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[Museum] A nova definição do ICOM e os “museus-não-museus”

To :   museum <museum@ci.uc.pt>
Subject :   [Museum] A nova definição do ICOM e os “museus-não-museus”
From :   Luís Raposo <3raposos@sapo.pt>
Date :   Mon, 12 Sep 2022 09:03:25 +0100

A nova definição do ICOM e os “museus-não-museus”
(hoje na edição digital do Público, em dia de prioridade apd obituários na edição em papel, com novas roupagem e nova titulação)

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Aqui, como em geral, tenho para mim que, na ausência de um “progressimómetro”, mais do que palavras, será a vida que determinará a adequação e natureza desta nova definição de museu. E por isso cuidei de promover aquele que foi o primeiro Encontro Internacional pós-Praga em que explorámos as suas potencialidades, num domínio a que atribuo especial importância: o dos museus comunitários.

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No final, para mim, como disse a colega equatoriana que me perguntava o que tinha retirado desses dias, ficou o reforço de uma convicção antiga: os museus não são assim tão importantes. O importante é a vida, a felicidade, e, se falamos de dimensão social, é a capacitação libertadora (outros dirão empoderamento) do povo (outros dirão comunidade). Ora, estes objectivos podem alcançar-se sem recurso ao museu, mesmo apenas no plano da cultura: por associações, grupos de teatro, cineclubes, centros culturais, bibliotecas, etc. A haver museu, ele deve ser museu, quer dizer, deve possuir os acervos e os saberes que lhe são próprios. Deve saber cumprir as funções específicas dos museus: estudar, conservar, divulgar colecções.

Claro que deve fazer tudo isto com o mesmo espírito de serviço de quaisquer outras ferramentas postas ao serviço do desenvolvimento e sobretudo da emancipação cidadã. Mas só será relevante como museu, se se mantiver museu.

Convertendo-se “somente” em lugar de encontro e debate cívico, por exemplo, abdicando da centralidade e poder interpelante das suas colecções, deixando-as mudas, esquecidas, pode até ser mais útil (pelo menos no curto prazo), mas então é melhor que pense em morrer com dignidade, antes que outros acabem com ele - como aconteceu no caso de insucesso de museu espanhol que referi no Encontro: após uma década de consagração à “movida” e ao debate cidadão, com alheamento das funções primordiais relativas ao seu acervo, foi considerado dispensável quando passou a existir um centro cultural bem infra-estruturado, tendo sido encaixotado, sem ninguém se levantar em sua defesa.

Passa-se com os museus o que se passa com as pessoas: nada mais triste do que querer impor a sua presença quando ninguém a requer. É certo que, sobretudo nesta época de equívocos, de linguagem policiada, mas de plástico e profundamente alienante na sua suposta “neutralidade” (activista em vez de militante, comunidade em vez de povo, colaborador em vez de trabalhador, disruptivo em vez de revolucionário, empreendedor em vez de capitalista, pós-colonial em vez de neo-colonial, etc.), quem quiser aliviar consciências, fazendo acção social, é sempre bem-vindo. Mas não tem de se agarrar ao museu como a lapa à rocha que lhe garante segurança e sobrevivência.

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