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[Histport] As espadas do DUQUE DE SCHOMBERG

To :   "histport" <histport@uc.pt>
Subject :   [Histport] As espadas do DUQUE DE SCHOMBERG
From :   José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>
Date :   Sat, 11 Jul 2020 20:23:04 +0100

Meus Caros Amigos 

Falo-vos hoje das ferramentas com as quais um Duque Alemão liderou
as Forças Portuguesas que reconquistaram a Independência de Portugal, no conturbado período da Restauração. 

Estou a reportar-me a duas espadas que se sabe terem pertencido ao DUQUE DE SCHOMBERG
(uma espada de cavalaria pesada e um estoque de requinto), que estão juntas,
na mesma vitrina, no salão do Museu Luso-Alemão.
A Guerra da Restauração (1640-1668) esteve quase perdida em 1660. Não
tínhamos mais armas, nem pólvora, nem soldados para equipar. O nosso inimigo,
a Espanha, estava com 3 guerras ao mesmo tempo. Uma contra a nossa rebeldia de já
não querermos mais espanhóis em nossa casa!; outra contra os catalães que se tinham
levantado contra seu jugo cruel e mais outra, contra seu vizinho:- a França.
Em pouco tempo acabaram duas destas três guerras. Os catalões foram vencidos
e os seus nobres publicamente garrotados como demonstração que ninguém tinha
o direito de se levantar contra Castela. A crueldade espanhola demonstrada
na Catalunha foi tanta, que ainda hoje separa estes povos, tornando difícil
a reconciliação! Em relação à Guerra contra a França deu-se um golpe
político interno que afastou o Cardeal que em tudo mandava. Isso
possibilitou a negociação entre as duas casas reinantes e, uma Princesa
Espanhola teve de casar com um Rei francês, e a Guerra acabou!
Imediatamente a Espanha tirou os seus dois exércitos dos Pirenéus e da
Catalunha e obrigou-os a marcharem para a Costa do Atlântico. O plano era
reuni-los com o exército espanhol que estava a lutar contra Portugal. Como
uma vassoura gigante queriam passar por cima "estes teimosos Portuguesas"
com a eterna "mania" de quererem ser livres e não obedecerem a Madrid.
A situação lusa estava muito grave! Ordens Religiosas houve que incitavam a
população a desligarem-se do Duque de Bragança e dos seus "sonhadores"
porque não teriam hipótese nenhuma de ganharem a guerra contra três
exércitos espanhóis ao mesmo tempo.
A pedido de Dom JOÃO IV deslocou-se então um diplomata português às cortes
europeias, à procura de apoio financeiro, armamento ou combatentes
voluntários para uma causa que definia o destino ou do renascimento de
Portugal ou da sua transformação em mais uma colónia castelhana.
O nosso diplomata encontrou em Paris um fidalgo alemão, no meio de um
pequeno grupo de amigos, todos combatentes sobreviventes da horrenda Guerra
dos Trinta Anos (1618-1648) que matou mais de um terço da população da
Europa Central. O Duque de Schomberg tinha visto o Palácio da Família a
arder (Heidelberg) e seu pai a ser enforcado por um bando de desertores em
pilhagem. Não possuindo mais nada a não ser a sua espada e a roupa que
trazia no corpo, alistou-se em exércitos onde honradamente conseguiu subir
os escalões militares. Ouvindo da CAUSA PORTUGUESA achou a justa e convenceu
os seus amigos de se alistarem com ele. A Espanha tinha seus espiões por
toda parte e mal souberam que Schomberg iria entrar no conflito interno
ibérico, optando pelo lado português, lhe ofereceram o dobro do soldo, se
passasse para o lado dos castelhanos. Schomberg respondeu que esta questão
não se ponha, porque a CAUSA DE PORTUGAL LHE PARECIA A MAIS JUSTA.
Mal apareceu em Portugal lhe foi destacado uma boa parte do exército luso
que em maior risco estava. Começou logo a combater nas primeiras linhas e
seu pequeno grupo causou tal espanto geral que muitos queriam combater ao
lado do alemão dos longos cabelos loiros. A fama das suas vitórias
sucessivas foi tanta que até as jovens, as senhoras e as freiras se
encantavam resolvendo equipar as figuras de roca nas procissões com vestidos
por elas feitas e com grandes cabeleiras loiras. Chamava-se isso "cabeleiras
à Schomberg", visto no povo como um sinal dos bons anjos de Guarda que se
tinham lembrado em ajudar a Portugal.
Facto é que de 1660 a 1668 Schomberg liderou o IMPOSSIVEL, um exército (já
mal visto porque roubava os porcos e as galinhas onde passava, simplesmente
para se alimentar), tornando-o numa fera relâmpago, que venceu os espanhóis
em batalhas atrás de batalhas, não ligando à grande superioridade numérica
dos três exércitos de Castela.
Estes resolveram mudar de táctica e a despedir os seus generais que perdiam.
Um "de los Grandes de Castilha" houve porém, que até gozava dos generais
caídos em desgraça. Trata-se do MARQUEZ de CARAZENA, que já tinha sido
Governador dos Paises Baixos Espanhois e se encontrava na Itália como
Vice-Rei. Madrid não se vergou à sua arrogância e deu-lhe a chefia sobre os
três exércitos lançados contra Portugal. Schomberg o venceu e o Grande
Marquez teve que fugir do Campo de Batalha vestido de mulher do campo.
A espada com a qual Schomberg ditou aos representantes do Governo de Madrid
de aceitarem a sua derrota e com a mesma darem o reconhecimento do retorno
da Independência para Portugal, tem nas suas guardas em latão trabalhado,
por quatro vezes repetido, o Brasão de Armas dos Duques de Schomberg.
Encontra-se hoje na vitrina ao lado do Estoque em ferro embutido a finos
fios de ouro, com lamina estreita, comprida, usado pelo mesmo Duque. Foram
guardadas num castelo da Irlanda, junto à ponte onde o Duque de Schomberg,
com 74 anos, já Marechal da França e da Grã Bretanha, morreu em combate.
Na vitrina em frente, sozinha, encontra-se a espada do Marquez da Carazena,
uma obra de arte de custo elevado, que porém não evitou que ele perdesse. É
interessante conseguir reunir na mesma sala as ferramentas de guerra com as
quais se escreveu a Restauração de Portugal em 1668.
Rainer Daehnhardt, Belas, 7-VII-2020.     

 


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