Teodomiro Neto, historiador, dramaturgo, ensaísta, jornalista e professor universitário, morreu ontem, aos 92 anos, no Hospital de Faro. Nascido a 20 de setembro de 1933 em São Bartolomeu de Messines, foi estudar para Faro aos 16 anos. Segundo o jornal «Folha de Domingo», trabalhava de dia e estudava à noite. Foi por intermédio do médico Arnaldo Vilhena, anti-salazarista, que Teodomiro Neto começou a colaborar, em 1958, com semanário “O Algarve”. Em 1962, porque a Censura não o largava e descontente com a ditadura, saiu de Portugal. Passou por cidades europeias como Genebra, Paris, Lyon, Saint-Étienne, Bruxelas, Siracusa, Varsóvia, Tunis (capital da Tunísia, já no Norte de áfrica). Nessas suas andanças, exerceu muitas profissões, mas acabou por licenciar-se em História, tendo-se depois doutorado em História Política Europeia e sido professor universitário. Depois da sua estreia n’«O Algarve», escreveu em inúmeros jornais, nacionais e regionais, como o “Correio do Sul”, o “Jornal do Algarve”, o “Diário de Notícias”, o “Barlavento”, o “Jornal de Letras”, o “Olhanense”, a “Folha de Domingo, ou o “Terra Ruiva”, da sua terra natal. Em França e na Suíça, escreveu para os jornais “La Gazette de Genéve”, “L’Espoir” e “Aujourd’hui”. Publicou, também em língua francesa, os seus primeiros livros: “Les Noces de Manolo”, “La Nuit de Marie Dumas”, “Poèmes de Marbre” e a biografia de “Jules Massenet”. Privou, em termos profissionais ou mesmo de amizade, com personalidades como Pablo Neruda, as irmãs Beauvoir, o comediante e encenador Jean Dasté ou os pintores Pablo Picasso e Carlos Porfírio. Em 1974, depois do 25 de Abril, regressou a Portugal, mas manteve sempre a sua atividade na universidade, em França, dividindo a sua vida entre Faro e Saint-Étienne. No Algarve, foi colaborador assíduo Anais do Município de Faro entre 1977 e 2009. Defensor e divulgador da cultura no e do Algarve, senhor de uma enorme biblioteca particular, quando se aposentou das suas funções de professor universitário em França, ajudou a divulgar nomes como António Ramos Rosa, Ataíde Oliveira, Cândido Guerreiro, Carlos Porfírio, Emiliano da Costa, Emílio Coroa, Francisco Gomes do Avelar, João Lúcio, Joaquim José Rasquinho, Justino Cúmano, Manuel Martins, Maria Campina, Mário Lyster Franco, tendo organizado palestras, conferências, escrito livros, como “O Último Concerto de Maria Campina” (1988), “Carlos Porfírio na pintura contemporânea algarvia” (1992), “Café Aliança – Sua História – Suas Fotografias” (1995) (reeditado em 2008 no centenário daquele espaço de forma mais completa com o título “Café Aliança – 1908-2008 – Um século de história da cidade”). Entre a investigação histórica, o ensaio, a ficção ou a dramaturgia, foi ainda autor de “Faro no Verbo Amar” (1998), “Teatro na História do Algarve” (2007), “Faro: Romana, Árabe e Cristã” (2009), “O Futurismo Oficializou-se em Faro com o Heraldo” (2010), “As tentações de Maria Lua” (2011) ou “Cidade Monumental” (2012). No teatro, encenou diversas obras suas, mas também colaborou com o grupo de teatro «Penedo Grande», de São Bartolomeu de Messines. «Vitória das Amendoeiras», no Castelo de Silves (1994) e «O Processo do Guerrilheiro» (1999, reposto em 2006) foram as peças que encenou com o grupo da sua terra natal. Toda esta atividade levou a que, ao longo da sua vida, tenha sido agraciado com diversos prémios, como o Prémio Nacional do Teatro, o Prémio de Imprensa Samuel Gacon, o Prémio Infante D. Henrique, o Prémio Internacional de Imprensa, ou o Prix Antoine Guichard. Em 1993, foi agraciado pela Câmara de Faro com a Medalha de Mérito – Grau Ouro. A Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines distinguiu-o em 2009, juntamente com outras 22 personalidades, na exposição “Notáveis Messinenses: Vivências e Contributos”. A autarquia também atribuiu o seu nome a uma rua da vila. «Enorme defensor do Património, Teodomiro Neto foi uma personalidade que estudou o passado para ajudar a entender o presente e a projetar o futuro», escreve o jornal «Folha do Domingo». «Exemplo dessa sua visão futurista foi a determinação com que defendeu a criação da Universidade do Algarve com dezenas de entrevistas publicadas sobre o tema no “Jornal do Algarve”, a mesma com que sugeriu a criação de um Museu da Imprensa em Faro, cidade-berço em Portugal da invenção de Gutenberg ali recriada pelo judeu Samuel Gacon, que nos últimos anos tem conhecido alguns passos no sentido da sua concretização», acrescenta o jornal. Segundo o «Folha do Domingo», o funeral de Teodomiro Neto será realizado na próxima sexta-feira, 14 de novembro, às 10h30, na igreja nova de São Luís de Faro, e o corpo será sepultado no Cemitério Novo da cidade. [Transcrito, com a devida vénia, de Sul Informação, edição de hoje, 13-11-2025]. |
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