A SPAE – SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANTROPOLOGIA E ETNOLOGIA ORGANIZA A SEGUINTE CONFERÊNCIA ABERTA, POR ZOOM NO DIA 8 DE JULHO DE 2024, 21,30 H (HORA PORTUGUESA) Por CRISTIANA BASTOS SOBRE: A produção de “raça” pela economia de plantação: uma noção contraintuitiva? Descrição da Palestra Apesar dos manifestos antirracistas que se seguiram à segunda guerra mundial, da luta pelos direitos civis, da demonstração científica da irrelevância da categoria “raça” na biologia, dos esforços educativos de agências internacionais e associações, o racismo persiste nas sociedades contemporâneas como força estrutural de exclusão e violência, muitas das vezes fatídica. Ultrapassados que estão os mitos luso-tropicalistas sobre o pretenso menor racismo das sociedades de influência portuguesa, debate-se hoje em Portugal com mais clareza o poder e impacto dos legados coloniais e do tráfico escravista. Esses debates, porém, não vão suficientemente longe ao manterem uma referência naturalizada a racialidades, remetendo para uma injustiça moral e política a dominação colonial e atividades correlatas (tráfico, subjugação, escravização, etc.). A minha proposta analítica pretende ir mais longe, e mostrar como “raça” e racialidades são um efeito do tráfico que alimentou o sistema de plantação nas Américas e Antilhas ou Caraíbas. Por outras palavras, apesar de existirem nomenclaturas de cor por todo o mundo e há milénios, a estrutura racial hierarquizante correlata ao tráfico escravista não o precede: resulta deste. Efeito ideológico do sistema produtivo, inscreveu-se nas pseudociências racialistas que o legitimaram e resiste na sociedade mesmo quando expulso da ciência, requerendo a sua superação muito mais que campanhas pedagógicas e cívicas: por um lado, legislação antirracista mais robusta; por outro, muito mais investigação histórica e trabalho analítico. Nesta apresentação vou trazer algum trabalho histórico e analítico desenvolvido no projeto “A Cor do Trabalho” sobre o mecanismo de racialização na plantação. Tendo testado a hipótese em situações de plantação, ou para-plantação, depois da abolição do tráfico atlântico escravista e com outros contingentes (vinculados, contratados, sequestrados, etc.), apresentarei exemplos da economia do açúcar e legados racializados nas Guianas, Havai, Maurícia, Fiji e outros. Sobre a palestrante Cristiana Bastos é antropóloga e investigadora-coordenadora no Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa. Trabalha na convergência de antropologia e história, com interesses principais em estudos de população, saúde pública, epidemias, produção e circulação do conhecimento médico, racializações e, nos últimos anos, sociedades de plantação e relações humanos-plantas. Pesquisou no Brasil, Estados Unidos, Goa, Guiana, Havai e Sul de Portugal. Os seus trabalhos estão disponíveis em https://cristianabastos.org/ ehttp://colour.ics.ulisboa.pt/. É atualmente presidente da Associação Portuguesa de Antropologia e membro do Comitê de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Antropologia. A imagem patente no cartaz apresenta o monumento aos trabalhadores javaneses, plantação de Marienburg , Suriname, foto Cristiana Bastos 2022. |
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