Não sei quem terá inventado a ideia de cada museu destacar a peça do mês. Se por um lado chama a atenção para um elemento do seu acervo, dá a impressão de que um museu é uma coleção de peças, cada uma das quais vale por si. Ora, não é essa a concepção que eu tenho de museu, que é uma máquina memorial por detrás da qual devem estar projectos amplos, ideias, ilustradas por conjuntos coerentes de objectos de todo o tipo, sim, mas ideias, como aliás acontece nas exposições temporárias.
Por exemplo, uma vez vi em Paris uma exposição fantástica, com um título inspirado naqueles avisos das passagens de nível ferroviárias: "Atenção que um comboio pode esconder outro". Chamava-se "Atenção que uma imagem pode esconder outra". Era uma exposição para ser vista, pensada, lida, revista, etc. Era uma exposição de Ideias, e não de fetiches.
Fetichizar o objeto museal é fácil e ... é triste e pobre.
Vítor O. Jorge