«Nos finais do século XIV, as cortes europeias desenvolvem uma nova prática emblemática que utilizam em complemento da heráldica. Esta, circunscrita aos brasões, já codificada e seguindo um esquema rígido de ordenação de cores, metais e figuras estilizadas, não satisfazia a necessidade de um novo tipo de emblemas, com representações imagéticas subordinadas a novos interesses.Assim, e como refere Hablot, entre o fim da Idade Média e o início do Renascimento, a livre figuração de animais reais ou imaginários, plantas diversas, objectos do quotidiano, armas e ferramentas, surgiu como complemento ao uso da heráldica, através da adopção de empresas.
Estas empresas, ligadas a uma expressão pessoal do seu possuidor, tomam a forma de uma imagem, a que se pode juntar uma alma (conjunto de palavras) que dá significado à empresa.
Amplamente usadas pelas casas governantes da época, tornam-se instrumentos de comunicação eficazes e facilmente identificados, como podemos verificar pela empresa de D. João II, cuja alma “Pola lei y pola grey” ainda é utilizada nos nossos dias.
Também os ex-libris europeus, surgidos no século XV, e com ampla utilização a partir do século XVI, como verdadeiras marcas de posse de livros, se vão desenvolver através da identificação pessoal ou institucional, do uso de imagens (de início maioritariamente heráldicas ou alegóricas) a que se pode juntar uma alma ou mote.
É essa complementaridade entre o uso da alma tanto nas empresas como nos ex-libris, que colocamos aqui como hipótese de estudo, analisando as formas como são usadas.».