Faleceu ontem, dia 8, pelas 22 horas, na Casa de Saúde da Idanha — Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, em Belas, onde estava internado, o Doutor José Maria Pedrosa Cardoso, professor aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.Natural de Guimarães (28 de Março de 1942), Pedrosa Cardoso formou-se em Filosofia e Teologia, em Valladolid e Munique (1962-1969); estudou Pedagogia e Didáctica Musical com Edgar Willems e Jos Wuytack, Direcção Coral com Michel Corboz e Pierre Salzmann; fez o curso geral de Piano pelo Conservatório de Música do Porto; foi dos primeiros licenciados em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa. A partir de Janeiro de 1987 e até 1989, acumulou a docência na Universidade Nova de Lisboa e no Conservatório Nacional com o cargo de assessor de João de Freitas Branco na direcção artística e de produção do Teatro Nacional de S. Carlos. Entrou para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 1992, como assistente estagiário, para leccionar a cadeira de História da Música. Aí passou a exercer prioritariamente a docência, mais tarde alargada ao Mestrado em Ciências Musicais e ao Curso de Estudos Artísticos, que veio a dirigir na área da. Doutorou-se em Ciências Musicais Históricas e fez a agregação na mesma área científica. Integrou, como investigador, o Centro de Estudos Clássicos da sua Faculdade de Letras. Música até à sua aposentação, em 2009. Conferencista convidado em Portugal e no estrangeiro, falava sobretudo da sua especialidade: a música sacra e a música histórica portuguesa. Embora com incursões na música contemporânea, com estudos sobre Luiz de Freitas Branco, António Fragoso e Fernando Lopes Graça, a sua pesquisa musicológica seguiu prioritariamente a pista aberta por Mestre Santiago Kastner, um músico estrangeiro consagrado em Portugal que chamou várias vezes a atenção para uma verdadeira especificidade da música portuguesa dentro do quadro europeu. Tem pautado a sua investigação pela busca da singularidade da música histórica portuguesa, um caminho aberto na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e percorrido em todos os principais arquivos nacionais e estrangeiros. Entre as iniciativas que tomou no âmbito musical, podem citar-se: a fundação, em 1976, do Grupo Coral de Lagos, que dirigiu até 1981, com o qual desenvolveu vasta acção cultural através de todo o Algarve, com digressões pelo país e gravações para a RTP e RDP; a fundação, em 1977, da Escola de Música do Grupo Coral de Lagos, que dirigiu até 1981; a criação, também em 1977, com o Coral de Lagos e com o Coral Ossónoba de Faro, do Festival de Coros do Algarve que se mantém até ao presente; a criação, em 1979, os Cursos Musicais de Férias de Lagos, com a colaboração de alguns dos melhores professores portugueses, com os quais se estabeleceu na cidade de Lagos uma dinâmica concertística rara durante seis semanas de Verão, Cursos que dirigiu até 1983. Escreveu as seguintes obras:
E, nesse aspecto, merece grande realce uma obra, bilingue, que particularmente lhe agradou publicar: O Grande ‘Te Deum’ Setecentista Português, de 363 páginas, editado pelo CESEM e pela Biblioteca Nacional de Portugal, em cujo Auditório decorreu, a 9 de janeiro de 2020, a apresentação, a cargo de Manuel Pedro Ferreira e de David Cranmer. A sessão contou ainda com a demonstração musical de um trecho dos Grandes Te Deum, a cargo de David Cranmer e de Manuel Rebelo. Continuou muito activo, mesmo após a sua aposentação. Recentemente programou, por exemplo, e foi director artístico do Festival de Música Religiosa de Guimarães, realizado no período da Semana Santa. Foi homenageado pela Câmara Municipal de Lagos, tendo recebido a Medalha de Mérito Municipal, grau ouro, pelos serviços prestados à cidade, no âmbito da cultura musical, durante 40 anos. Estava casado com a Professora Manuela Pedrosa Cardoso, a quem endereçamos – bem como à demais família – os nossos mais sentidos pêsames. Foi, sem dúvida, exemplar o seu acompanhamento ao marido. A 14 de Novembro escrevia ao grupo que se formara para ir sabendo da evolução do doente, então já na Unidade de Cuidados Paliativos de Idanha (Sintra): «Não pode receber visitas, apenas eu o posso ver. Está sereno, sem dores, muitíssimo cansado. Preparado para a viagem onde será recebido pela PAI CELESTIAL. Ontem escrevi a seu pedido as músicas que se vão ouvir na sua partida, no velório. Pediu que fosse feito silêncio e nada de LÁGRIMAS. […] Fiquem tranquilos, porque a PAZ está connosco. Darei notícias». Bem haja, Dra. Manuela, por este testemunho de… vida! Que descanse em paz quem, na verdade, logrou, ao longo de toda a sua existência, combater o bom combate! José d’Encarnação |
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