Sinopse
«Resumo da conferência: O interesse pelas questões da alimentação em Portugal, enquanto produto histórico, é algo recente, em que, no traçar da sua genealogia, se pode colocar os finais do século XIX como o marco inicial. Nas décadas seguintes, um conjunto de mecanismos foram usados para veicular uma certa ideia de identidade nacional, tecida em torno dos hábitos e práticas alimentares. Nesse aspeto, o Estado Novo tornou-se um período particularmente rico na conjugação desses fatores, em que se jogavam elementos de ordem económica, social e cultural, contribuindo para a formatação de um discurso que, em certo
sentido, desemboca numa noção de gastronacionalismo. Há três alicerces em que esta mesma noção se baseou: a agricultura, como esteio económico fornecedor de matérias-primas alimentares; a diversidade geográfica nacional; e a exaltação da singularidade de certas regiões na especialização produtiva de culturas agrícolas. É na identificação, na procura da fundamentação dos discursos propagandísticos e na fixação de um receituário que se recorreu às formas modernas de comunicação de massas, fossem eles cartazes, postais, documentários, filmes, entre outros. Com base neste enquadramento e recorrendo a um variado conjunto de fontes impressas, pictóricas e cinematográficas, com esta apresentação procuramos contribuir para uma incursão analítica cruzada entre a história da agricultura e a história da alimentação no Portugal contemporâneo, observada através do prisma cultural e das materialidades existentes para o período ditatorial.
«Leonardo Aboim Pires é Licenciado e Mestre em História pela NOVA/FCSH. Frequenta o Doutoramento em Ciências da Sustentabilidade no ICS/UL. É investigador do Gabinete de História Económica e Social (GHES/CSG – ISEG/UL). É membro da equipa do projeto ReSEED – Rescuing Seed’s Heritage, financiado pelo European Research Council (Stg GA760090) e da European Rural History Organisation. As suas áreas de investigação têm sido a história rural e agrária, a história ambiental e a história da alimentação, com especial enfoque na transformação social e desenvolvimento económico dos espaços rurais entre os séculos XVIII e XX em Portugal.
Também desenvolveu estudos sobre corporativismo, interesses organizados e o Estado. Desde 2016 publicou c. 40 artigos, recensões e capítulos de livros em revistas e livros coletivos nacionais e internacionais e 14 verbetes em enciclopédias e dicionários.».