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ID da reunião: 963 9060 1151
Senha de acesso: 620237
Professor jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Resumo da conferência
«A designação de «Livro dos Mortos» é uma tradução moderna da expressiva locução egípcia Rau nu peret em heru (rw nw prt m hrw), que, à letra, vem a dar «Capítulos de sair para o dia», ou «Fórmulas para sair para o dia», ou ainda, numa forma porventura mais sugestiva, e que aparece amiúde em português, «Fórmulas para sair à luz do dia». As várias designações partem do título inicial, e hoje universalmente divulgado, que surgiu em meados do século XIX pela mão do egiptólogo alemão Richard Lepsius, que deu à compilação de fórmulas mágicas que estudou o nome de Todtenbuch. Desde que apareceram na Europa os primeiros exemplares em papiro julgou-se, de uma forma aligeirada, que o «Livro dos Mortos» seria uma espécie de Bíblia para uso dos piedosos Egípcios. E embora os especialistas desde cedo tivessem percebido que esse diversificado ritual de preparação para a outra vida, cujos capítulos figuravam habitualmente em papiros, em estatuetas funerárias, ou em sarcófagos de madeira ou de cartonagem, não era de modo algum uma Bíblia egípcia, essa ideia desvirtuada persistiu no imaginário do público. Mas a verdade é que não se podem fazer tais comparações ínvias, dado que esse «livro», onde ao longo de vários séculos se reuniram os mais díspares textos e gravuras, não é de facto uma Bíblia, nem tem nada a ver com o Corão. Além disso, não se trata de facto de um livro (no sentido habitual do termo) e nem foi feito apenas para mortos – os textos dos rolos de papiro, que também eram pintados nas paredes dos túmulos, seriam «lidos» como «textos de apoio», destinados a ajudar o defunto na sua incerta e difícil viagem rumo ao Ocidente e à Duat (o outro mundo, o paraíso, o Além), onde muitos capítulos do «Livro dos Mortos» iriam demonstrar, supostamente, a desejada eficácia que deles se esperava, mantendo o morto eternamente vivo.»
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