção: Claudino Pinto

 

Proces. e Impres.

José Luís de Almeida

 

 

ISSN

 

Versão Braille: 0874-5420;

Versão Áudio: 0874-5439;

Versão Electrónica: 0874-5447 (texto).

 


 

 SUMÁRIO

 

 

Editorial

 

200 Anos do nascimento de Luís Braille

 

A clonagem chega ao mundo dos primatas e desta vez não é ficção

 

Evolução e fé religiosa: incompatíveis?

 

Varanda do Leitor – O Último Adeus

 

As Nossas Colecções


 

 

EDITORIAL

 

 

Isidro E. Rodrigues

 

 

Comemora-se em 2009 o bicentenário do nascimento de Louis Braille, genial cidadão francês que, perdendo a luz física dos olhos aos três anos de idade, soube fortificar a luz interior que o orientou em toda a sua vida, que o fez entender profundamente a problemática dos que como ele estavam impedidos de alcançar os níveis de cidadania dos normovisuais. Porque desde cedo percebeu que a impossibilidade de ler e escrever e, portanto, de aceder à escolarização normal, à informação e outros bens culturais era algo que teria de ser vencida, dedicou todo o seu saber, toda a sua juvenil actividade intelectual à procura de um método de leitura e escrita funcional que abrisse aos deficientes visuais as portas de um novo mundo, onde a desigualdade fosse significativamente atenuada. Conseguindo a satisfação desse desiderato, ofereceu à humanidade o método de leitura e escrita para cegos que rapidamente conquistou o mundo civilizado sob a designação de “Sistema de Escrita e Leitura Braille”.

 

Sendo esta efeméride considerada de capital importância pelos organismos internacionais e nacionais de todos os continentes, a Área de Leitura para Deficientes Visuais da Biblioteca Nacional de Portugal (que também comemora o seu quadragésimo aniversário), constituiu uma Comissão promotora das comemorações desta efeméride que integra o Instituto Nacional para a Reabilitação, a Casa da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, o Gabinete de Dinamização Cultural da Direcção Municipal de Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (que comemora o seu vigésimo aniversário), a Direcção Regional de Lisboa do Ministério da Cultura e outras personalidades.

 

Estando já consumados, em Setembro de 2007, os indispensáveis procedimentos para a constituição desta comissão, logo nesse mês se iniciaram os trabalhos conducentes à concepção de um programa exequível em tempos de crise de contornos como a que se abateu sobre nós, programa que começou a ser executado no dia 4 do mês em curso com a celebração da Eucaristia, na Igreja dos Franceses, em Lisboa, em memória do ilustre filho de França que, libertando-se da morte pela obra realizada ao longo de sua curta existência terrena, se tornou património da Humanidade.

 

A essa celebaração tivemos nós a feliz oportunidade de assistir, em representação da ALDV/BNP, e dela assinalamos a serena e muito digna alocução proferida pelo Presidente da Direcção Nacional da ACAPO, Dr. Carlos Lopes.

 

Logo em sucessão, no dia 5, teve lugar nas instalações da Biblioteca Nacional de Portugal, a abertura solene do ano das comemorações, da qual salientamos a conferência proferida pelo magnífico orador, Professor Doutor Boaventura de Sousa Santos, que, além de ter atraído à sala de Conferências figuras públicas que normalmente não se vislumbram em eventos de âmbito tiflológico, tratou o tema que lhe foi proposto (Louis Braille e sua obra), focalizando aspectos da cultura então desabroxante, que condicionara seguramente o trabalho realizado por Barbier de la Serre, Valentin Haüy e culminado por Louis Braille.

 

Do início ao fim da exposição, manteve o Professor a assistência presa à sua oratória, não só pelo conteúdo desta ter excedido o esperável, mas também pela forma de estilo, simplicidade e clareza com que foi transmitida ao repleto auditório.

 

E se relevámos a Conferência e o Conferencista, tal não significa que queiramos retirar o brilho à abertura da Sessão solene, presidida pelo Sr. Director-geral da Biblioteca Nacional de Portugal, Dr. Jorge Couto, que, em sucinta alocução, se pronunciou sobre o significado das comemorações então encetadas e anunciou o programa a cumprir ao longo do ano, sessão solene em que a sr.ª Secretária da Cultura que tutela a Biblioteca Nacional de Portugal dirigiu ao auditório uma saudação e a Sr.ª Secretária Adjunto para a Reabilitação dos Deficientes referiu, em detalhado discurso, as realizações operadas ou a concretizar no seu Ministério a favor da promoção dos deficientes em geral e, em particular, dos deficientes visuais, das quais se sublinha a criação, a breve trecho, do núcleo de Braille.

 

Também a abertura da II parte, presidida pelo Responsável da Área de Leitura para Deficientes Visuais da Biblioteca Nacional de Portugal, decorreu em harmónico concerto com o todo, tendo o Dr. Carlos Lopes dirigido à assistência, palavras eloquentes acerca do evento comemorativo e do papel que à ACAPO incumbe protagonizar, e, cumprindo a missão que lhe havia sido determinada, o Responsável da ALDV/ /BNP procedeu à apresentação do Orador Convidado e, no final, encerrou a sessão solene, tecendo algumas considerações acerca da magnífica conferência a que acabávamos de assistir e solicitando ao Orador a bondade de conceder à ALDV/ /BNP o escrito da conferência para posterior publicação nesta Revista.

 

 

Acresce ainda referir que, integrando-se no espírito destas comemorações, foram, acto contínuo, inauguradas as novas instalações em que a ALDV passa a funcionar.

 

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200 Anos do nascimento de Luís Braille

LOUIS BRAILLE (1809-1852) De um humilde berço ao Panteão Nacional

 

F. P. Oliva

 

 

Em 2009, um pouco por todo o mundo, assinala-se o segundo centenário do nascimento de Luís Braille, ocorrido em 4 de Janeiro de 1809, em Coupvray, a umas escassas seis dezenas de quilómetros a leste de Paris. Em Portugal, as comemorações em curso tiveram início no próprio dia do aniversário, um domingo, com actos religiosos, em atenção à forte convicção católica do homenageado. Actos de natureza diferente também já se realizaram e outros irão seguir-se-lhes ao longo do ano.

 

Até agora, o acto maior das comemorações foi o Congresso Internacional que teve lugar de 5 a 7 de Janeiro, em Paris, na sede da UNESCO, organizado pela Associação Valentin Haüy e pelo Instituto Nacional dos Jovens Cegos, onde Braille foi aluno e professor. Neste Congresso estiveram 480 delegados de 46 países dos cinco continentes, dos quais não fez parte Portugal. Outras ausências, mais inesperadas e surpreendentes, se verificaram também, como se comprova pela declaração seguinte: “Exprimimos a nossa profunda desilusão e consternação pela ausência de representantes do Governo francês nas cerimónias comemorativas do 4 de Janeiro e neste Congresso que presta homenagem a um dos mais ilustres filhos da França. Manifestamos a esperança de que o Governo francês esteja representado ao mais alto nível na segunda Conferência comemorativa que terá lugar em Coupvray em Junho de 2009.” Esta declaração, aprovada por unanimidade e aclamação pelos participantes, foi proposta pelos quatro últimos Presidentes da União Mundial de Cegos, presentes no Congresso, depois de aprovadas as Resoluções.

 

Não sendo este o espaço apropriado para inserir essas Resoluções, não queremos, no entanto, deixar de destacar, a título de exemplo, duas ou três expressões-chave, utilizadas por alguns participantes, que realçam bem o espírito que impregnou a substância das intervenções. Citamos primeiro “Os seis pontos que mudaram o mundo”, como salientou Euclid Herie (Canadá), um dos ex-presidentes da União Mundial de Cegos; referimos também o “Gutenberg dos Cegos”, como lembrou Françoise Madray-Lesigne (França), Secretária-Geral da Associação Valentin Haüy, ao evocar as palavras de Hippolyte Coltat, amigo e biógrafo de Braille, proferidas na inauguração do busto de Braille, em bronze, da autoria de Étienne Leroux, numa praça de Coupvray, palavras recordadas mais tarde, emocionadamente, por Helen Keller, aquando da trasladação das cinzas de Luís Braille para o Panteão Nacional. Por fim, citamos palavras de Pedro A. Zurita (Espanha), ex-Secretário Geral da União Mundial de Cegos: “É importante fazer compreender a todos os profissionais que o braille continua a ser um instrumento muitíssimo válido de liberdade e acesso ao saber. As novas tecnologias e o braille devem constituir-se numa parceria harmoniosa.”

 

Entretanto, foram anunciadas emissões especiais de selos e moedas alusivas à efeméride. O Governo italiano fez saber que, no âmbito do bicentenário, vai ser lançada na Itália uma emissão de 200 milhões de moedas de dois euros, com a efígie de Luís Braille. Já é público também que, muito em breve, terá lugar uma emissão de moedas da República de Malta. Em Portugal, a ACAPO e o INR aceitaram cooperar no lançamento de um selo pelos CTT. A Exposição “O Braille em Portugal”, organizada pela Biblioteca Nacional de Portugal/Área de Leitura para Deficientes Visuais, estará patente em Lisboa, em Coimbra e Leiria, estando programada, para 2010, a sua deslocação à cidade de Faro. Esperam-se também publicações, diversos certames e concursos.

 

 

*** *** ***

 

 

Luís Braille foi o mais novo dos quatro filhos de Simão Braille e Mónica Baron, naturais de Coupvray, onde constituíram família em 1792. Simão aí exerceu o ofício de correeiro; e a família contribuía também para a economia doméstica ocupando-se da agricultura. Esta família, como tantas outras, tinha tudo para nunca ouvirmos falar dela, não fora o ferimento que, em 1812, não se sabe em que dia, o pequeno Luís, apenas com três anos de idade, causou num dos olhos, em circunstâncias não completamente esclarecidas, quando brincava na oficina do pai. A infecção que sobreveio e acabou por atingir o outro olho, provocou a cegueira. Acontecimento tão lastimável, como este foi, deixou a família e os amigos completamente desolados. Mas cerca de uma dúzia de anos mais tarde, Firmin Le Guével, condiscípulo de Luís no Instituto Nacional dos Jovens Cegos, compôs um soneto que intitulou “La Serpette”, a ferramenta supostamente envolvida no acidente, então celebrado como “providencial” para os cegos, já veremos porquê.

 

Quando Luís nasceu, já os pais estavam na meia idade; e foi acolhido também por duas irmãs, uma com 16 e a outra com 11 anos, e por um irmão com 14. Era, por isso, o centro da convergência dos afectos familiares. Acalmada a perturbação emocional que um desastre como o de que Luís foi vítima naturalmente provoca, a família procurou recompor-se. Era preciso apoiar por todos os meios o pequeno Luís para o não deixar cair na inacção, na apatia. Nesse sentido, depressa vamos encontrá-lo envolvido nas actividades da casa, domésticas e oficinais. A confecção de franjas para os arneses, de que ficou encarregue, terá certamente contribuído para o adestramento de mãos e de dedos que de tão grande importância viria a revelar-se.

 

Mas era preciso alargar os limites deste estreito horizonte. Para esse efeito deram uma preciosa contribuição o Pároco e o Professor de Coupvray. Este, ao autorizar que Luís permanecesse na classe, como ouvinte, o que lhe permitiu o contacto com a matéria escolar, do que fez um excelente aproveitamento. Ficou evidente, desde logo, o grande poder de concentração e a notável capacidade de memória do ouvinte. Por outro lado, o contacto com os colegas teve também efeito positivo facilitando o relacionamento com os outros. O Pároco, no decurso dos muitos passeios que deu com a criança, levava-a ao contacto táctil constante com muito do que lhe ficava ao alcance, no intuito de lhe permitir apreender formas, dimensões, texturas, etc.

 

Mas, apesar de tudo, Simão continuava a ver com muita apreensão o futuro do filho, que o preocupava profundamente. Que poderia ele fazer para acautelar esse futuro? Certamente na sequência de informações obtidas não se sabe como, contactou o director do Instituto Nacional dos Jovens Cegos, de Paris, sucedâneo da escola fundada por Valentin Haüy, em 1784, sobre a actividade aí desenvolvida e condições de admissão e frequência. Mas só após um longo período de refleção e muitas hesitações, Simão se decidiu a inscrever o filho. Luís deu entrada no Instituto em 15 de Fevereiro de 1819, com 10 anos de idade. Nesse estabelecimento viria a viver até à morte, exceptuado o tempo de férias e de outras permanências junto da família, motivadas por problemas com a saúde que começaram a surgir por volta dos 26 anos. Neste contexto decorreu toda a actividade a que o jovem Luís se dedicou: como aluno, professor, investigador, inventor, organista.

 

 

*** *** ***

 

 

Poucos anos depois de Luís Braille ter entrado para o Instituto, já professores e colegas se davam conta das suas faculdades notáveis. A esse propósito, o Director, Pignier, citado por Pierre Henri, exprime-se assim: “Dotado de grande facilidade, de uma inteligência viva e sobretudo de uma rectidão de espírito notável, depressa se tornou conhecido pelos progressos e pelos sucessos nos estudos. Os trabalhos literários e científicos só compreendiam pensamentos exactos; e distinguiam-se por uma grande clareza de ideias, expressas num estilo claro e correcto. Reconhecia-se neles a imaginação; mas sempre guiada pelo julgamento.”

 

Logo no início da aprendizagem, Luís Braille, como os outros alunos, depressa teve a experiência das dificuldades com a leitura. Os caracteres então usados na produção de livros em relevo, representavam as letras vulgares. Estas, criadas para os olhos, prestavam-se mal à leitura táctil. Para facilitar o discernimento, recorria-se à ampliação e à simplificação dos caracteres, daí resultando volumes enormes, o que acabava por contribuir também para agravar a dificuldade. Por outro lado, só era possível escrever usando a pena ou o lápis, com resultados francamente medíocres, ou pelo processo da composição tipográfica. Foi disso que Barbier se apercebeu na Exposição Industrial, quando passava pelo stand do Instituto onde os alunos mostravam as suas capacidades.

 

 

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Charles Barbier é-nos apresentado por Pierre Henri como ”um destes utópicos que quase sempre se encontra na origem das ideias fecundas”. Era capitão de artilharia, mas tinha especial interesse por problemas de escritas rápidas e secretas. Ao apresentar na Exposição uma máquina para as suas escritas, a sua atenção foi atraída pelo stand do Instituto, onde logo notou a dificuldade com que os cegos liam os seus livros. Isso levou-o a deter-se no problema e a aperceber-se de que o seu sistema continha potencialidades interessantes também para os cegos. Nesta perspectiva, após percorridas mais algumas fases de trabalho, acabou por chegar a uma solução – a Sonografia Barbier, que experimentou no Instituto em 1824. O resultado foi tão animador que recebeu financiamento para concluir o trabalho.

 

A Sonografia Barbier é um código estenográfico que representa os 36 sons mais frequentes do francês, através de outras tantas formações de pontos obtidas numa matriz de seis em altura por dois de largura. A introdução do ponto foi uma importante inovação, muito mais vantajosa para a apreensão táctil do que o traço contínuo, até então usado. Mas a altura dos caracteres era excessiva. Dificultava a horizontalidade na leitura obrigando a sucessivos desvios dos dedos para cima e para baixo, na identificação dos caracteres. A intuição genial de Luís Braille depressa o levou a aperceber-se de que, dividindo os caracteres Barbier ao meio, deixando-os com três pontos ao alto por dois de largo, ficavam perfeitamente ajustados ao dedo, o que melhorava consideravelmente a legibilidade. Reflectindo e experimentando com colegas, concluiu que não eram precisos mais do que seis pontos.

 

Os 64 sinais que se podiam obter numa matriz como esta, eram suficientes. Fez a opção decisiva. Usou os 64 sinais possíveis na célula de seis pontos, mas para representar o alfabeto e não para representar sons.

 

Com estes dois passos apenas, estava aberto o caminho para o “alfabeto dos cegos” ou “alfabeto de pontos salientes” que, cerca de um quarto de século após a morte de Luís Braille, depois do Congresso de Paris (1878), passou a ser designado simplesmente por “braille”. No seguimento de cuidadosas experimentações e ajustamentos, a 1.ª edição do seu Método apareceu em 1829 e a 2.ª, bastante melhorada, em 1837. Ficava assim disponível a ferramenta que foi decisiva para que os cegos, através do acesso à educação e à cultura, pudessem começar a aliviar a desvantagem da situação em que se encontravam e a ambicionar a emancipação social.

 

Luís Braille usou também o seu alfabeto para desenvolver outras aplicações gráficas: aritmética e álgebra, estenografia (a menos bem sucedida) e música (que continua praticamente em uso). Braille ocupou-se ainda, individualmente e em colaboração, da criação de recursos de escrita utilizáveis na correspondência entre deficientes visuais e normovisuais. Neste domínio, criou o “Quadro cifrado”, que dava as coordenadas dos pontos necessários ao traçado das letras vulgares. Para facilitar esta escrita, François-Pierre Foucault, amigo de Braille, depois de conhecer o “Quadro cifrado”, inventou a “Tábua de pistons”, mais tarde chamada “Rafígrafo”. Este complicado conjunto era pouco prático; mas teve, pelo menos, o mérito de conduzir a outra descoberta – a “Régua Ballu”. Victor Ballu, que tinha sido aluno de Braille e em cujos trabalhos se inspirou, inventou a sua “Régua” em 1875. Esta “Régua” permitia representar facilmente em relevo as letras vulgares, e esteve em uso até meio do século XX, quando começou a ser preterida devido à generalização da máquina de dactilografar. Braille procurava também o meio de representar em relevo a música em tinta com a sua arquitectura gráfica, que o braille reduzia a uma sequência rigorosamente horizontal; mas a doença interrompeu-lhe este trabalho, que até parecia ter sido bem principiado.

 

A célula braille que Braille nos legou, encerrava inúmeras virtualidades. Foi por isso que, cerca de século e meio mais tarde, quando chegou a hora de a articular com a informática, a sua estrutura não foi tocada, apesar de inserida então numa célula extensiva de oito pontos. Isto fez passar de 64 para 256 o número de sinais possíveis. Este crescimento, associado à teorização que tem vindo a ser aperfeiçoada sobre a formação e uso dos sinais compostos, fez subir o material signográfico braille para vários milhares de sinais. Com eles se passou a representar diversos alfabetos – latino, grego, cirílico, hebraico, gótico, etc., e a escrita da matemática, da química, da fonética, da informática, da música, de outras matérias. Compreender-se-á melhor, agora, a razão que levou Firmin Le Guével a considerar “providencial”, para os cegos, o acidente de 1812.

 

 

*** *** ***

 

 

Segundo os biógrafos, e testemunhos de alguns contemporâneos seus, Braille distinguiu-se pelas notáveis qualidades morais e intelectuais que evidenciou no Instituto desde muito cedo. Foi um aluno brilhante, como demonstram os numerosos prémios escolares que recebeu, e as frequentes presenças no quadro de honra. Era apontado pelos professores aos colegas como exemplo e instado a transmitir-lhes o “savoir-faire” que tinha adquirido. Como professor, foi muito estimado e apreciado pelos alunos, que admiravam nele a eficácia da docência e a simpatia no desempenho. Foi um companheiro amigo e generoso. O seu conselho era oportuno, persuasivo e influente; a sua generosidade manifestava-se sempre a coberto da maior discrição. Foi também um talentoso organista, muito apreciado pela expressão, segurança, desenvoltura e brilhantismo da execução. Como inventor do Sistema Braille, Luís Braille foi o “libertador”, como ainda hoje gostam de o cognominar os cegos da América Latina, sob a ressonância do simbolismo histórico que o termo para eles evoca no que respeita à libertação dos seus países dos colonizadores ibéricos.

 

 

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A morte de Braille enlutou os que o conheceram e, em especial, os que beneficiaram dos muitos trabalhos que a sua curta vida ainda lhe permitiu realizar. Um sentimento de enorme gratidão e respeito perdura, transmitido de geração em geração, e teve a mais elevada expressão em 1952, no centenário da sua morte, com a trasladação das cinzas para o Panteão Nacional, tendo as mãos permanecido em Coupvray a pedido da comunidade local. O cortejo fúnebre, saído de Coupvray, passou pelo Instituto, onde decorreu o velório e foram celebradas cerimónias religiosas, seguindo para a Assembleia Nacional para aí receber, numa sessão solene com a presença do Presidente Vincent Oréole, Honras Nacionais. O trajecto para o Panteão Nacional e os actos que lá tiveram lugar contaram com a participação das autoridades nacionais, de representações de Coupvray e de delegações de vários países, expressivamente integradas por deficientes visuais.

 

Assim, não surpreende que um sentimento de simpatia e veneração perante a memória de Luís Braille, como o que se está a manifestar este ano, esteja a atingir uma dimensão à escala mundial. Braille ficou na história como uma figura de relevante interesse, entre a estreiteza da realidade do mundo que foi o seu, e a grandeza das potencialidades, quantas já concretizadas, do invento que legou aos cegos de todo o mundo.

 

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A clonagem chega ao mundo dos primatas e desta vez não é ficção

 

Ana Gerschenfeld

PÚBLICO 2007-11-15

 

 

É oficial: cientistas americanos clonaram, pela primeira vez, embriões de macacos Rhesus. Um avanço que abre a porta à clonagem humana para fins terapêuticos

 

Chama-se Semos, como o deus-macaco da versão mais recente do filme Planeta dos Macacos. Mas não é ficção científica: é um macaco Rhesus que vive no Centro Nacional de Investigação dos Primatas, no Oregon (EUA), e cujas células cutâneas serviram para clonar, pela primeira vez embriões de macacos.

 

A partir desses embriões, Shoukhrat Mitalipov e os seus colegas geraram duas linhas de células estaminais embrionárias (CEE), que são capazes de originar todos os tecidos do organismo e cujas potencialidades terapêuticas podem ser imensas. Os resultados foram ontem divulgados on-line pela *Nature* e serão publicados a 22 de Novembro.

 

Até agora, ninguém tinha conseguido semelhante feito num primata. Já tinha havido várias "falsas partidas", tanto no macaco como no homem. Uma delas, aliás, revelar-se-ia fraudulenta, com cientistas sul-coreanos a anunciarem, em 2004, que tinham clonado embriões humanos e extraído daí linhagens de CEE humanas.

 

De facto, instalou-se um grande pessimismo nos anos que se seguiram ao nascimento de Dolly, em 1997. A tal ponto que, em 2003, Gerald Schatten, da Universidade de Pittsburgh, declarou, após 716 tentativas de clonar um primata, que isso talvez não fosse possível. "Com os métodos actuais", disse, "a produção de CEE [clonagem terapêutica] em primatas não-humanos pode revelar-se difícil – e a clonagem reprodutiva impossível".

 

Ao passo que a clonagem terapêutica consiste em obter CEE a partir de embriões clonados que são a seguir descartados, a clonagem reprodutiva visa a implantação dos embriões no útero de fêmeas, para obter crias. A possibilidade de se fazer o mesmo no ser humano tem suscitado grandes preocupações.

 

 

Dez anos de esforços

 

 

A equipa de Mitalipov estava há 10 anos a tentar a clonagem reprodutiva de primatas e, nesse processo, utilizaram 15 mil ovócitos. Em vão. Conta a *nature* que "quando souberam que os resultados da Coreia do Sul eram fraudulentos, decidiram dedicar-se à clonagem terapêutica".

 

Mas tiveram de modificar a técnica da Dolly, dita de "transferência nuclear de células somáticas", porque havia qualquer coisa que não resultava com os primatas. A técnica de base consiste em colher células do corpo de animais adultos, introduzi-las em ovócitos de fêmeas previamente esvaziados do seu ADN e fundir as duas células, dando origem a um embrião geneticamente idêntico ao doador das células adultas.

 

Os cientistas explicam as diferenças que introduziram: luz polarizada para ver o ADN do ovócito em vez de luz ultravioleta ou um pigmento especial, como acontece na técnica convencional; e uma solução de nutrientes que permite controlar melhor a activação dos ovócitos pelos genes da célula do doador adulto – que, neste caso, eram as células da pele do macaco Semos, com 9 anos de idade. A eficiência do novo processo é ainda muito reduzida – foram precisos 150 ovócitos para gerar cada linhagem de CEE –, mas funcionou. Todavia, nada foi anunciado antes de outra equipa ter confirmado os resultados.

 

Numa inédita decisão, os editores da *Nature* resolveram ter a certeza absoluta de que não estavam perante mais um falso alarme. Por isso, o artigo principal é acompanhado por outro, da autoria de David Cram e colegas da Universidade de Monash, na Austrália, que confirma que as CEE obtidas nos EUA provêm efectivamente de embriões clonados por transferência nuclear – e não foram obtidos por fertilização *in vitro* convencional ou *partenogénese* (formação de um embrião por divisão, sem fecundação).

 

Ruth Francis, da *Nature*, disse ao PÚBLICO que isto tinha sido feito "dada a importância das implicações dos resultados para a investigação médica e para a história na área da clonagem", acrescentando que "tais verificações não devem ser vistas como uma marca de desconfiança em relação aos cientistas, mas como uma maneira directa de resolver logo as questões que iriam ser levantadas quanto à veracidade das experiências".

 

As CEE obtidas parecem ser em tudo idênticas às CEE naturais. Em particular, explicou ontem Mitalipov numa conferência telefónica, já conseguiram transformá-las, *in vitro*, em células cardíacas e em neurónios. "E, quando as injectamos em ratinhos, elas formam tumores que indicam que podem, de facto, dar origem a todos os tecidos do organismo."

 

Os cientistas querem melhorar a eficiência da técnica: "Seria bom utilizar apenas cinco a dez ovócitos para obter uma linhagem de CEE", diz Mitalipov.

 

Mas o objectivo principal é utilizar os macacos Rhesus como modelo animal para testar aplicações das CEE em medicina humana, "por exemplo, na diabetes".

 

150 ovócitos foram necessários para gerar uma linhagem de células estaminais embrionárias. No domingo, a Universidade das Nações Unidas (UNU), um centro de estudo internacional com sede em Tóquio, no Japão, divulgou um parecer sobre a atitude que o mundo deveria adoptar face à clonagem humana. O parecer concluía que, entre as hipóteses que se colocam à comunidade internacional, a mais viável do ponto de vista político seria a proibição global da clonagem reprodutiva humana, aliada à liberdade de cada nação permitir a investigação em clonagem terapêutica, mas em moldes estritamente controlados. Basicamente, é este o sistema que vigora actualmente no Reino Unido. "Se não formos capazes de ilegalizar a clonagem reprodutiva, isso significa que, mais tarde ou mais cedo, vamos partilhar o planeta com indivíduos clonados", declarou Brendan Tobin, advogado do Centro Irlandês dos Direitos Humanos e um dos co-autores do documento, citado por um comunicado da UNU, acrescentando que, se isso acontecer, tornar-se-á indispensável garantir a protecção dos seus direitos.

 

 

As reacções

 

 

A importância dada aos resultados é consensual "É como passar a barreira do som", disse Robert Lanza, da empresa Advanced Cell Technology, de Los Angeles, citado pelo site nature.com, falando dos resultados dos cientistas do Oregon. Este pioneiro da clonagem não é o único a ter ficado impressionado: Robin Lovell-Badge, especialista em células estaminais embrionárias (CEE) do Instituto Nacional de Investigação Médica britânico, disse à BBC, mesmo antes de ter visto os resultados, que o trabalho é "potencialmente importante". Já no site da *Nature*, o "pai" da ovelha Dolly, Ian Wilmut, da Universidade de Edimburgo, co-assina um comentário que será publicado a 22 de Novembro juntamente com os resultados da equipa de Shoukhrat Mitalipov (cientista de origem russa radicado nos EUA). Para Wilmut, os resultados são sobretudo importantes porque, se forem extrapoláveis aos humanos, vão trazer novas maneiras de estudar as doenças hereditárias e desenvolver medicamentos. Wilmut não acredita na ideia, porém bastante difundida, de que as linhagens artificiais de CEE humanas, quando existirem, possam servir para criar órgãos feitos à medida de cada doente a partir das suas próprias células. "A análise realista dos recursos e do tempo necessários para produzir células diferenciadas para fins terapêuticos", escreve, "sugere que a utilização de CEE em grande escala seria impraticável".

 

Mitalipov e os colegas, porém, não partilham totalmente dessa opinião, como explicam logo no início do seu artigo, ao escreverem que "a derivação de CEE geneticamente idênticas a um doente através da clonagem poderá potencialmente significar a cura ou a redução dos sintomas em muitas doenças degenerativas, contornando ao mesmo tempo os problemas relativos à rejeição do transplante pelo sistema imunitário do doente".

 

Seja como for, Mitalipov acredita, tal como disse ontem aos jornalistas, que primeiro vai ser preciso aprender a imitar o ovócito, "essa máquina celular perfeita para a reprogramação das células adultas em células embrionárias".

 

O investigador espera que, no futuro, as linhagens de CEE possam ser obtidas directamente, sem passar pelos ovócitos.

 

 

E a clonagem de seres humanos?

 

 

Os resultados agora divulgados sobre a clonagem em macacos apenas dizem respeito a um tipo de clonagem: a clonagem terapêutica (que apenas visa obter células geneticamente iguais às de um dador). Os cientistas norte-americanos não abordam, no seu artigo, a questão da "outra" clonagem, aquela que se salda pelo nascimento de um ser vivo idêntico ao adulto que forneceu as células do seu corpo. Mas é evidente que, tendo sido possível ultrapassar a "barreira das espécies", realizando a clonagem inédita de embriões de primata, a clonagem de embriões humanos torna-se mais plausível. Volta assim a pairar o "espectro" da clonagem reprodutiva humana.

 

Shoukhrat Mitalipov, o líder do trabalho agora divulgado pela *Nature*, é o primeiro a ter a certeza de que o que já foi possível fazer no macaco Rhesus vai rapidamente sê-lo para o Homo sapiens: "Basicamente, penso que a nossa tecnologia é directamente aplicável aos humanos; estou convencido de que vai funcionar", disse ontem numa conferência de imprensa telefónica. A sua equipa não tenciona ser uma das que irão aplicar a nova técnica à clonagem de embriões humanos – "apenas trabalhamos com macacos", diz Mitalipov. Mas espera que o seu trabalho seja útil para outros. Isso não significa, porém, que vá ser possível, a curto prazo, clonar um bebé humano. Para já, no macaco Rhesus, tal coisa ainda não deu resultado – e a equipa de Mitalipov sabe-o bem, pois passou anos a tentar fazê-lo sem sucesso. Este cientista salientou que ainda não sabia como é que os embriões de macacos obtidos pela nova técnica de clonagem se iriam comportar – se seriam ou não viáveis até ao termo da gravidez. Mas é um facto que tenciona experimentar clonar macacos Rhesus (e não apenas os seus embriões).

 

Isso permitiria obter um modelo animal muito mais próximo do humano do que os ratinhos, "para fazer experiências de transplantes, testar a segurança dos procedimentos e simular as doenças humanas, introduzindo mutações genéticas nos embriões dos macacos

 

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Evolução e fé religiosa: incompatíveis?

 

P.e Anselmo Borges

Janela do (in)finito <F+>

 

 

Não cabe aqui um esboço sequer da história das concepções e teorias evolucionistas. De qualquer modo, a ideia de evolução já tinha acenado entre os gregos. Em 1809, Lamarck expôs a sua teoria da não imutabilidade das espécies. Mas foi em 1858, há 150 anos, que a ideia da selecção natural e da luta pela existência, de Alfred Russel Wallace e Charles Robert Darwin, foi apresentada na Linnean Society de Londres. No ano seguinte, em 1859, Darwin publicou a sua obra célebre: A origem das espécies.

 

Atendendo a estas datas e sobretudo às celebrações do segundo centenário do nascimento de Charles Darwin, nascido no dia 12 de Fevereiro de 1809, aumentarão os estudos científicos sobre as teorias da evolução, não faltando os debates à volta da sua relação com a religião, por causa do livro do Génesis, do "criacionismo" e do chamado "desígnio inteligente".

 

O primeiro embate célebre – conta-se, mas é mais lenda do que história – deu-se logo em 1860, em Oxford. Perante uma assistência numerosíssima, o bispo de Oxford, Samuel Wilberforce, foi verrinosamente perguntando ao naturalista Thomas Huxley, defensor de Darwin, se descendia do macaco pelo lado do avô ou pelo lado da avó. Huxley terá respondido: "Penso que um homem não tem que envergonhar-se por ter um macaco como avô. Se tivesse de envergonhar-me de um antepassado, seria de um homem: um homem de inteligência superficial e versátil que, em vez de contentar-se com os sucessos na sua esfera própria de actividade, vem imiscuir-se em questões científicas que lhe são completamente estranhas, não faz senão obscurecê-las com uma retórica vazia, e distrai a atenção dos ouvintes do verdadeiro ponto da discussão através de digressões eloquentes e hábeis apelos aos preconceitos religiosos."

 

Por causa desta resposta, considerada pouco elegante, uma senhora desmaiou.

 

A mulher do bispo, essa, terá dito entre dentes: "Só faltava esta: descender de macacos! Se for verdade, rezemos para que ninguém saiba."

 

A teoria da evolução constituiu uma daquelas humilhações do Homem de que falou Freud. Embora o Homem não descenda do macaco, ele e o macaco descendem de um antepassado comum, o que não constituiu uma descoberta particularmente exaltante. Desde então a nossa visão da natureza, do Homem e de Deus modificou-se.

 

Significativamente, já na altura, muitos religiosos britânicos declararam que não havia incompatibilidade com a fé. O historiador das ciências D. Lecourt escreveu: "A figura mais importante da Igreja escocesa declarou-se evolucionista e, num curso, em 1874, aconselhou os teólogos a sentirem-se «perfeitamente à vontade com Darwin»." Darwin, sepultado com pompa, em 1882, na abadia de Westminster, a alguns passos do túmulo de Newton, nunca foi oficialmente condenado pela Igreja católica e A origem das espécies nunca esteve no índex.

 

De qualquer modo, segundo o reverendo Malcom Brown, director dos serviços de relações públicas da Igreja anglicana, a sua Igreja deveria pedir desculpa pela má interpretação de Darwin e algum fervor anti-evolucionista.

 

Hoje, os equívocos beligerantes provêm essencialmente do "criacionismo" americano e do chamado "desígnio inteligente". Mas o "criacionismo" assenta numa leitura literal do mito da criação do Génesis, esquecendo que o Génesis é um livro religioso e não um livro de ciência e que só uma leitura simbólica é adequada. Quanto ao "desígnio inteligente", o seu equívoco provém da ambição de demonstrar Deus pela ciência.

 

De facto, como é evidente, a existência de Deus não é nem pode ser objecto de ciência. Mas afirmar taxativamente que a evolução é mero produto do acaso não deixa de ser também uma posição dogmática. A ciência vai respondendo ao "como" da evolução, mas não responde ao "porquê", concretamente ao porquê e para quê da existência do Homem e de tudo: "porque há algo e não pura e simplesmente nada?"

 

Como escreveu o cientista Francisco J. Ayala, na conclusão da sua obra Darwin e o Desígnio Inteligente, "a evolução e a fé religiosa não são incompatíveis. Os crentes podem ver a presença de Deus no poder criativo do processo de selecção natural descoberto por Darwin."

 

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Varanda do Leitor

 

O Último Adeus

 

 

Francisco Quarta

 

 

Que Janeiro terrível! O frio era intenso, e do céu raios coriscavam, acompanhados do contínuo ribombar de trovões, a água caía a cântaros, agressiva e ininterrupta, com grandes camadas de granizo à mistura!...

 

Numa humilde casinha, com grandes receios pela sua subsistência, e confiando apenas na misericórdia de Deus, estavam três pessoas: o senhor Joaquim, já velho e adoentado, quase trôpego, a esposa, dona Dulcínia, deixando ainda transparecer largos traços da formosura que em outros tempos a celebrizara, tornando-a alvo de grandes disputas amorosas, por parte da juventude masculina daquela freguesia, e Jorge, moço belo e forte, de dezassete anos em boa verdade um autêntico atleta...

 

O jovem nascera já quando os pais quase perdiam a esperança de deixarem rebento à posteridade, e agora era o bordão da velhice daquele casal, que o adorava, com desvelado carinho e afeição.

 

Mas que importa a intempérie, na rua, se não há em casa lenha? E quem irá buscá-la, com esta tempestade incontrolável? Como?!...

 

O mancebo sempre fora muito decidido, e afirma que a tarefa, embora um tanto difícil lhe compete, não hesitando um só instante. É claro! Para alguma coisa de útil haveriam de servir aqueles músculos de aço!...

 

– Mas... e as feras que lá existem?!... Não irás sem que eu te acompanhe! A união faz a força, é ditado muito velho, e sempre actual...

 

Era o pobre velho quem assim falava, pensando nos perigos a que o filho se iria expor. Quase não podia mexer consigo, tão entrevado andava! Mas a necessidade de subsistência, e o receio de perder aquele filho, em uníssono, dava-lhe um vigor que, só em sonhos, poderia existir. A realidade era bem outra, infelizmente, e Joaquim pensava não ser altura para encará-la!

 

Jorge opôs-se, com energia e delicadeza submissas, julgando-se, como de facto era, totalmente dono da razão:

 

– Nunca, meu pai! Não posso permitir tal coisa! Irei só, e nenhum mal acontecerá! Além de confiar plenamente em Deus, saberei evitar os maus encontros e se de todo em todo os tiver, não serei presa fácil...

 

– Não, meu filho! Falas com audácia de jovem, tão destemido quanto inexperiente. Falta-te ainda muita ponderação que, só no decorrer da vida, poderás ir adquirindo, pouco a pouco. Vamos os dois, aliando, assim, a tua energia, tão sem dúvida necessária, à minha experiência, não menos indispensável. Ouve, meu filho, a voz da razão, enquanto é tempo...

 

– Não, pai! Compreendo perfeitamente os seus receios. Mas peço-lhe que também não me considere parvo ou insensato. Não estarei muito amadurecido pela idade, concordo! Mas julgo que o meu raciocínio não me atraiçoa, se lhe bradar que o pai hoje é que está a ser duma imprudência descabida! Eu permitia lá que um pobre homem, que carece quase de terceiros, para se manter de pé, fosse comigo! E ainda por cima sendo um pai, que tanto amo!?... O senhor já fez a sua época. Trabalhou para me criar. É meu dever, agora, retribuir-lhe, que estou no auge das energias! Brevemente vou para a vida militar; ora aí, com o rumo que as coisas levam, certamente irei correr muitos mais perigos, e o pai não me poderá ir defender! Morrer por morrer, que hoje não deve ser o caso, que se morra pelo que é nosso. Este é que é o dever mais sagrado! A sua saúde está acima de tudo, e seria um suicídio ir comigo! A chuva e o vento não são inimigos que me atemorizem, e os animais bravios, com este tempo, não saem das suas tocas...

 

– Mas tu, queres sair da tua, meu querido filho?!...

 

– Porque a necessidade obriga, pai. Assim é que não podemos continuar, sem um pouco de lume, que nos aqueça! Crus é que não podemos comer os alimentos, não acha? Por amor de Deus, não ponha mais objecções...

 

– A necessidade, dizes tu. Sempre a maldita necessidade! Os pobres nunca haviam de nascer! Levam todos uma vida de necessidades, sem saber o que é repouso! Quantos felizardos agora estarão por aí, porreiros da vida, aquecendo-se, despreocupadamente, às suas lareiras?! Eu nunca soube o que era um pouco de conforto! E agora, que tenho um filho dedicado e valoroso, a necessidade quer-mo roubar? Também as feras a têm, e talvez hoje, mais do que nunca, no meio da Invernia! Quem me garante que hoje, daqui a muito pouco tempo, não serás tu o manjar delas! Oh, meu Deus de misericórdia. Ajudai-nos, que tanto confiamos em Ti!...

 

– Por favor, paizinho. Em vez de me encorajar, desanima-me?! Quer que morramos aqui, todos à míngua?! Não é possível! Eu nunca fui cobarde, e muito menos parasita! Para seguir o seu nobre exemplo, quero lutar, lutar sempre, sem virar a cara, em favor do bem! É a minha primeira oportunidade, não posso perdê-la. Daqui a pouco, verá que estarei de volta...

 

– E queira Deus que não seja a última! Mas vai, filho da minha alma! E que a tua dedicação e coragem sejam largamente compensadas pelo nosso Pai do Céu! Que Ele não nos abandone, nem agora nem nunca!

 

– Assim seja! – Balbuciou a senhora Dulcínia, que se quedara, muda, até então. Aquele coração de esposa e mãe bem desejava repartir-se, mas era impotente! As lágrimas, sem outra coisa de melhor, eram o seu refúgio!

 

– Assim será. Fiquem sossegados. – Finalizou Jorge, com um sorriso optimista e vitorioso. E, consolando os pais, com um apertado abraço, após se ter precavido, tanto quanto possível, dentro da sua pobreza, contra a intempérie, com uma jaqueta remendada, saiu, fechando a porta atrás de si.

 

O vento uivava, qual bicho faminto; a chuva não se compadecia dos imprudentes que saíssem de casa, e a algidez aumentava cada vez mais! Todavia o vigoroso rapaz não recuou: continuava o seu caminho, com o propósito firme de se demorar o menos possível, para evitar preocupações aos pais, que o aguardavam em casa, com impaciência, com o coração nas mãos! Poucos teriam a ousadia de sair de casa, naquelas condições. Realmente, só a grande necessidade, que faz os pobres gemer e chorar diariamente...

 

Arrostando de frente contra as fúrias da Natureza, depressa chegou ao local de destino: dispôs-se a fazer um grande molho de lenha seca que, embora a escorrer, naquele momento, sempre serviria para cozinhar, aquecendo simultaneamente o ambiente, em casa, uma casa cheia de carências, que não se sabe como se conserva de pé. Talvez condescendências do invisível...

 

Estava todo atarefado, o nosso jovem, nos seus afazeres, quando, ouvindo um tremendo uivo, viu um incomensurável lobo, que para ele avançava, de bocarra escancarada! Só faltava mais esta! Com a rapidez do raio, Jorge armou-se dum grosso e comprido pau, sem tempo de ver se seria uma defesa segura. Enfrentou a fera resolutamente. Deveria pesar umas boas arrobas, aquele mostrengo! O rapaz foi surpreendido num local em que as árvores eram muito densas. A luta seria mais vantajosa para qualquer dos lados, em campo aberto. A fera levava a vantagem da surpresa, mas o rapaz era inteligente, e vibrou-lhe tal pancada no cachaço, que o pau se partiu imediatamente, e o lobo ficou um pouco atordoado, mas não havia tempo para agarrar outra arma, mesmo improvisada! Tinha no bolso uma navalha muito tosca para a urgência! Mesmo assim abriu-a, mais como defesa que em forma de ataque. E o animal, vendo o adversário praticamente à sua mercê; não perdeu mais tempo: lançou-se sobre ele, num salto, mas o jovem, conquanto um pouco inexperiente, também sabia pular, e fugia, porque sempre tinha mais facilidade de movimentos, entre as árvores, que o lobo. O bicho, porém, não desistia, e Jorge já pensava que a profecia pessimista do pai se iria cumprir...

 

Diz-se que Deus acode sempre na última hora: foi o que aconteceu: fez um enorme trovão, cujo ruído estremeceu violentamente com o arvoredo. O animal hesitou, amedrontado; e o jovem, num golpe feliz, lançou-lhe ao pescoço a corda que levava consigo para emolhar a lenha, e foi num instante que deu cabo da fera, por enforcamento. Jorge escapara, apenas com leves beliscaduras, nada para o que poderia ter acontecido...

 

Não ganhara para o susto; mas soubera, num rasgo de inteligência ou felicidade, usar a cabecinha. Já não lhe bastava enfrentar o mau tempo, ainda lhe apareciam camaradas daquela espécie. Safara-se do primeiro, mas ninguém lhe garantia que não aparecessem mais, para vir ao enterro, ou vingar o defunto! Bom seria não perder mais tempo! Terminou o feixe da lenha, apertou-o com toda a força e, mais do que depressa, saiu daquele desagradável lugar...

 

Quando se julgou a salvo, depôs o feixe num tosco muro e, de joelhos no chão, gélido, agradeceu a Deus a sua salvação em tão apertado transe. A gratidão, como lhe haviam ensinado os pais, acima de tudo...

 

Quando prosseguia o seu caminho, e já ia bem perto de casa, ouviu grande alarido junto de uma ribeira. Apercebendo-se do que se tratava, não pôde conter uma indignada exclamação de repulsa e desespero:

 

– Cobardes. Nestas circunstâncias, a mínima hesitação é crimin... – Ploff, ploff ... as tumultuosas águas não o deixaram acabar a frase.

 

Que acontecera? E porque falava ele daquele jeito? A abundância da chuva engrossara demasiadamente aquela ribeira. Quando Jorge ali chegou, a multidão contemplava, constrangida, impávida e medrosa, uma criança que caíra à água.

 

Nadando vigorosamente, o jovem lutou contra a tenebrosa corrente, conseguindo alcançar a pequena! Foi então uma tenaz refrega! Apesar da energia dos seus músculos, que já iam cedendo, a corrente era fortíssima, e previa-se que, mais tarde ou mais cedo, aquele abnegado moço fosse vencido, não conseguindo nem a sua, nem a salvação da criança! A expectativa era sufocante! Veio à mente daquele herói de circunstância a falta que fazia aos pais; minutos antes travara inesperada luta, e conseguira, quase milagrosamente, vencer um lobo faminto. Mas agora, acima de tudo, era forçoso salvar a vida alheia! E, se morresse, quem valeria àqueles dois entes queridos, que eram toda a sua vida? Deixaria, após tanto esforço, a criança perecer, para se ver livre de apuros? Nunca tal infâmia lhe passara sequer pela cabeça! Que fazer, então? Primeiro, auxiliar quem precisa. Depois...

 

Embora as furiosas águas o arrastassem, ele defendia-se valentemente e, numa galgada feliz, conseguiu levar até à margem a menina, cujo pai a recebeu, chorando de emoção. Agora estava sem sentidos, mas certamente os iria recuperar logo que lhe dessem os primeiros socorros, em terra firme!

 

Que felicidade para Jorge! Alcançara parte do seu intento, suponha que com êxito! Todavia... aquela abnegação resoluta...

 

A perplexidade, estupefacção e pusilanimidade dos circunstantes era constrangedora: todos olhavam, aterrados, para Jorge, mas ninguém ousava dar um passo, empurrando-se uns aos outros, mas cada um alegando que não sabia nadar! A palavra comove e o exemplo arrasta. Mas ali tal não sucedia! Não havia um herói que arriscasse a pele. Era incrível!

 

Quando soube desta tragédia, o pai do valente rapaz saiu de casa, aos tombos, amparado. Quase não podia consigo. Mas a voz do sangue falou mais alto que a prostração do velho! Dulcínia vinha atrás, chorando, que metia pavor! Dirigem-se para o local do acidente e... que terrível espectáculo se lhes depara! Aquelas águas, roncando, qual fera bravia, ameaçavam tudo e todos! Iriam tirar a desforra do atrevido que lhes tirara uma vítima e agora ali se debatia, buscando salvar-se. Queriam esmagá-lo, mas o rapaz não era presa fácil! Chegara, porém, o cansaço físico e anímico...

 

E quando Jorge, já desanimado, sem alento, avistou o pai, que já se lançava, em seu auxílio, recobrou ânimo heróico, porque já não estava sozinho, na luta em favor dos seus semelhantes...

 

Num aceno dócil e imperioso, impediu o pai de levar por diante as suas intenções suicidas! Chamando a si as últimas energias, que quase não tinha, em duas braçadas vigorosas conseguiu aproximar-se da margem, a ponto de se considerar já salvo. Mas o que tem de acontecer...

 

Por trágica coincidência, precisamente no local aonde ele se agarrou, e pretendeu dar o salto para a vida, o terreno havia aluído, não resistindo ao impulso do rapaz! Um enorme pedregulho caiu-lhe em cheio sobre o corpo ante o olhar horrorizado dos pobres pais. O mais aterrador silêncio gelava a multidão, de olhos fixos naquelas águas assassinas! Pobre rapaz!

 

Imergiu por algum tempo, ao fim do qual o seu corpo apareceu, flutuando, e sua cabeça, pendente, parecia dizer, com uma doce resignação:

 

– Cumpri o meu dever!...

 

E desapareceu, nas águas revoltas!...

 

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As Nossas Colecções

 

 

No último trimestre foram incorporadas as seguintes obras:

 

 

Nota. Sempre que uma nova obra exista já em formato ou formatos diferentes, estes serão indicados de forma abreviada imediatamente a seguir à referência da respectiva obra.

 

As abreviaturas usadas são as seguintes:

 

L.B. para Livros em Braille; A.A. para Audiolivros Analógicos; A.D. para Audiolivros Digitais; L.E. para Livros Electrónicos.

 

 

1 – Livros em Braille

 

316 Sociologia

 

Reich, Wilhelm – Escuta Zé Ninguém/ trad. Maria de Fátima Bivar. 3v-. A.A.

 

Sá, Eduardo – A vida não se aprende nos livros: Um grande amor nunca se trata com cuidado. 4v-

 

 

52 Astronomia

 

Rees, Martin – O nosso habitat cósmico/ trad. Isabel Pedrome. 5v-

 

 

82 Literatura

 

82-1 Poesia

 

Peixoto, José Luís – Gaveta de papéis. 1v-

 

 

82-3 Prosa narrativa

 

Peixoto, José Luís – Morreste-me: Ficção. 1v-

 

 

 82-31 Romance

 

Garrett, Almeida – Viagens na minha terra. 6v-. A.A.

 

Harris, Joanne – Vinho mágico/ trad. Maria João Neves Pereira. 8v-

 

Jelinek, Elfriede – A pianista/ trad. Aires Graça. 7v-

 

 

82-34 Contos

 

Torga, Miguel – Bichos. 2v-. A.A., L.E.

 

Riera, Carme – El hotel de los cuentos y otros relatos neuróticos. 3v-

 

 

82-93 Literatura infantil e juvenil

 

Soares, Luísa Ducla – Seis contos de Eça de Queirós/ il. Nuno Fonseca. 1v-

 

Torrado, António – O macaco do rabo cortado: História tradicional portuguesa/ contada de novo por António Torrado; il. Zé Paulo. 1v-. A.D.

 

 

2 – Audiolivros

 

82 Literatura

 

82-2 Peças de teatro

 

Korolenko – O músico cego: Folhetim radiofónico. Dados, som em MP3 (28 ficheiros: 319MB). 5h38

 

 

82-31 Romance

 

Bradley, Marion Zimmer – Presságio de fogo/ lido por Maria de Fátima Hasse Fernandes. Dados, som em MP3 (87 ficheiros: 2,35GB). 29h21. A.A.

 

Coelho, Paulo – O alquimista/ lido por Helena Marujo. Dados, som em MP3 (12 ficheiros: 448MB). 4h06. L.B.

 

"" – Verónika decide morrer/ lido por Flávio Carnevale Filho. Dados, som em MP3 (16 ficheiros: 276MB). 4h57. L.B.

 

 

82-34 Contos

 

Cortázar, Julio – Bestiário: Contos/ trad. Joaquim Pais Brito; lido por Madalena Moreira. Dados, som em MP3 (10 ficheiros: 371MB). 3h24

 

 

3 – Livros Electrónicos

  

As obras precedidas de asterisco foram-nos gentilmente oferecidas por leitores, a quem agradecemos.

 

Embora não nos possamos responsabilizar pela correcção dos respectivos textos, vamos pô-las à disposição dos nossos leitores.

 

 

159.9 Psicologia

 

* Alves, José Manuel Rodrigues – Já sei contar até três!. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 48KB).

 

* Bateman, Anthony, Holmes, Jeremy, co-autor. – Introdução à Psicanálise: Teoria e prática contemporâneas/ trad. Teresa Simões de Abreu; rev. técnica Paula Casquinha. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,11MB).

 

* Temas candentes em psicologia do desenvolvimento/ ed. lit. Paulo Sargento dos Santos; trad. Fátima Andersen, Isaura Lourenço. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,30MB).

 

 

2 Religião. Sistemas religiosos

 

Walsch, Neale Donald – Conversas com Deus: Um estranho diálogo/ trad. Lucinda Maria dos Santos Silva. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 440KB). L.B.

 

 

33 Economia. Ciência Económica

 

 * Matos, Fernando Abreu – Financiamento de organizações tiflológicas: No dealbar do século XXI. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 72KB).

 

 

34 Direito

 

* Guerra, José Adelino – Algumas reflexões a propósito do anteprojecto do código de trabalho. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 44KB).

 

 

37 Educação

 

* Alves, José Manuel Rodrigues – Editorial do N.º 1 da revista EduSer. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 44KB). In "EduSer", n.º 1 Outubro de 2003.

 

 

82 Literatura

 

82-22 Comédia

 

* Aristófanes – Os cavaleiros/ trad. do espanhol por Vicente Matias Martinez Belaglovis. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 204KB).

 

* "" – Lisístrata. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 116KB).

 

* "" – As nuvens. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 172KB).

 

* "" – A revolução das mulheres. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 116KB).

 

* "" – As vespas; As aves; As rãs/ trad., apresentação e notas de Mário da Gama Kury. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 928KB).

 

* Aristófanes, Menandro, co-aut. – A paz/ Aristófanes; trad. introd. e notas Mário da Gama Kury. O misantropo/ Menandro; trad. introd. e notas Mário da Gama Kury. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 220KB).

 

 

82-31 Romance

 

Aguiar, João – O homem sem nome: Romance/ il. Joaquim de Sousa. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 288KB). L.B.

 

* Andrews, V. C. – Teia de sonhos: Romance/ trad. Vera Caeiro. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,42MB).

 

Cela, Camilo José – A colmeia/ trad. Victor Filipe. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 500KB). L.B.

 

Céline, Louis-Ferdinand, pseud. – Viagem ao fim da noite/ trad. Aníbal Fernandes. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 2,55MB). A.A.

 

Costa, Francisco – A garça e a serpente: Romance. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 620KB). L.B.

 

Fonseca, Catarina – O amansador: Romance. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 340KB).

 

* Konsalik, Heinz G. – Clínica do aeroporto/ trad. Maria Manuel Tinoco. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,21MB).

 

Maalouf, Amin – O rochedo de Tanios/ trad. Maria da Graça Morais Sarmento; rev. Manuel Luz Evangelista. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 2MB).

 

* Mastretta, Angeles – Arráncame la vida/ trad. Cristina Rodriguez; rev. Elena Piatok de Mattos. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 748KB).

 

Melo, Guilherme de – Como um rio sem pontes: Romance. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 292MB). L.B.

 

Mishima, Yukio, pseud. – Confissões de uma máscara/ versão e apresentação de António Mega Ferreira. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 418KB). L.B.

 

Redol, Alves – Barranco de cegos. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 788KB). L.B.

 

* Salinger, J. D. – À espera no centeio/ trad. José Lima. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 836KB).

 

* Saramago, José – Embargo. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 32KB).

 

* "" – Ensaio sobre a lucidez: Romance. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 680KB).

 

"" – O Evangelho segundo Jesus Cristo. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 840KB). L.B.

 

* "" – História do cerco de Lisboa. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,28MB). A.A.

 

Torrente Ballester, Gonzalo – As ilhas extraordinárias/ trad. Vanda Anastácio. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 712KB).

 

Uhlman, Fred – O reencontro/ introd. Arthur Koestler. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 128KB).

 

* Wilson, F. Paul – O fortim/ trad. Heitor A. Herrera. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,36MB).

 

 

82-312.4 Romance policial. Romance de crimes. Romance de mistério, suspense. Thrillers

 

* Clark, Mary Higgins – Recordação perigosa/ trad. Ana Duarte. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 884KB).

 

* Garwood, Julie – Um amor assassino/ trad. Filipa Aguiar. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,38MB).

 

* Leblanc, Maurice – A ilha dos trinta caixões/ trad. Luís Serrão. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1MB).

 

 

82-32 Novelas

 

Cela, Camilo José – A família de Pascoal Duarte/ trad. Tomaz Ribas. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 112KB). L.B.

 

 

82-34 Contos

 

Barreno, Maria Isabel – Contos analógicos. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 104KB). L.B.

 

Beirão, Pinheiro – Contos: Terra esquecida: Outros caminhos. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 180KB). L.B.

 

Garner, James Finn – Contos de fadas politicamente correctos/ trad. Francisco Agarez. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 116KB). L.B.

 

* Guerra, José Adelino – A faina do mar. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 24KB).

 

Miguéis, José Rodrigues – Gente da terceira classe. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 444KB). L.B.

 

* Nascimento, Euluso de. pseud. – O peixinho vermelho procura outros horizontes. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 48KB).

 

Tchekhoff, Anton – Contos e novelas/ trad. Andrei Melnikov; colab. José Augusto. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 400KB).

 

 

82-93 Literatura infantil e juvenil

 

* Dalens, Serge – A pulseira misteriosa/ trad. Laura Maria Álvares-Ribeiro Pacheco; il. Pierre Joubert. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 684KB).

 

* Rowling, J. K. – Harry Potter e o cálice de fogo/ trad. Lia Wyler. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,34MB). L.B.

 

* Salgari, Emílio  – Os piratas da Malásia/ trad. e il. Ângelo Taccari. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 284KB).

 

* Vasconcelos, José Mauro de – O meu pé de laranja lima: História de um meninozinho que um dia descobriu a dor. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 452KB). L.B.

 

 

82-94 Memórias. Crónicas. Diários. Biografias. Autobiografias. História como género literário

 

Miguéis, José Rodrigues – Um homem sorri à morte – Com meia cara. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 160KB).

 

Paisana, António, Almeida, Salvador Mendes de, co-aut. – Salvador: Ser feliz assim/ comp. Rogério Silva. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 560KB).

 

 

82-4 Ensaio

 

Wilde, Oscar – O espírito humano no socialismo/ trad. Ana Barradas; rev.: Cabeça Tronco e Textos. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 476KB).

 

  

4 – Publicações Periódicas

 

Activa Braille-: Revista de informação bimestral. Laveiras (Paço de Arcos): Edimpresa. 2008: Setembro-Outubro

 

Corriere Braille-. Roma: UIC. 2008: Abril, 4 cadernos

 

Horizontes-. Montevideo: Fundación Braille del Uruguay. 2008: Março; Junho

 

Jornal de Notícias-: Cultura e informação. Porto: JN. 2008: Setembro-Outubro; Novembro-Dezembro

 

New Books. Peterborough: RNIB. 2008: Novembro, 2v

 

NLB Read on. Stockport: National Library for the Blind. 2008/9: n.º 5

 

Poliedro-: Revista de tiflologia e cultura. Porto: Centro Prof. Albuquerque e Castro – Edições Braille. 2008: Outubro; Novembro; Dezembro

 

Revista Brasileira para Cegos-. Rio de Janeiro: Instituto Benjamin Constant. 2008: Julho-Setembro

 

Rosa-dos-Ventos-: Revista infanto-juvenil. Porto: Centro Prof. Albuquerque e Castro – Edições Braille. 2008: Outubro; Novembro; Dezembro

 

Visão Braille-: Revista de informação mensal. Laveiras (Paço de Arcos): Edimpresa. 2008: Agosto; Setembro; Outubro

 

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