A patrimonio.pt publicou a crónica de Luís Raposo Tempos de Máscaras…, evocando um outro tempo (não tão longínquo) em que o uso de "máscaras" teve causas diferentes da crise sanitária que agora atravessamos. O texto fala-nos de Francisco Valença (1882-1963), ilustrador caricaturista e funcionário público, que incorporou a vida dupla que, em tempos de privação da liberdade, obrigou muitos ao uso de máscaras... Em finais dos anos 20 do século passado, mais exactamente em 1928, o ardina do “Sempre Fixe” foi obrigado a usar sapatos, porque à Ditadura recentemente imposta, e dita “Nacional” nesse ano (deixando pudicamente de se auto-designar “Militar”), parecia mal expor a verdade dos pés-descalços. Na primeira página, (...) Francisco Valença fez caricatura mordaz, dizendo “Levantai hoje de novo O esplendor dos sapateiros”. Desde dois anos antes Valença vinha insistentemente clamando contra as máscaras impostas pela a censura. (...) Era assim a vida de quem era obrigado a usar máscara e a ter duas vidas em paralelo: a da actividade criativa e o trabalho de retaguarda, que idealmente seria confinado dentro de horários e rotinas monótonas. (...) Depois de 1974 pudemos deixar cair as máscaras mais evidentes, mais opressivas. Mas nunca elas desaparecem por completo, em qualquer sociedade. Na nossa, fomo-las incorporando subtilmente nos limites que nos impomos a nós próprios (...) e aprisionámo-nos em comportamentos “politicamente correctos”, mesmo quando aparentemente os declaramos de ruptura. Até na linguagem isso se vê: abandonamos amiúde as palavras de carga simbólica mais pesada, “revolução”, “povo”, “militante”, “trabalhador”… substituindo-as por outras aparentemente inócuas, “disrupção”, “comunidade”, “activista”, “colaborador”… E, sim, tendemos a viver cada vez mais anestesiados, dentro de “bolhas” de individualismo, de tribalismo ou de “vã glória de mandar”. (...) Possam estes últimos tempos de máscaras despertar novamente em nós esse sentimento de desconforto vigilante em que sempre devemos estar quando se trata de pensarmos o que fazemos na vida. E de como a beleza desta se encontra umbilicalmente ligada ao exercício tanto da Liberdade em abstracto, como de todas as liberdades concretas, das do direito à fala até às do direito ao trabalho, aquelas que afinal sentimos no dia-a-dia. Leitura imperdível, na íntegra em www.patrimonio.pt Siga-nos: Facebook, Twitter, Instagram, YouTube |
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