ASSOCIAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA COOPERAÇÃO EM ARQUEOLOGIA PENINSULAR (ADECAP) SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANTROPOLOGIA E ETNOLOGIA (SPAE) 9 JULHO 2022 15 h. (de Portugal) por zoom: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/82078725538?pwd=dDgxVWZNMyt5eUZTUHhVdzJPTUZmQT09 SOBRE UM PROBLEMA "BESTIAL": A RELAÇÃO HUMANO-ANIMAL CONFERÊNCIA ABERTA por Vítor Oliveira Jorge IHC-FCSH-UNL Problema tão antigo como o próprio ser humano: o que é um animal? O que é um ser humano? Homem e animal precisam um do outro de uma maneira primordial. Como se dá essa relação especular? Não se é humano sem se tentar a relação com o animal. Não se é animal sem o ser humano, último dos animais na história evolutiva das espécies, mas um animal provido da estranha capacidade de pensar todos os outros, atuais e extintos, e de os unificar sob essa designação mesma – “animal” - que o inclui a ele também. Mas...Caixa de Pandora aberta! Eterno debate entre os continuístas, que querem ver no humano apenas mais um animal, sofisticado sem dúvida (e assim anunciam triunfantes o fim da “excecionalidade humana”), e portanto abrindo a passadeira vermelha ao pós-humano e ao robô, e aqueles que, sendo também materialistas, não acolhem todo o Darwin tal-qual, mas pensam todavia que o humano não é apenas dotado de uma mente (de uma consciência, compreensível e modelizável pela neurologia, materializável pelas pesquisas da inteligência artificial, etc.), mas de um “espírito”, isto é, de um inconsciente. E essa invenção inaugural de Freud instala uma cesura definitiva na coisificação do humano, porque ele não é apenas o elemento de uma taxonomia, de uma zoologia, de uma história natural, mas articula-se, não na universalidade, nem na particularidade, mas na singularidade radical de cada sujeito. Cada ser humano subjetiva-se de uma maneira diferente de outro ser humano, convive com o enigma de si próprio e do Outro, qualquer outro. E inventa a esfinge para tentar circunscrever a sua estranheza, mas a própria esfinge também ignora, como qualquer um de nós, verdadeiramente o segredo (o vazio) que esconde (a fenda que a atravessa). Nós não sabemos o que estamos a fazer aqui, mesmo nas nossas atividades mais corriqueiras e habituais – é essa sensação de estranheza, ou inquietação, Das Unheimliche de Freud. E é com essa sensação que nos abeiramos do animal - mesmo do nosso animal de companhia, que afagamos, que nos afaga - do fundo do seu olhar, noite do mundo, espelho onde se reflete a nossa pergunta, ou seja, nada. _________________ Vítor Oliveira Jorge é presidente da direção das duas associações que organizam esta conferência. Professor catedrático aposentado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, é desde 2015 investigador integrado do Instituto de História Contemporânea da FCSH da UNL. |
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