Lista atped

Mensagem

[Atped] Fw: CORREIODOMONDEGO avanços na Musicografia Braille

To :   <atped@ml.ci.uc.pt>
Subject :   [Atped] Fw: CORREIODOMONDEGO avanços na Musicografia Braille
From :   luís barata <lbarata@ci.uc.pt>
Date :   Fri, 23 Sep 2011 15:17:12 +0100


Avanços na Musicografia Braille
"Quero que o músico cego um dia tenha autonomia total para compor e fazer
arranjos, e não apenas ler partituras em braile." Isso é parte da missão do
músico Vilson Zattera, primeiro pós-doutorando cego do Instituto de Artes da
Unicamp. Durante sua permanência no Departamento de Música da Universidade,
ele pretende aprimorar os programas de musicografia em braile, desenvolver
projetos que promovam acessibilidade autônoma a alunos e professores cegos
de música e desenvolver metodologia para violão direcionada a deficientes
visuais.

O orientador, professor Claudiney Carrasco, acrescenta que com os programas
disponíveis hoje, o músico cego realiza 80% de seu trabalho sozinho, mas 20%
ainda precisam de revisão de pessoas que enxergam. Mas Zattera deixa claro:
"O que eu quero é fazer com que nós cegos tenhamos independência para
escanear a partitura, corrigir erros, ouvir a música e imprimir o que é
preciso." Alguns programas estão sendo adquiridos dos EUA, mas Zattera
admite que há muitas falhas e é preciso fazer com que a tecnologia seja mais
eficiente no Brasil. "Nos EUA, eles sempre fazem upgrade, mas o que eu quero
é uma tecnologia mais versátil, mais eficiente, na qual se possa usar uma
gama maior de programas", acrescenta.

Recém-chegado a Campinas, Zattera alegra-se em compor o quadro de
pós-doutorandos da Universidade e encontrar um ambiente avançado de pesquisa
e acessibilidade em musicografia braile, iniciado pela mestre e doutora em
música pela Unicamp Fabiana Bonilha. Contudo, acredita que os programas de
música precisam ser aprimorados e ampliados. Ele mesmo admite ter chegado ao
mestrado e doutorado (PhD) nos Estados Unidos com a ajuda de sua ex-esposa e
algumas pessoas que digitalizavam, editavam e liam parte do material exigido
para as aulas, pois era pouco tempo para preparar a quantidade semanal de
textos a serem lidos. "Sempre gostei de estudar e fazer arranjos musicais e
é importante, para mim, criar condições para que estudantes e professores
cegos tenham acesso aos programas e possam fazer suas composições."

A vinda para a Unicamp é a realização de mais um sonho para Zattera, que já
começou a participar de projetos de várias áreas, inclusive na coorientação
de estudantes de mestrado. Pesquisador também na área de computação, ele
revela que, entre outros, um dos obstáculos enfrentados pelos músicos no
momento é que os programas de voz exigem placa de som no computador, mas a
música também ocupa espaço na mesma placa e os softwares de voz e de música
acabam entrando em conflito. Ele acrescenta que esses programas são baseados
em gráficos e ícones que os leitores de tela não leem, pois estes somente
leem textos.

No momento, Zattera está pensando na possibilidade de desenvolver um
programa através de scripts que reconheçam os símbolos e digam o que está
acontecendo. "Quando cheguei à Unicamp imediatamente encontrei alguém que
está trabalhando comigo na parte computacional.

Vamos entrar na área de programação para fazer todo o trabalho", informa. A
musicografia seria parte essencial, mas Zattera pretende buscar meios para
que músicos cegos possam usufruir dos recursos computacionais na área da
performance, arranjo e composição musical, além da produção de material
braile de um modo mais ágil e eficiente. "Assim, nós, deficientes visuais,
poderemos interagir com as pessoas de maneira mais próxima, de maneira que
videntes e cegos tenham o mesmo material", acrescenta.
Para Carrasco, a falta de conhecimento da realidade de todos os usuários faz
com que os programas sejam incompletos. "Se o programador soubesse que os
usuários cegos iriam usar o programa, ele inseriria um comando para o
programa não travar". Mas ele enfatiza que ainda não existe essa mentalidade
de tornar tudo acessível. A chegada de Fabiana Bonilha na graduação em
música foi uma mostra de que a universidade brasileira em pleno século 21
não estava preparada para promover a acessibilidade a seus estudantes e
professores. Quando a aluna chegou, o Instituto de Artes teve de se adequar
para atendê-la, segundo Carrasco. O que não foi diferente para a biblioteca
e até mesmo para a Diretoria Acadêmica da Universidade, que contou com
Fabiana para rever lacunas em seu site.

Hoje, pode-se dizer que Fabiana marcou a história do estudante cego na
Unicamp, se tornando a principal colaboradora no desenvolvimento de projetos
de musicografia em braile e oferecendo contribuição importante ao
Laboratório de Acessibilidade da Unicamp. "Tivemos de nos estruturar para
recebê-la e para oferecer condições de estudo igual às de seus colegas de
curso. Antes da chegada dela, a área de musicografia em braile não existia
academicamente no Brasil", acrescenta Carrasco.

Mestre pela Universidade da Califórnia e phD pela Universidade de
Washington, Zattera enfatiza que em outros países a acessibilidade
teoricamente tem de estar presente em qualquer produto ou iniciativa,
enquanto no Brasil a discussão é recente. Por outro lado, ele aponta a falta
de interesse da indústria em atender uma pequena parcela da população que
seria beneficiada com produtos tão específicos.

Já que o processo faz seu curso lentamente, Zattera e outros profissionais
buscam desenvolver metodologias para reduzir a necessidade de auxílio de
outras pessoas.
Segundo Carrasco, a ideia era, a partir do trabalho da musicista Fabiana,
criar um acervo de música em braile, principalmente repertório brasileiro,
no Sistema de Bibliotecas da Unicamp que pudesse ser acessado em qualquer
lugar do mundo. "Porque o grande problema do cego quando vai estudar música
não é questão da escrita, mas a disponibilidade de material", enfatiza
Carrasco. Ele explica que para estudar o material adotado no programa das
disciplinas (partituras, livros), o aluno cego precisa converter tudo para
braile. Então a ideia era digitalizar os acervos e mandar imprimir em
braile.


Símbolos


"Não é simplesmente pegar a musicografia em braile e transpor. Tem 63
símbolos braile. E eles são aproveitados para tudo: português, inglês,
matemática, música e muito mais. Então, se pegar a partitura de música que é
igual à escrita e não souber que é música, não vai conseguir entender nada
do que está escrito. São sinais que podem ser letras", acrescenta Zattera.
Ele conta que quando fez etnomusicologia nos Estados Unidos, precisou de
partituras e livros didáticos, mas não tinha como produzir material para
estudar. A carência de material fez com que Zattera e sua ex-mulher, Ruth
Sparremberger, na época esposa, pesquisassem por conta. As dificuldades
encontradas nos Estados Unidos com aquisição e leitura de material hoje
direcionam suas pesquisas e projetos de ampliação da acessibilidade na
Unicamp, segundo o músico e pesquisador.

O sonho de ser músico jamais foi descartado por Zattera, mesmo depois de
perder a visão aos 7 anos de idade. Em Porto Alegre, ele atuou durante
vários anos como músico profissional, principalmente com música popular e
flamenco. Com a ajuda de muitas pessoas e também por seu talento e aplicação
manteve-se na escola convencional em sua cidade de origem, Caxias do Sul
(RS), até o ensino médio.

Na graduação em Porto Alegre, uma de suas professoras não percebeu que ele
era cego e perguntou: "Todos conseguem ver?". A que ele respondeu: "Eu não".
A mesma professora, Any Raquel Carvalho, passou a ser uma de suas principais
incentivadoras e começou a estudar braile. Nesta época, estudou também com o
maestro Antônio Carlos Borges-Cunha, regente da orquestra do Teatro São
Pedro de Porto Alegre. Em março de 2010, o Maestro Borges-Cunha foi
coorientador de Zattera na sua defesa de Doutorado na University of
Washington Seattle, nos Estados Unidos. "Ele me ajudou a escrever a
dissertação e discutir soluções. Mesmo não existindo tecnologia, aqui no
Brasil os professores sempre deram um jeito de eu aprender", lembra Zattera.

O musico lembra-se que quando se acidentou, apesar de não ter recursos
financeiros, sua mãe, viúva, extrapolou a perspectiva de ele não poder
estudar. Ela encontrou apoio em muitas pessoas que o ensinaram o braile, o
que fez com que ele ingressasse num colégio convencional. "A música foi a
principal responsável por minha integração com as pessoas. Já no colégio,
começou a compor e integrava grupos musicais", lembra Zattera.

Agora no pós-doutorado, a esperança de integração está na comunidade da
Unicamp, que acredita que a história de Zattera, assim como a de Fabiana,
atraia alunos e professores cegos a frequentarem a universidade. Para
Carrasco, a vinda de Fabiana e Zattera para a universidade depois de quase
45 anos de sua fundação mostra uma abertura para receber esses alunos, mas
ao mesmo tempo leva a refletir sobre a demora do Brasil em se organizar para
receber esses alunos em suas universidades, na opinião de Carrasco.

Fonte:
http://www.drvisao.com.br/noticias/3097-Avancos-na-Musicografia-Braille



Mensagem anterior por data: [Atped] V marcha da comunidade surda Próxima mensagem por data: [Atped] Afixação de prazo para apresentação à candidatura a bolsa de estudo por parte de estudantes não bolseiros
Mensagem anterior por assunto: [Atped] Fw: CORREIO DO MONDEGO Acordo Ortográfico: Manuais escolares em braille estão em falta Próxima mensagem por assunto: [Atped] Fw: CORREIO DO MONDEGO Deficientes vão ter linha de financiamento para obras