João Monteiro de Meira (1881-1913) Nasceu em Guimarães, em 31 de julho de 1881. Era filho do médico Joaquim José de Meira, personalidade de grande relevo na política e cultura vimaranense. Estudou em Guimarães, no Colégio de S. Dâmaso, instalado no Mosteiro de Santa Marinha da Costa. Ingressou na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, concluindo os seus estudos em 1907, com a apresentação da Dissertação Inaugural intitulada O concelho de Guimarães (estudo de demografia e nosografia), que foi avaliada pelo júri com 20 valores. Recebeu inúmeros elogios, que ultrapassaram a esfera da medicina e chegaram a ilustres intelectuais da época, como Ramalho Ortigão, Teófilo Braga ou Henrique da Gama Barros. Regressou a Guimarães, iniciando a sua atividade na medicina e no ensino, tendo sido aprovado em concurso para professor provisório no Liceu-Seminário de Guimarães. Em 1908, concorreu, com sucesso, a uma posição na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, tendo apresentado a tese O Parto Cesáreo: sua história, sua technica, seus acidentes e complicações, suas indicações e prognostico. Assumiu assim o posto de lente substituto de Cirurgia, apenas com 26 anos. Dois anos mais tarde, sucedeu ao seu mestre Maximiliano Lemos na regência da cadeira de Medicina Legal e como Diretor da Morgue do Porto. Desde a sua juventude que colaborava com inúmeros periódicos locais e nacionais. Nessa época, tornaram-se famosos os seus textos satíricos e os poemas que publicou sob pseudónimos. Foi também um importante colaborador da Revista de Guimarães, onde publicou alguns dos mais lúcidos estudos sobre a história vimaranense. Já como professor na Escola Médico-Cirúrgica, publicou uma grande variedade de trabalhos científicos em diversas revistas da especialidade, colaborando também na direção dos Arquivos de História da Medicina Portuguesa. A Sociedade Martins Sarmento, em 1912, reconhecendo o mérito dos seus trabalhos históricos nomeou-o para suceder ao Abade de Tagilde na organização e publicação dos Vimaranes Monumenta Historica. Não pôde continuar estes projetos pois, entretanto, adoeceu, acabando por falecer, com 32 anos, em 25 de setembro de 1913. Tendo sido homenageado com a atribuição do seu nome a uma rua e a uma escola, para além de vários eventos culturais e científicos, João de Meira, continua a ser pouco mais do que um nome para a maior parte dos vimaranenses. Por isso, a maior honra que se lhe pode conferir é a divulgação da sua obra, em que se conjuga um espírito brilhante, com o rigor científico, abrindo perspetivas inovadoras em diversas áreas do conhecimento. Tudo isto, além do mais, com um estilo literário que prende a atenção do leitor. O Concelho de Guimarães. Estudo de demografia e nosografia Cumprindo um dever, a Sociedade Martins Sarmento decidiu reeditar a obra O Concelho de Guimarães. Estudo de demografia e nosografia, da autoria de João de Meira, publicada originalmente em 1907, correspondendo à Dissertação Inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Esta obra tem uma dupla dimensão, em primeiro lugar histórica, empreendendo uma original história do concelho de Guimarães, alicerçada, pela primeira vez, num estudo rigoroso dos documentos históricos disponíveis e não, como até aí era habitual, na repetição acrítica das lendas e narrativas dos antigos monógrafos vimaranenses. Grande parte dos exames e conclusões de Meira mantêm-se atuais, pelo que, nem que fosse somente por esta razão, a reedição desta sua obra e a sua divulgação estaria plenamente justificada. Acresce ainda que Meira tem uma perspetiva moderna sobre a forma como deve ser escrita a História de Portugal, nas suas palavras, não deve ser a «estéril e sêcca enumeração dos seus reis, mas a chronica do povo anonymo, até hoje quasi esquecido dos historiadores e, o que é peor, bastas vezes calumniado.»[1] Uma segunda dimensão tem a ver com o estudo nosográfico do concelho de Guimarães, ou seja, do conjunto de doenças que mais afetavam os seus habitantes no início do século XX. Para este capítulo, concorrem todos os outros: geologia, climatologia, cultura, antropologia e população. Analisa profundamente, com recurso a dados estatísticos que recolheu no Hospital da Misericórdia e a inquéritos que promoveu, as patologias mais comuns no concelho, com particular incidência na pelagra, doença muito comum nas terras minhotas e de que, nessa época, não se conhecia nem a etiologia, nem o tratamento. A atenção dedicada a esta doença cruza-se, de certo modo, com a perspetiva que Meira enunciava sobre a História de Portugal. Também aqui, o que o move é tentar compreender e auxiliar os mais pobres, o grupo social mais atingido por esta doença. |
Mensagem anterior por data: Re: [Histport] Lançamento de livro sobre Arquitectura dos Sanatórios - História | Próxima mensagem por data: [Histport] revista Zeus |
Mensagem anterior por assunto: Re: [Histport] Sobre a Igreja de S. Gião (Nazaré) - como se cometem tantos erros | Próxima mensagem por assunto: [Histport] SPAE - Calendário de palestras em 2024 |